Ano
6*** Frederico Westphalen/Porto Alegre
***Edição 2096
Como a
edição anterior, esta postagem ocorre a bordo, agora no sentido inverso de
ontem. Depois de um frutuoso dia em Frederico Westphalen, estou retornando para
chegar a Porto Alegre, cerca das 6h.
Merece um registro: já ao tomar o ônibus lotado na noite de quinta-feira em Porto Alegre e ao chegar saber que não havia mais vaga em nenhum dos hotéis da região, tomei ciência que minha palestra à noite teria uma estrela de primeira grandeza como concorrente: Michel Teló estava na cidade. Resisti... Os participantes me honraram com atenção até o fim e eu posso registrar que estava no mesmo hotel do astro.
Mas o melhor acontecimento da noite foi encontrar, quando jantava com colegas, o Prof. Dr. Antonio Marcos Sanseverino, que estava na URI em palestra no Programa de Pós-Graduação em Letras. Poder na rodoviária enviar para seus pais um exemplar de Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto. A Maria Tereza e o Sanseverino estão densamente presentes no capítulo do ano 1968.
Merece um registro: já ao tomar o ônibus lotado na noite de quinta-feira em Porto Alegre e ao chegar saber que não havia mais vaga em nenhum dos hotéis da região, tomei ciência que minha palestra à noite teria uma estrela de primeira grandeza como concorrente: Michel Teló estava na cidade. Resisti... Os participantes me honraram com atenção até o fim e eu posso registrar que estava no mesmo hotel do astro.
Mas o melhor acontecimento da noite foi encontrar, quando jantava com colegas, o Prof. Dr. Antonio Marcos Sanseverino, que estava na URI em palestra no Programa de Pós-Graduação em Letras. Poder na rodoviária enviar para seus pais um exemplar de Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto. A Maria Tereza e o Sanseverino estão densamente presentes no capítulo do ano 1968.
Antes uma nota lateral. Os assuntos
que movimentaram a semana, provavelmente granjearam novos leitores a este
blogue, para eles um esclarecimento:
aos sábados, honrando uma tradição de mais de quatro anos é usual uma dica de leitura.
Hoje a sugestão sabática se faz desde Frederico Westphalen, quase nas barrancas
do Uruguai, em região fronteiriça com o Oeste catarinense.
Talvez por
ontem termos, sentimentalmente, visitado o Uzbequistão e este ser limítrofe do Afeganistão
— o mais conhecido desta plêiade de países ***stão, que se vê no mapa que
ilustrou a edição de ontem e são uma quase abstração, para mim e certamente
para maioria de meus leitores — lembrei-me de O livreiro
de Cabul — um dramático
relato de uma jornalista norueguesa que viveu com a
família do livreiro
e conta com
crueza e lirismo o cotidiano
de personagens que
lemos com avidez ,
como se fosse um
romance , mas
dolorosamente é um
livro acerca
da dura realidade
de homens e mulheres
no século 21.
Li o livro em 2006, quando do
lançamento no Brasil e esta resenha é requentada a partir de texto que
publiquei então em www.letraselivros.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=243
O livreiro
de Cabul – que
já no seu
título traduz meu
apreço a esse
sítio que
semeia livros . É um livro que classifico
como bonitamente
triste . Terminada sua
leitura, a sensação que
senti foi de uma imensa tristeza .
Talvez , não
sem egoísmo ,
dissesse-me ‘ainda bem
que aqui
não é o Afeganistão’. Mas esse país existe. Lá
também já
é século 21. Ou ainda
é tempo de cavernícolas?
Mesmo que seja uma sugestão ‘velha’;
afinal o livro já tem seis anos, parece oportuno lembra-lo aqui. Como vimos
ontem, parece que a situação não mudou muito. Todavia, peço a indulgência de
meus leitores por não trazer ‘novidade’. Também no vou culpar a momentosa “T”DI.
Há época que li a dica de hoje,
havia lido vários livros
– Niketche: uma história
de poligamia , As boas mulheres
da China, Amêndoa : um
relato erótico e Um lugar chamado Brick Lane e Shrin-Gol e a burca – que nos ensejam conhecer realidades bastante
diferentes de nosso
mundo ocidental .
A estes poderia
juntar o admirável Caçador de pipas ,
que também
nos leva
ao Afeganistão. Falamos muito em mundo
globalizado, porém há, ainda , quistos geográficos que
são exóticos
aos nossos costumes ,
muito especialmente
na maneira como
são tratadas as mulheres .
Nenhum dos livros
antes mencionados parece ser
tão impactante quanto
O livreiro
de Cabul. Aliás , se
pudesse dizer o que
me pareceu Cabul, pela
leitura desse e outros
livros lá
ambientados, diria: um pandemônio .
A autora Åsne Seierstad é uma jornalista
norueguesa, nascida em
1970. Ela cobriu a guerra
no Iraque e os conflitos em Kosovo e no Afeganistão. Merece, aqui uma referência
especial , por
ter construído
com a renda
do livro aqui
apresentado uma escola para
600 meninas afegãs, que têm aulas em dois turnos diários .
Åsne escreve seu
depoimento feito
livro por
ter vivido
na casa de Sultan Khan, o livreiro de Cabul, conhecendo então
as intimidades dos universos
masculinos e femininos
no fundamentalista Afeganistão, após a ditadura
talibã. Sultan é uma figura crucial . Amante
dos livros , culto ,
trabalhador , vítima
da tirania em
função da profissão
– foi preso , teve seus
livros queimados – mas
um déspota
no exercício do patriarcado
familiar . Suas
esposas, seus filhos
e filhos , empregados
o temem como se fosse apenas um verdugo . Talvez essa
seja uma situação paradoxal
do livro : um
homem de letras ,
herói na disseminação
de livros não
fundamentalistas , não
só tem essas posturas
machistas , como
foi a Noruega, não só
para impedir a circulação do livro ,
como também
para exigir uma reparação judicial ,
por se sentir
difamado no livro .
Caro Chassot,
ResponderExcluirlembro do lançamento e da polêmica em torno desse episódio, à época. Sabemos muito bem como a ideologia introjetada desde a infância é capaz de distorções como essas que mencionas em tua síntese.
A propósito, fiquei com pena do Michel Teló, tendo como concorrente a tua conferência.
Um abraço,
Garin
Um abraço e bom sábado.
Caro Chassot,
ResponderExcluirÓtima leitura, já o li e recomendo. Abraços sabatinos, JAIR.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro Chassot,
ResponderExcluirAcho muito oportuno lembrar que o livro de Âsne Seierstad "O livreiro de Cabul", deu azo a que Shad Muhammaad Rais, verdadeiro nome de livreiro afegão "Sultan" que a hospedou e que ela descreveu segundo uma ótica européia totalmente conflitante com os valores Afegãos, escreveu em resposta: "Eu sou o livreiro de Cabul", um livro que ataca a jornalista alegando que ela traiu a confiança que ele depositou nela. Não é um livro totalmente isento, já que aproveitou a trajetória ascendente do livro de Âsne para tirar uma casquinha, mas tem certo valor por mostrar um ponto de vista cultural totalmente oposto àquele que a jornalista descreve. Rais diz que em muitas passagens do livro, ela não foi fiel à realidade, que ficou realmente muito longe dos fatos que testemunhou, ela inventou coisas a meu respeito e de minha família. Ele voou até Oslo para tentar uma indenização por danos morais, mas parece que a justiça da Noruega considerou que a identidade dele está preservada no livro. Pelo sim pelo não, recomendo que após ler o livro de Âsne leiam também o livo de Rais, é uma questão de justiça. Abraços, livreiros, JAR.
Esta é uma dica fantástica... Boa lembrança Chassot...
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