ANO
8 |
www.professorchassot.pro.br
|
EDIÇÃO
2706
|
Neste Dia Internacional da Mulher, aqui e
agora, é local e momento, para prestar a minha mais reconhecida admiração a
cada uma de minhas queridas leitoras. Que neste dia, todas elas recebam preitos
de reconhecimento pelo que são e pelo que fazem. Nisto um destaque às continuadas
parcerias juntos com os homens no empenhar-se, sempre e cada vez mais, na
construção de um Planeta mais justo.
Escrevi, no domingo, que firmara um pacto para
os dias de carnaval: Abstinência, maior possível, da internet e retorno a
saudosas leituras em suporte papel. Resultado, maravilhoso.
Por primeiro, tomei esmo um livro: El amante Lesbiano. Li a primeira página;
fui seduzido. O autor me trazia evocações. José Luis Sampedro, de quem li O Sorriso
Etrusco’, uma
lindíssima epopeia dedicada ao amor de um avô ao seu neto. Hoje trago para meus
leitores algo do livro controvertido que me envolveu nos dias de recesso.
SAMPEDRO, José Luis. El amante
lesbiano. Barcelona: Editorial Debolsillo. 288
p. 2002, Original em castelhano. Edição de bolso. ISBN: 978-84-8450-432-8
Disponível gratuitamente em
http://www.sientemag.com/libroslibres-descarga-gratis-el-amante-lesbiano-de-jose-luis-sampedro/
Começo pelo adjetivo: controvertido (= contestado, contrariado, contraditado...).
É complicado quando lemos um livro de um ídolo, critica-lo — e mais, aceitar as
críticas —. Nem por isso, deixo de trazer um excerto de uma bem elaborada
resenha: “La historia una sucesión de recuerdos
de infancia biografiados, adolece de excesivos detalles y descripciones de una
época. El discurso se convierte así en
moroso y denso dentro de un ambiente irreal, sin tiempo ni espacio. Un
escenario simbólico para mostrarnos sus ideas acerca de las variantes del amor
o la identidad sexual. No pude acabarla, me entraba un sopor indescriptible
cada vez que la leía.” Publicado em aprofesorachiflada.blogspot.com.br.
Concordo com a autora que, vez ou outra, a narrativa é repetitiva.
A estratégia do autor, só conhecida na última página, de fazer um texto
atemporal e de não espacialmente limitado (algo não tão comum na literatura),
nos confunde e, de vez em vez, nos faz perdidos, pois não ficamos a dever nas
transições cidade/deserto. Mas a persistência nos leva a uma explicação
completamente imprevisível e, então, entendemos uma trama que se espraia em
quase 300 páginas.
Outra crítica que
endosso e me agrada: é um romance (para) intelectual. Para justificar reconheço
a biografia do autor, da qual trago breves fragmentos:
José Luis Sampedro
Sáez (Barcelona, 1 de fevereiro de 1917 – Madrid, 8 de abril de 2013) foi um
escritor, humanista e economista espanhol que defendeu uma "economia mais
humana, mais solidária, capaz de contribuir para o desenvolvimento da dignidade
dos povos”. Em 2010, o Conselho de Ministros o condecorou com a Ordem de Artes
e Letras de Espanha por "sua brilhante carreira literária e por seu pensamento
comprometido com os problemas de seu tempo." Em 2011, foi galardoado com o
Prêmio Nacional das Letras de Espanha.
No ano de seu
nascimento, sua família mudou-se para Tânger (Marrocos), onde viveu até treze
anos. Em 1936, ele foi convocado pelo Exército Republicano durante a Guerra
Civil Espanhola, lutando em um batalhão anarquista. Participa na guerra na
Catalunha, Guadalajara e Huete (Cuenca). Após a guerra, ele foi novamente
convocado e serviu na guarnição de Melilla na África
Voltando à Espanha
começa a trabalhar no Banco Exterior de Espanha, além de ensinar na
universidade. Em 1955 se tornou professor de Estrutura Econômica, na Universidade
Complutense de Madrid, cargo que ocupou até 1969, desempenhando, também, vários
cargos no Banco Exterior de Espanha, atingindo o nível de vice-diretor. Então, escreve: Un sitio para
vivir (teatro). Publica Realidad
económica y análisis estructural e El
futuro europeo de España.
Entre 1965 e 1966,
antes da demissão de professores na universidade espanhola, decide se tornar um
professor visitante nas Universidades de Salford e Liverpool. Juntamente com outros
professores, cria o Centro de Estudos e Pesquisa (CEISA), que foi fechado pelo
governo três anos depois. Em 1968, foi nomeado Professor em universidade
estadunidense.
Em seu retorno a
Espanha solicitou licença da Universidade Complutense e publica O cavalo nu, uma sátira que permitirá
que lhe permitiu desabafar suas frustrações com a situação. Em 1976, ele assume
como economista conselheiro do Banco Exterior de Espanha. Em 1977 ele foi
nomeado senador por designação real, no primeiro Parlamento democrático, posto que
ocupou até 1979.
Ele exerceu seu
humanismo crítico sobre o declínio moral e social do Ocidente, do
neoliberalismo e as brutalidades do capitalismo. Ele morreu em 08 de abril de
2013, em Madrid, a 96 anos de idade.
Com esta biografia,
do qual trouxe poucos detalhes não se poderia esperar um livro — que parece
bastante autobiográfico — que não fosse intelectual, onde se pode sorver, por
exemplo, os conhecimentos de filosofia oriental, aprendidos com seu pai.
El amante lesbiano é uma ardorosa história de amor entre
uma mulher sedenta por homem sem machismo e desfrutando um amante fetichista
que goza em ser submisso à mulher. Uma fantasia erótica alheia à educação
sexual antinatural repressiva que ainda prevalece. Na quarta capa se diz que se
apresenta uma ‘indagação das múltiplas variantes cérebro-genital do amor’.
Com uma
liberdade expressiva, fundada no rigor da razão, o autor aborda a questão da
identidade de gênero e a busca de autenticidade através da transformação
sexual. Ao relatar a experiência de um amante lesbiano, José Luis Sampedro nos
convida mais uma vez para ir ao "mais profundo no emaranhado das
paixões", guiando-nos com lema de Santo Agostinho, marcado já na abertura
do romance: "Ama e faz o que queiras."
É uma dica sabática
de leitura. Quem quiser se aventurar, parece-me que vale a pena.
Confesso não ser o romance meu gênero preferido, mas a eloquente descritiva incentivou-me a leitura.
ResponderExcluirAbraÇos, ratificando os mais sinceros parabens e agradecimentos a esses seres maravilhosos que são as mulheres!
Mestre estimado!
ResponderExcluirAcolho emocionada sua mensagem pelo Dia de hoje!
É algo impressionante a estatura intelectual de Sampedro, que desconhecia.
Recebo a dica de leitura, bem como a disponibilização do livro (que ja comrcei a ler)como um presente pela data!
A admiração da Mirian
"Ama e faz o que queiras." Sem a pretensão de me colocar próximo a estes imortais. Reconheço minha mediocridade, minha mortalidade. Usei numa fala, por ocasião de discurso de formatura em que fui agraciado, a seguinte frase: "[...]e façam o que quiserem, amem, porque, em nome do amor nada é proibido". Penso que o amor é maior que tudo. É que percebi algo em comum com o conteúdo desta estupenda dica sabática. Com a licença do mestre também cumprimento a todas as mulheres...
ResponderExcluir