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quarta-feira, 5 de março de 2014

05— AGORA... CINZAS!...

ANO
 8
www.professorchassot.pro.br

EDIÇÃO
 2703


Haverá leitor — pela manchete que dei a esta blogada — que, mais uma vez, me ‘brindará’ com título de igrejeiro. Este me desprestigia. Parece-me injusta esta catalogação que me fazem alguns leitores. Obrigo-me a justificar as razões pelas quais, de vez em vez, visito temas correlacionados com religiões.
Tenho defendido uma tese: religiosos ou não, vivemos em um mundo religiosos. E, por tal, assuntos que encharcam nosso cotidiano merecem considerações críticas. Em favor de minha tese, poderia amealhar muitos exemplos, a começar pela guarda de um sétimo dia de descanso, até as razões pelas quais a maior festa pagã, celebrada nestes dias, determina (ou, é determinada) pela data mais significativa do cristianismo: a Páscoa.
Há um segundo argumento para a trazida de temas religiosos. Dentre os seis óculos que tenho discutido como possíveis para nos servir para olhar o mundo natural: os óculos do senso comum, do pensamento mágico, dos saberes primevos, dos mitos, da religião e da ciência são certamente os dois últimos os mais usados, e talvez, aqueles que mais confortáveis parecem.
Há, ainda, uma postura muito crítica (na minha avaliação) assumida aqui, que parece não se coaduna com o epiteto igrejeiro. Trago um exemplo. Nesta segunda-feira, quando se comentava aqui o filme Philomena, escrevi (antes do resultado do Oscar): “filme para rir e chorar alternadamente e para se exorcizar a igreja católica do começo ao fim.” Em seguida descrevi as ações dolorosas e mercantis de freiras católicas irlandesas contra mães solteiras. Na manhã de domingo, quando era conhecido que o excelente Philomena não levara nenhuma das quatro indicações para o Oscar, escrevia, em resposta a um comentário: “levanto como hipótese (para a não premiação), que um lobby católico protecionista possa ter se envolvido na busca de não dar maior visibilidade a um filme com tão candentes denúncias que incriminam dolorosa e criminalmente a igreja católica.
Este extenso e defensivo preâmbulo define, que o assunto que pretendia trazer, deva ser resumido. A Páscoa (e por consequência a Quarta-feira de cinzas, o Carnaval...), diferente do Natal, é uma festividade com data móvel, pois foi definida seguindo o calendário judeu, que por sua vez era baseado nas fases da lua.
A escolha da data se deu em razão das comemorações pagãs, pela chegada da primavera, época de fartura devido às colheitas, com o renascimento da terra, que se tornaria fértil de novo. Os povos da Idade Média faziam homenagens à Ostera, deusa da fertilidade que presidia  período primaveril. A ilustração da deusa Ostara é do ilustrador alemão Johannes Gehrts (1855-1921).
Através do primeiro concílio de Niceia, no ano de 325 d.C, foi estabelecida uma data para a páscoa: o primeiro domingo após o aparecimento da da primeira lua cheia, na primavera do hemisfério norte (no hemisfério sul, outono). Isso determina cisão na igreja, pois a escolha da data torna-se alvo de polêmica. Outra decisão deste Concílio consistiu na transferência do dia santo e de descanso semanal, de Sábado para Domingo.
É curiosa a forma como esse período de transição, que significa passagem, aparece escrito em várias línguas, sendo no hebreu “pessachad”, no latim “pache”, em grego “paskha”, no alemão “ostern” e em inglês “easter”, sendo que nestas duas últimas línguas se vê a presença da deusa Ostera, que celebraremos, este ano em 20 de abril.

4 comentários:

  1. Ouvi de uma senhora que, inclusive, já manifestou deixar parte dos bens à Igreja católica pela ausência de herdeiros: "A Igreja parece uma empresa multinacional ".
    Queria crer fossem as ideias que movessem o mundo (em parte são). No entanto, o Poder, Interesses...estes são fortes. E vamos labutar. Um forte abraço às mulheres e homens sensatos. Aos autênticos. Aos verdadeiramente humanos.

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  2. Prezado Chassot:
    Não tenho jeito para comentar blogadas, mas não pude me conter em relação ao filme Philomena. Faço duas observações sobre o que disseste. Acho que "exorcizar a igreja católica do início ao fim" é exagero. Claro que não se trata de apoiar o que foi ali exposto. As cenas das mães só podendo ficar alguns minutos com seus rebentos e de vê-los indo embora atrás do portão de ferro é cortante. Mas veja que, apesar de tudo, no fim há o perdão da protagonista. Quem não perdoou foi quem não viveu a história, no caso, o jornalista. Eu também não perdoaria. Mas a situação é mais complexa do que isso. A segunda observação é quando mencionas a possibilidade de um "lobby católico" para não levar o filme à premiação.
    Acho que aí erraste de lobby. Lembremos Mel Gibson, o bom moço e dedicado galã , mimado dos produtores. Foi produzir um filme em que Jesus apanha do início ao fim, e ainda por cima, de seu povo. Hoje é escória. Um grande abraço, Carlos Venhofen Flores

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    1. Meu querido colega e amigo Carlos,
      dizeres que não tens jeito para comentar blogada é de maneira liminar retificado no teu texto. Foste fulcral.
      Dentre as tuas duas trazidas discordo da primeira e concordo com a segunda. Vejamos uma e outra postura.
      O filme é um libelo continuado contra a igreja católica romana. Isto de Philomena perdoar não minimiza em nada. Ela só perdoa pela fidelidade que mantem à igreja. É algo impressionante como ela não perde a sua fé. Não sei quanto isso é verdadeiro. O jornalista não perdoa pelas razões que tu e eu não perdoamos.
      Quanto ao lobby da igreja para o filme não ganhar nenhuma das quatro estatuetas foi, talvez, um exagero meu. Acredito que Holywood não se deixaria comprar. Concordo contigo.
      É muito bom matar saudades ao tê-lo como leitor aqui,
      achassot

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  3. Mestre Chassot, se verdade ou mentira, o fato é que temos diversas obras onde o outro lado da igreja católica nos é denunciado, citaria por exemplo o Poderoso Chefão de Mario Puzo, ou ainda o seriado Os Borgias, são obras que me vieram a lembrança de imediato, porem muitas outras são bem conhecidas. Todas as religiões, já que são entidades dogmáticas, tem um poder significativo e métodos e posturas nem sempre éticas. O poder deturpa e corrompe os homens.

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