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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

15.- Raquel é “Sora” e Deutsche Lehrerin

Porto Alegre Ano 5 # 1595

Manhã radiosa e já não tão fria como o começo da semana. Na constelação familiar: alegrias pela chegada da Júlia e do Benjamin, de Paris, onde vivem, para passar as festas.

Três notas antes de contar que existem pessoas que superam adversidades aparentemente intransponíveis. Sem pai nem mãe, internada nas Aldeias SOS, Raquel dos Santos chegou à universidade e tornou-se fluente em alemão. Aos 28 anos, morando em Porto Alegre , é a personagem de hoje depois de já ter trazido a história de Ana e de Marivaldo.

A propósito da campanha de livros para a Escola de Pedra Lascada, contada ontem aqui, eis a mensagem de um Editor: Leonardo, sei que vais enviar alguns livros "ponta de estoque" a pedido do professor Chassot. Podes incluir nesse pacote mais um exemplar de cada um dos seguintes títulos: Rotas críticas; A pena e o espartilho; Vai chover no...; Ginástica laboral; (Bio) Ética ambiental; Justiça e memória; Digitalização e práticas sociais. Isso. Grato. CAG. Respondi: Meus caros Gianotti e Leonardo, os gestos de vocês transformam-se no meu maior presente de Natal. Muito obrigado prenhe de gratidão, AC

ƒ Foi muito bom o retorno ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos depois de quase 2 anos. O acarinhamento de colegas e funcionárias comoveu-me. A visita a Editora, até para agradecer ao Gianotti e ao Leonardo o que está acima foi gostoso. Aé voltar a agência do Correi teve significados,

ƒ DOR & DESILUSÃO // ALEGRIA & FLAUTA assim é aqui em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Metade da população sofria com a prematura eliminação do Internacional no maior circo montado em Abu Dabi no mundial de clubes e a outra metade quase varou a noite festejado a derrota de seu arquirrival. Somos campeões no rivalizar polaridades.

Eis a prometida história de hoje, trazido de um jornal do fim de semana. Raquel Oliveira dos Santos entra na sala de aula sobraçando a pilha de livros e cadernos, lança um olhar que abarca o conjunto dos estudantes, sorri com aparelho ortodôntico à mostra e cumprimenta:

– Boa noite, alunos! Como foi o dia de vocês?
A voz melíflua prepara a turma de adolescentes para mais uma lição de português do Ensino Médio. Aquelas matérias supliciantes, tipo voz passiva, objeto direto e indireto, hífen e crase – motivos de dor de cabeça e boletim no vermelho –, deixarão de ser insondáveis. Ex-interna das Aldeias Infantis SOS até os 19 anos, Raquel agora cumpre estágio de professora no Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre. Cursa Letras na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), pretende se formar ano que vem.
Que não se duvide de Raquel, cuja suave persistência vem derrubando obstáculos. Ainda bebê, foi colocada nas Aldeias SOS da Capital. Daquelas pessoas que se aferram a oportunidades e não desapontam eventuais benfeitores, aproveitou bolsas para estudar alemão no Instituto Goethe e no Instituto de Formação de Professores de Língua Alemã (Ifpla), da Unisinos.
Outros talvez desistissem no caminho. Raquel não conseguia acompanhar as aulas como gostaria, mas não esmoreceu. Foi então que apareceu um dos seus anjos da guarda de carne e osso – um dos tantos que a socorreram na orfandade. Da Alemanha, recebeu um convite para visitar Rita Hofstetter, sua protetora nas Aldeias SOS. Pelas regras da instituição, estrangeiros adotam crianças brasileiras à distância.
Raquel permaneceu um ano na cidade de Heidelberg, voltou a Porto Alegre no final de 2006. Ficou tão fluente que passou a dar aulas particulares de alemão. No seu cartão de apresentação, consta Deutsche Lehrerin (professora alemã). Seus pupilos têm o perfil de quem tenciona se aprimorar na língua de Thomas Mann e Nietzsche.
Aos 28 anos, solteira, morando em Porto Alegre, Raquel se desdobra. Faz traduções de textos em alemão, recentemente verteu ao português uma obra sobre a psicanálise de Freud. Também dá aulas particulares de língua portuguesa, especialmente a candidatos de concursos na área jurídica.
Na Unisinos, quando não está na Faculdade de Letras, participa do programa Ensino Propulsor. Ajuda outros colegas – dos cursos de Física, Química, Direito, Jornalismo – a resolver dúvidas em português. Estudante e professora ao mesmo tempo, Raquel se realiza duplamente.

– Sou incentivada por meus professores e incentivo os meus alunos. Isso incentiva a mim mesma. Minha meta é ser feliz na educação – destaca.
A trilha é de suor e superação. Mas Raquel faz questão de agradecer a suas madrinhas, como a advogada Maria Marta Severo, que auxilia financeiramente, e a ortodontista Karina Becker, que lhe corrigiu a dentadura, libertando o sorriso que hoje encanta os alunos. Sem pai nem mãe, de familiares pobres, precisou do empurrãozinho da generosidade alheia para chegar à universidade e aprender alemão.
Raquel sabe que a situação dos professores é pouca animadora, para não dizer aflitiva: salários injustos, escolas sucateadas, estudantes agressivos, pais permissivos, traficantes de drogas à espreita. Mas é no magistério que deposita os sonhos. Adora ser chamada de “sora” pelos alunos. Foi elogiada, no estágio no Instituto de Educação, pela postura, pelo domínio da classe, a forma correta de se expressar, o didatismo. E não se confunda doçura com frouxidão, que Raquel não tolera desrespeito e bagunça.
Os estudantes aprovam o estilo Raquel de educar. Enviam mensagens e elogios, como este registrado por um menino de 13 anos:

– Não que eu seja burro, mas desde o ano passado não entendia sujeito simples e oculto. Mas, com a chegada da “sora” Raquel, eu entendi. Beijos.

Uma quarta-feira neste término da primeira quinzena de setembro. Amanhã, provavelmente nos leremos aqui, uma vez mais. Até então.

2 comentários:

  1. Mestre!
    Não posto comentarios...mas estou aqui...é muito bom ler as historias de superação.
    Tambem tento me superar .."in improve may Englisch vitht frient from USA" Como tambem estudei vários termos em alemão, eles me confudem...mas vamos tentar se superar...
    Com continuada admiração
    Elzira Maria

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  2. Muito querida Elzira,
    é sempre maravilha ter te aqui. Encanta-me esta tua superação no inglês para receber alienígenas que te chegam.
    Um afago muito querido e cheio de saudades
    attico chassot

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