Ano
6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2085
Aqui neste blogue, já antes da decisão de que Brasil sediaria a Copa da Fifa
de 2014, se torcia contra; em 01JUN10 fazia denúncias aqui. Em 29NOV11 se apresentou
um dossiê lastrado no ‘Le Monde
Diplomatique’ de novembro. Dói ver o quanto ainda há deslumbramento
colonizado com o evento. As 12 cidades escolhidas parecem que se preparam mais
para a chegada de um novo Messias do que por terem por alguns dias suas rotinas
transtornadas por vorazes visitantes.
Afortunadamente há chamadas ao bom senso. Neste domingo, historiador
Chico Alencar, que é deputado federal pelo PSOL-RJ, publicou na p. A3 da Folha
de S. Paulo Estado Futebolístico de
Exceção que vale que eu o comparta com os leitores deste blogue.
O manifesto dos tenentes
rebelados em São Paulo, em 1924, denunciava: "O Brasil está reduzido a
verdadeiras satrapias, desconhecendo-se completamente o merecimento dos homens
e estabelecendo-se como condição primordial, para o acesso às posições de
evidência, o servilismo contumaz".
Passados 88 anos, um
anacrônico servilismo emoldura as iniciativas nas 12 cidades-sede da Copa de
2014 e nas alterações legais que o Congresso Nacional está votando para receber
o megaevento.
Sobra subserviência, falta
transparência: os compromissos do governo com a Fifa, assinados em 2007, seguem
cercados de mistério. As informações sobre gastos e etapas das obras, nos
portais oficiais, são contraditórias e incompletas.
O processo de remoção de
moradias, que pode afetar 170 mil pessoas, desrespeita o princípio do
"chave por chave", que diz que ninguém pode ser despejado de sua casa
sem receber outra, próxima e melhor.
O projeto da Lei Geral da
Copa — bem mais do que uma "lei do copo de cerveja" nas partida — transforma
o Brasil em protetorado de interesses mercantis.
Ele "expulsa de
campo" a legislação nacional que regula concorrência, patentes, direitos
do consumidor, transmissões esportivas, gastos orçamentários, publicidade,
punição a delitos e até calendário escolar. A lei das licitações já fora
"escanteada" pelo Regime Diferenciado de Contratações. Uma entidade
privada internacional impõe legislação excepcional, garantindo isenções fiscais
a mais de mil produtos!
O projeto aprovado na Câmara
assegura megaprivilégios à Fifa. O Inpi vira um "cartório
particular", com regime especial para pedidos de registro de "marcas
de alto renome" apresentadas pela entidade.
Libera-se uma associação
suíça de direito privado do pagamento de custos e emolumentos exigidos a todos
que requerem registro de marca no Brasil. Trata-se de uma renúncia fiscal longa
e onerosa!
O projeto afronta até um
preceito defendido pelos liberais de todos os matizes: o da livre iniciativa.
Isto é evidenciado ao se
"assegurar à Fifa e às pessoas por ela indicadas a autorização para, com
exclusividade, divulgar suas marcas, distribuir, vender, dar publicidade ou
realizar propaganda de produtos e serviços, bem como outras atividades
promocionais ou de comércio de rua, nos locais oficiais de competição, nas suas
imediações e principais vias de acesso".
Prevê-se também que será
objeto de sanções — como prisão de três meses a um ano — a "oferta de
provas de comida ou bebida, distribuição de panfletos ou outros materiais
promocionais (...), inclusive em automóveis, nos locais oficiais de competição,
em suas principais vias de acesso ou em lugares que sejam claramente visíveis a
partir daqueles".
O "Estado Futebolístico
de Exceção" cria suas "zonas de exclusão". A União fica também
obrigada a disponibilizar, sem quaisquer custos para a Fifa, "a segurança,
serviços de saúde, vigilância sanitária e alfândega e imigração".
Além de disponibilizar
gratuitamente todos esses serviços para um evento privado, o Brasil também se
responsabiliza por quaisquer acidentes que venham a ocorrer.
A Fifa, que ganhou na África
do Sul mais de R$ 7,2 bilhões só com radiodifusão e marketing, "marca sob
pressão" as nossas autoridades. Em 2011, já faturou R$ 1,67 bilhão com
vendas vinculadas à Copa de 2014. Medidas provisórias poderão ser editadas
"na prorrogação" para garantir os resultados esperados.
No lugar de caixinha de
surpresas, o futebol se transforma em um instrumento para nutrir a
caixa-registradora da Fifa e dos seus sócios.
Caro Chassot,
ResponderExcluirMais uma vez "panis et circenses". A "Nomenklatura" brasileira se vale da paixão futebolística dos tupiniquins para maquinar junto à poderosa FIFA mais um espólio do produto de nosso suor para encher as burras de empresários (sempre os mesmos) e facilitar os envio de bilhões de dólares para o exterior. Tudo isso, e aplaudimos ainda. VIVA O POVO BRASILEIRO! Somos ovelhas conduzidas pelos sarneis da vida. Abraços indignados, JAIR.
Estimado Jair,
ResponderExcluirconcordamos em gênero, número e grau: vermos a possível transformação de potente Republica, que se diz crescendo aos olhos do mundo, em uma RepubliFifa verde/amarela governada por uma empresa suíça e como dizes pastoreados pelos sarneis (de ter sarna / acólitos do José Ribamar).
Obrigado por teus sempre abalizados comentários aqui e tembém pela produção do ‘blogue que pensa” www.jairclopes.blogspot.com onde evidencias o polímata que és.
Com a admiração
attico chassot
ALVARO KONING escreveu
ResponderExcluirmestre,
a conclusão é de que nada ou muito pouca coisa mudou desde o nosso descobrimento,segue como nosso orgulho maior ser o pais do futebol;
Boa tarde, Mestre!
ResponderExcluirEu adoro futebol, tanto na qualidade de praticante (enquanto pude) como na de assistente, mas nessa eu nunca caí!
Sempre torci contra esse evento ser realizado no Brasil!
Seria muito egoísmo se deleitar com um espetáculo que, além de não trazer nada de bom para o país, ainda favorecerá incontáveis maracutaias!
Essas fortunas que estão sendo gastas para reformar e construir estádios (que depois da Copa nunca mais serão lotados) seria muito melhor empregada na educação e na saúde (sem maracutaias)!
É o mesmo que um operário dando uma festa de arromba para a vizinhança, enquanto seus filhos estão doentes e passando fome!
Mas, quem espera lucrar com isto está felicíssimo, inclusive alguns órgãos de imprensa!
Quanto a sermos "o país do futebol", até mesmo isto já deixamos de ser, como mostra o ranking da FIFA! A incompetência e a desonestidade afetam até o esporte!
Abraços!
Caro Chassot,
ResponderExcluiras mazelas que a Copa traz para a vida do país não compensa os esforços empreendidos. Concordo contigo.
Um abraço,
Garin
Boa noite Chassot,
ResponderExcluirpenso que é melhor que haja a copa aqui do que o contrário,algo de bom o povo vai ganhar com a estrutura montada para o evento, como melhorias na saúde,trânsito,segurança e até mesmo o contato com outras culturas.
Pode ser que algumas vão embora com o término da festa ,mas outras permanecerão.
Hendney Fernandes Uruguaiana RS