ANO
8 |
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EDIÇÃO
2701
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Esta é a segunda-feira,
em termos de calendário, mais atípica do ano. Talvez sua marca seja a
indefinição. Feriado para uns, dia servil (anacrônica esta nomeação para os
dias úteis) para outros. Aliás, para amanhã ainda a situação é mais exótica. Terça-feira
de carnaval é o não-feriado mais
entronizado como dia feriado ou dia festivo.
Nesta segunda-feira
vamos receber netas e netos e seus pais para almoço. Não virão os dez. Talvez
seis ou oito. Estamos curtindo este momento de avonar.
Quando esta edição
for lida já serão conhecidas as premiações do Oscar. Não me sensibiliza ficar
olhando a chegada dos nomináveis e muito menos ouvir anúncios e depois as
gabolices nas falas de agradecimentos. Este ano, diferente de anos anterior
quando havia visto vários dos filmes com indicações, só vi um (e, ainda, por
acaso) e este é meu preferido para receber as quatro estatuetas para as quais
tem indicação.
No sábado, a Liba, a
Gelsa e eu fomos ao cinema. Clube de
compras Dallas era o escolhido. A sessão estava lotada. Um atencioso
desconhecido nos disse: Assistam
Philomena! e não se arrependerão.
Foi o que aconteceu.
Um filme para rir e chorar alternadamente e para se exorcizar a igreja católica
do começo ao fim. Philomena é uma jovem solteira que engravida. Castigo: é ‘enjaulada’ em um convento, onde é feito o parto por
freiras, com recursos mínimos. Seu filho, como as demais crianças são ‘educadas’
no convento e as mães forçadas a trabalhos para pagar as dívidas do parto e o
gasto com as crianças.
"Philomena" é, na verdade, um drama
seríssimo, que denuncia a venda de bebês por freiras católicas irlandesas nos
anos 1950 e 1960, prática que separou mais de 60 mil crianças de suas mães. A
razão: as mães eram consideradas "fallen women" (mulheres caídas),
adolescentes que haviam cometido o pecado da "incontinência carnal" e
engravidado.
Sua punição era,
então, realizar trabalhos forçados, em regime de escravidão, em conventos
enquanto seus filhos eram vendidos a famílias estadunidenses.
A partir do filme, diz
Sylvia Colombo, na Folha de S. Paulo de 01MAR14, iniciou uma campanha, então,
de promover a história e a luta da verdadeira Philomena. Hoje, o Philomena
Project está pressionando o governo irlandês a abrir os arquivos sobre as
adoções arranjadas pela igreja na época.
O filme provocou a
busca de ativistas e estudiosos pelas associações de adoção no país.
"Nunca houve um pedido de desculpas por parte da igreja pelas vendas das
crianças e pelo silêncio que mantiveram", diz uma líder da Adoption Rights
Alliance, também ela adotada.
No filme, Philomena
viaja com o jornalista Martin Sixsmith aos Estados Unidos para descobrir o
destino do filho, um advogado gay, já falecido, que trabalhara com George Bush.
O filme também ataca
de frente os dilemas do jornalismo. Através da história de Sixsmith,
ex-correspondente político da BBC que considera uma apelação ter de dedicar-se
a histórias de "interesse humano" para agarrar um freelance.
Como bem disse Hobbes, "O homem é o lobo do homem.".
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirE tudo em nome da fé?
ResponderExcluirPor isso sonho, tenho pesadelos, devaneios, sou utópico..de que ainda o mundo não mais sofrerá nas mãos de malandros em nome de Deus, da Fé ou que seja outros motivos(políticos, sociais, étnicos). Quando todos(ou quase) estiverem acesso aos mínimos esclarecimentos. Alfabetização cidadã junto com a científica é o caminho...
Boa segunda-feira. Desejo muito samba, suor, alegria(folia) com suas respectivas leituras e reflexões.
Caro Chassot,
ResponderExcluirMuito além da ficção, a igreja católica da Irlanda tem a maior quantidade de casos de pedofilia que, ao invés de serem devidamente apurados, e se for o caso punidos, pela justiça dos homens, são redimidos pelos próceres da dita igreja e, ao caírem no limbo da impunidade, geram novos episódios, que geram novos episódios, que geram n… ad infinitum.
Conheço um caso real - agora um professor de escola primária - que foi abusado em um seminário quando era seminarista em Dublin, e até hoje não consegue se "ajustar" à sociedade na qual vive. Ele ainda tem uma sexualidade dúbia, nunca se casou, não sabe para onde vai com sua libido reprimida e vive permanentemente em depressão. Seria ele assim se não tivesse sido abusado por padres? Não sei, mas com certeza algo o deixou com uma qualidade vida questionável e nem um pouco confortável do ponto de vista emocional.
JAIR.
Muito estimado Jair!
ResponderExcluirTeu relato é um dentre os milhares! Dolorosa e imensa culpa paira insolúvel sobre a igreja católica irlandesa!
A história de Philomena, mesmo narrada em linhagem filmíca, é real. Aliás, a própria estava na noite de ontem na cerimônia do Oscar.
Vale destacar que alguns dos filmes laureados ontem sao baseados de casos reais, sendo alguns (como Philomena, que não amealhou nenhuma estatueta --e levanto como hipótese um lobby católico protecionista para não dar maior visibilidade ao filme) de candentes denúncias.
Cabe-nos (mesmo sendo Davis frente a poderosos Golias) divular filmes como Philomena.
Com estima e agradecido pelo teu comentários que sempre valorizam este blogue, Ac