ANO
8 |
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EDIÇÃO
2709
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Nas aulas de ontem,
ao falar da Ciência fiz uma referência a um de seus maiores ícones: Isaac
Newton. Uma vez mais, surge a interrogação: em que ano nasceu aquele que, ao
morrer em 1727, é reverenciado pelas descrições matemáticas do
Universo que fez e encanta a muitos, pois parece que os planetas obedecem às
suas leis. Não é sem razão que seu epitáfio diz “A natureza e as suas leis jazem ocultas na noite. Deus disse: Que
Newton exista! E tudo se fez Luz”. Isso evidencia a reverência que a
Inglaterra tributou ao seu grande gênio. Esse epitáfio, escrito pelo poeta A.
Pope para a lápide de sir Isaac Newton, que está sepultado com reis, rainhas e
outros grandes heróis ingleses — e aqui vale destacar Darwin e Rutherford — na
abadia de Westminster, em Londres, dá a dimensão da genialidade daquele a quem celebramos
com respeito quando dizia: “Se vi tão
longe, é porque me apoiei em ombros de outros gigantes”.
Mas por que trago a dúvida acerca do ano de nascimento de Newton?
Preparei uma quadra com quatro selos. Nesta produção, recordei com saudades tempos
em que cultivava a filatelia (em homenagem a meus jovens leitores, devo dizer
que me refiro a um colecionismo que parece quase em extinção: Ciência, estudo e colecionação metódica dos
selos do correio). Escolhi quatro selos entre mais de uma dezena que homenageiam,
em diferentes países, àquele que matematizou a lei da gravidade.
O primeiro selo é da quase
ignota (para mim) República de Malavi, ou Terra do Sol Nascente, na África
Oriental. O segundo é um envelope
comemorativo com um selo da maçã newtoniana emitido pelo correio britânico. O terceiro, é uma emissão da antiga República
Federal da Alemanha (então, Alemanha Ocidental) que além de uma das fórmulas
fulcrais da cinemática recorda a difração da luz, proposta Newton. O quarto é um selo de 1987, quando a
antiga União Soviética associou-se às homenagens aos trezentos anos da publicação
do livro de Newton “Principia
Philosophiae” tido como a certidão nascimento da Ciência Moderna.
Os dois primeiros selos referem a data de 1642 como ano de nascimento, enquanto os outros dois mencionam 1643. Eis a razão da questão que se faz
título.
Em A ciência através dos
tempos (1ª edição 1994) refiro que Newton nasceu no dia de Natal de 1642. As
duas datas estão certas, mesmo que rigorosamente a data seja 25 de dezembro de
1642 e não 4 de janeiro de 1643. Por que a divergência?
Em 24 de
fevereiro de 1582 o Papa Gregório XIII, por decreto, instituiu (veja-se o poder
da Igreja Romana) o calendário gregoriano seguindo instruções do
Concílio de Trento (1545-1563). Este calendário foi proposto por Aloysius
Lilius, astrônomo de Nápoles. Uma das
modificações mais relevantes que foram introduzidas com a reforma gregoriana foi
a supressão de dez dias do
calendário. O dia seguinte à quinta-feira, 4 de outubro de 1582, passou a ser
sexta-feira, 15 de outubro de 1582, para que o equinócio (usado na determinação
da data da Páscoa) voltasse a concordar com a deliberação do Concílio de Niceia
(Ano 325).
Eis um exemplo histórico: Santa Teresa
de Ávila morreu em 4 de outubro de 1582 e foi enterrada no dia seguinte, 15 de
outubro de 1582. Um detalhe importante: a reforma gregoriana não foi aceita de
imediato. Várias nações se opuseram a ela, principalmente as não-católicas. Os países católicos, como
Portugal e Espanha, aceitaram de imediato, em outubro de 1582; a França, em
dezembro de 1582; já a Alemanha e a Áustria, em 1584; Hungria, em 1587;
Inglaterra, em 1752; Suécia, em 1753 e a Rússia, só em 1923.
O calendário gregoriano adotado em
1582 substitui o calendário juliano implantado por Júlio César, em 46 a.C.,
como uma importante e substancial alteração no calendário romano. Foi
modificado ainda mais em 8 d.C., pelo imperador Augusto.
O calendário juliano, com as
modificações feitas por Augusto, continua sendo utilizado pelos cristãos
ortodoxos em vários países. Hoje acumula uma diferença para o calendário
gregoriano de 13 dias. Assim, o dia de hoje, 11 de março de 2014, no calendário
juliano é dia 26 de fevereiro de 2014.
Logo a data de nascimento de Newton, quando
referida a 1642 corresponde, ainda ao calendário juliano (que a Inglaterra
conservou até 1752) e quando a 1643, ocorre já no calendário gregoriano. Assim,
as duas datas são válidas. Opto por 1642, pois era a data que vigia na
Inglaterra no dia que Newton nasceu e mais, 1642 é
significativo, pois foi ano que morreu Galileu Galilei.
Um detalhe final, se Newton houvesse nascido, por exemplo, em 15
de dezembro, talvez esse assunto não viesse à baila, pois nos dois calendários seria
o mesmo ano.
Curiosa explicaÇão, confesso que apesar de saber sobre o concílio de Tentro e sobre a existÊcia dos calendários, não sabia que essa divergência de datas vigorava até os dias de hoje, seria certo então dizer que até nossas datas natalícias não são as legítimas.
ResponderExcluirAbraços
Muito estimado mestre Chassot,
ResponderExcluirencantei-me com esta edição. Jamais ouvira falar nas duas datas devido a existência de dois calendários simultâneos.
As informações newtonianas são preciosas
Parabéns por mais uma edição D+*****
Michaela
Prezado Chassot!
ResponderExcluirMuito Boa a blogada de hoje, e que mostra o quanto Isaac Newton foi ícone da Ciência e portanto traz dúvidas a respeito da data de seu nascimento. Fazendo uso da filatelia voce traz esclarecedoras explicações sobre o tema. Um abraço do JB.
Agradecimentos sinceros e emocionados pela aula de historia da ciência nos selos...ha tempo estudo historia por meio dos selos, que infelizmente estão desaparecendo!
ResponderExcluirOnde mais poderíamos ser elucidados com tais conhecimentos?
ResponderExcluirGrande abraço, mestre.
Não resisti a tentação de aditar essa pequena historieta a blogada de hoje. Isaac Newton foi membro da câmara dos Lordes no parlamento inglês, achava aquelas discussões políticas uma grande perda de tempo pois acreditava que haviam assuntos mais interessantes a serem debatidos. Mas, como era membro ilustre, sua presença era sempre muito solicitada. E em um desses raros momentos em que lá esteve levantou a mão pedindo a fala. Todos fizeram um silêncio solene, afinal o grande físico iria se manifestar e todos queriam ouvi-lo, nisso disse Newton : " Por favor, alguém feche aquela janela, o vento dela está me incomodando...". Foi a única fala do cientista em toda sua vida no parlamento.
ResponderExcluirabraços
Meu caríssimo Antônio,
ResponderExcluirdepois desta saborosa historieta entendo porque o poeta Alexander Pope produziu um epitáfio tão significativo “A natureza e as suas leis jazem ocultas na noite. Deus disse: Que Newton exista! E tudo se fez Luz”.