Boa Vista Ano 5 # 1583 |
Mesmo que nesta semana tivesse sido maravilhosamente acolhido, hoje minhas emoções mais fortes voltam-se para volta, Não há como deixar de lembrar do livro de Michel Onfray “Geografia da Viagem” que já resenhei aqui. Começamos a partir e voltar com antecipação.
Minha volta, se sancionada pelos operadores de voo – que estão em operações reivindicatórias, sempre desencadeadas em dezembro – deve ocorrer assim:
Origem | Partida | Destino | Chegada |
Boa Vista | 13h15min | Manaus | 14h30min |
Manaus | 15h10min | São Paulo | 20h55min |
São Paulo | 22h15min | Porto Alegre | 23h53min |
Sempre me parece algo surreal essa precisão ficcional de horários que sempre atrasam. sonho que tudo ocorra a tempo de cumprir uma agenda, amanhã pela manhã, no curso de engenharia do Centro Universitário Metodista do IPA.
Esta manhã tenho um passeio fluvial no rio Branco e depois um almoço de despedida. O local deste me permite uma retificação. Feri os brios dos bela-vistenses, quando disse que não havia edifícios. O almoço será em hotel que tem, como outro prédio, mais de três andares. Às colegas que cuidam de minha agenda pareceu melhor suspender uma missa às 5h30min (sim! Está certo o horário) desta manhã. Uma hora mais tarde a Ednalva veio buscar-me no Hotel para conhecer internamente a igreja do Carmo, do século 18. Chegamos ao termino da missa do novenário da festa da Conceição. Tive muito apreciadas explicações do Pe. Vantuí, que descreveu-me a única experiência missionária beneditina na Amárica.
Mas tenho muito a contar de ontem: a sumarenta e emocionante quinta-feira teve dois tempos. Primeiro a visita a comunidade macaxi de Pedra lascada e depois uma incursão em terras venezuelanas.
Em companhia dos Professores Ednalva, Bete e Luiz, conduzidos pelo motorista Borborema, da UFRR que tem a sabedoria das pessoas que são curiosas e prestam atenção, fomos em uma viagem de 30 minutos, cruzando o imponente rio Branco, ao município de Cantá, na região Serra da Lua e visitamos a Escola Estadual Professor Ednilson Lima Cavalcante, da Comunidade Indígena Taba Lascada.
Éramos convidados para uma comemoração do encerramento letivo da Escola Infantil e do Ensino Fundamental. O Ensino Médio encerra hoje suas atividades hoje com a II Feira de Ciência, que tem como tema ‘fortalecendo a cultura indígena em diálogo com o conhecimento científico’, que objetiva ‘que através de pesquisas a comunidade escolar descubra novos conhecimentos que fortaleça a cultura indígena da comunidade, ou seja, os valores étnicos, a comida, a bebida e o processo de preparação, a reza tradicional, sua própria história, a literatura indígena. Bem como, os conhecimentos científicos na formação do aluno indígena no contexto da globalização, considerando sua organização política e o jeito de ser de forma específica e diferenciada.’
A leitura do texto acima, que extrai do folheto da divulgação da mostra que se encerra com o Teatro Conflito da Terra Taba Lascada e a peça do Curupira, traduz a excelência da Escola visitada. Se apresentasse uma cena do laboratório de informática, com mais de uma dezena de modernos computadores, com acesso a internet por antena especial de programa do governo federal de acesso a rede mundial de computadores, veríamos que não fala de nenhuma escola indígena que possa estar no imaginário de meus leitores.
Entre os professores, que atendem a mais de duas centenas de alunos há 12 que tem licenciatura plena em Educação Indígena, que estão entre os cerca de 160 licenciados que UFRR já formou e atuam nas imensas reservas indígenas de Roraima.
Depois de ter feito uma emocionada fala aos alunos, professores, merendeiras, líderes da comunidade e pais, participei da merenda festiva com bolos típicos e frutas da região, onde comi ingá, abacaxi, caju, melancia branca entre outras. Em seguida, o muito atencioso professor Tenilson, licenciado pela UFRR e diretor da escola, conduziu-me a visitação de diferentes espaços escolares, em vários dos quais, quase meia centena de alunos do ensino médio, preparavam a Feira de Ciência. O Prof. Tenilson presenteou-me com um anel de coquinho, confeccionado na escola, para recordar a minha visita e celebrar um pacto de amizade com a Escola Estadual Professor Ednilson Lima Cavalcante, da Comunidade Indígena Taba Lascada. Ofereci, e enviarei por correio postal, na próxima semana, um conjunto de meus seis livros em circulação. Comprometi-me solicitar às minhas editoras o envio de livros para a Escola.
Voltei à Boa Vista, com meus colegas, olhando de maneira diferente as malocas de palha (como são chamadas suas habitações) dos indígenas com antenas de televisão. Eu estava com alma encharcada de alegria.
Às 10h30min com a Ana, a Bete e o Amauri (marido da Bete) partimos para o Norte. Nossa meta primeira era Pacaraima, que dista 220 km de Boa Vista. A viagem é pela BR-174, que corta em quase toda sua extensão a Reserva Indígena São Marcos, com muitas malocas e também as muito presentes igrejas evangélicas. Passamos pela Raposa do Sol, aonde vimos o anfiteatro da Reserva Raposa do Sol onde se realizam as convenções dos povos indígenas da região.
Pacaraima está ligada à demarcação da fronteira com a Venezuela pelo Exército, se originando em torno do marco conhecido como BV-8, portal de entrada para o Brasil a partir daquele país. Pacaraima funciona até hoje como entreposto comercial, atraindo diversos compradores de bens de consumo básicos do município vizinho Santa Elena de Uairén, uma cidade venezuelana. Em Pacaraima fomos acolhidos por um irmão do Amauri que é professor de Geografia e Teólogo.
Passamos em seguida a fronteira e estávamos na República Bolivariana da Venezuela. Fomos até Santa Helena, que fica a 15 km da fronteira de Pacaraima. A cidade foi fundada em 1929, sua principal atividade econômica é a extração de diamantes. Seus atuais moradores são as famílias dos homens que trabalhavam nas minas de diamantes. A cidade tem uma zona franca onde há forte comércio de produtos eletrônicos. Almoçamos uma paella sevilhana e percorremos o comércio e visitamos uma linda igreja integrada a convento capuchinho. Um frei espanhol contou-me um pouco da história da igreja e do convento.
Voltamos ao Brasil, com muitas fotos que serão mostradas, por razões já explicadas em futuras edições. Fizemos uma visita a acolhedora morada da família do irmão do Amauri em Pacaraíma. Deixamos a setentrional cidade brasileira, às 19h com planos de chegar a UFRR para participar da confraternização de encerramento do 1º WEQR. Mas, a cerca de 30 km de Boa Vista, nosso carro que viajava a mais de 100 km/h, colheu, provavelmente, uma avantajada capivara. Esta voou sobre o carro. Os danos materiais na parte frontal do carro impediram o prosseguimento da viagem. Surgiu um jovem motociclista que nos prestou auxilio. Um guincho removeu o carro e o Grilo, cunhado da Bete, foi chamado de Boa Vista para nos resgatar. Já era 22h quando cheguei ao Hotel Uiarama, que deixo dentro de mais um pouco, depois de cinco dias.
Resta um registro de gratidão a cada uma e cada um dos colegas de Roraima que me acarinharam nesses dias. Sou grato também a leitores como a Professora Ana Carolina de Cuiabá que escreveu, na edição do dia 30de novembro: Professor, estou adorando conhecer Roraima e participar do 1º WEQR, por meio do seu Blogue. Aguardo ansiosa a sua próxima postagem. Prometo, a partir da edição de amanhã trazer algumas fotos, Assim, sonho que nos leiamos da Morada dos Afagos amanhã.
Muy querido Profesor Chassot,
ResponderExcluir¡Bravo!!! ... por el viaje, por el detalle encantador de esta región que no conocía para nada. Sobre todo, bravo por las escuelas indígenas. Ojalá en todas partes hubieran escuelas como las que detalla.
Que tenga un lindo fin de semana,
Muy estimada Matilde,
ResponderExcluirgracias por tus saludos en esta blogada. He extrañado tu longo silencio. Un buen retorno.
He llegado a Porto alegre cuando ya era sábado. Muy feliz por esa estada en una región de Brasil que desconocía. Ciertamente ha sido la Escuela Indígena o que me ha más impresionado. Tú como ecuatoriana conocéis muy bien la marginalización que nosotros blancos hemos impuesto a los primevos dueños de esas tierras que llamamos Américas.
Con continuada admiración
attico chassot