Porto Alegre Ano 5 # 1608 |
Esse período entre Natal e Ano Novo, tido como o ‘tempo das festas’ é como um aperitivo das férias. Passado este, os docentes da maioria das universidades têm duas semanas de atividades, usualmente marcadas por bancas, seminários etc, para depois fruir-se 30 dias de férias. Estas se encerram, este ano, com olho no carnaval, três semanas depois.
Dentro do ciclo de festas, na noite de ontem, a Gelsa e eu recebemos nos jardins da Morada dos Afagos para um jantar a Júlia e o Benjamin. Eles nesta sexta-feira retornam, depois de duas semanas, à Paris onde moram. Foi muito bom tê-los para alguns momentos na noite de temperatura agradável.
Mas este é um período de balanços. No Brasil este é significativo. Terminamos 8 anos de governo Lula. Assunto isto ainda esta semana.
Hoje queria trazer outro balanço. Antes devo contar que, no primeiro semestre de 2002, então vivendo em Madrid, uni-me a uma infrutífera campanha internética contra a escolha de José Alencar como candidato a Vice-Presidente na chapa com Lula. Protestávamos contra a juntada de um rico empresário, ‘dono’ de um partido nanico, esta com posturas altamente criticáveis, fazendo dupla com um operário.
Enquanto Lula termina o mandato como recordista em popularidade, o vice-presidente da República, José Alencar, chega ao fim tendo como maior proeza justamente o fato de ter chegado até aqui. Desacreditado pelos prognósticos médicos, o empresário milionário que ajudou o torneiro mecânico a conquistar a confiança do mercado financeiro para chegar ao poder em 2003 acabou se transformando em um exemplo de luta ao resistir com valentia a um câncer na região do abdômen. Nos últimos dias, o país tem acompanhado apreensivo aos boletins do Hospital Sírio-Libanês sobre seu estado de saúde, mas até ontem Alencar permanecia confiante de que conseguiria se recuperar mais uma vez para assistir à posse da presidente eleita, Dilma Rousseff. Com a promessa de ainda dançar um xaxado e tomar um golinho na cerimônia.
Na tarde desta segunda-feira, o médico Roberto Kalil Filho afirmou que não recomenda que o vice-presidente compareça à cerimônia de posse da presidente eleita Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer, no próximo sábado, em Brasília.
Ao mesmo tempo em que emociona, a disposição do vice de 79 anos, que já passou por 17 cirurgias, suscita algumas reflexões. A jornalista Letícia Duarte, na Zero Hora de ontem, questiona: Teria o vice-presidente conseguido resistir a tantos obstáculos se tivesse de enfrentar as filas do Sistema Único de Saúde? Conseguiria manter a disposição se tivesse de aguardar por atendimento nas emergências superlotadas da rede pública? Poderia ter recebido o diagnóstico do tumor a tempo suficiente se tivesse de aguardar meses para conseguir um exame, anos por uma consulta especializada, como é comum em diferentes Estados, incluindo o Rio Grande do Sul?
Inevitável comparar o atendimento de ponta que o vice vem recebendo, num dos hospitais privados mais renomados do país, à realidade enfrentada cotidianamente por quem depende do poder público.
Devo dizer, claro que não gostaria que o Zé Alencar soubesse disso, que cheguei a torcer, quando nesta véspera de natal seu estado era, mais uma vez, crítico, para que ele morresse, não apenas para que não precisasse fazer a 18ª cirurgia, mas para que tivesse um enterro como chefe de Estado. Seria uma linda homenagem que ele bem mereceria. Mas ele tem pelo menos 17 vidas, pois no dia de natal pediu – e ganhou – um pedacinho de panetone.
Absolvam-me deste desejo. Reviso-o. Ele esta a demonstrar que ainda vai comer panetone em alguns natais. Meus votos de uma linda terça-feira. Lemo-nos amanhã.
JOSÉ CARNEIRO de Belém escreveu
ResponderExcluirCaro amigo prof. Chassot:
Foram pertinentes e percucientes suas observações, no blogue, a respeito da saúde do vice presidente José de Alencar. Não vi grosseria na reflexão, vi, sim, critica e solidariedade, em todos os sentidos. A critica foi muito bem col.ocada - eu diria, muitissimo bem. E a solidariedade tem a ver com o sofrimento que aquele homem está passando. E que ele só resiste graças aos carissimos atendimento que o cargo e, quem sabe, sua fortuna lhe permitem. Ao mesmo tempo as televisões, nos estados, mostram a fila e o péssimo atendimento dos hospitais estaduais e pronto socorros municipais.
Assino embaixo do que você postou e ainda digo mais: não precisava pedir absolvição já que nada transgrediu.
Aproveito para mandar os meus votos pessoais, para você e todos os seus leitores, neste final de ano de um novo ano mais justo para todos.
Grande abraço do
José Carneiro