ANO
8 |
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EDIÇÃO
2708
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Nesta segunda-feira,
na qual segundo alguns, se vive o dito ‘legítimo
início do ano de 2014’ — senso comum que tem minha visceral discordância —
reencontro, pela manhã e à noite, meus alunos da Licenciatura em Música, para
as aulas de Teorias do Desenvolvimento Humano. Estas sofreram uma vacuidade
momesca após o primeiro encontro.
Na edição do último
dia, 25 com
a chamada Assestando óculos para
olhar o mundo apresentei a primeira aula, onde se dizia que há pelo menos
seis óculos com os quais podemos nos servir para olhar o mundo natural: os óculos do senso
comum, do pensamento mágico, dos saberes primevos, dos mitos, da religião e da ciência. Arrumamos,
então, nossa caixa de ferramentas ao examinarmos cada um destes seis óculos. Encerrávamos
encontro dizendo que urgia uma
comparação entre religião e ciência.
É isto que vamos fazer nas aulas de hoje e quero repartir, aqui e agora,
com meus leitores. Agradeço a parceria nesta discussão.
Talvez, valesse antes afirmar, que dentre os seis óculos
(= perspectivas) não afirmamos qual
desses mentefatos culturais1 é o melhor. Tampouco, se veta a alternativa de que haja possibilidade
de nos valermos de maneira eventual, de mais de um deles ao mesmo tempo. Duas
observações decorrentes desta afirmação: a primeira: parece natural,
que por estar em um curso universitário, privilegiemos a Ciência; a outra:
sabemos que se usamos mais de um óculo, simultaneamente, corremos o risco de
vermos embaralhado.
Há pelo menos três razões para entre os seis óculos, compararmos Ciência
e Religiões. Quanto precisarmos as leituras da Ciência já justifiquei
quando referi o lócus de nossas ações. Quanto as religiões merece que se
considere por: 1) o repetido argumento de que religiosos ou não a religião
onipresente em nossas vidas. 2) um cada vez maior recrudescimento dos fundamentalismos.
3) a maior tolerância exige que consideremos aqueles que têm suas leituras
de mundos marcadas pela ateologia.
Assim, consideremos:
As RELIGIÕES afirmam a
existência de uma verdade global, imanente, eterna, completa, que trata tanto
da natureza como do homem. Esta verdade tem uma exigência fulcral para crê-la:
a FÉ.
A CIÊNCIA não tem a verdade,
mas aceita algumas verdades transitórias, provisórias em um cenário parcial
onde os humanos não são o centro da natureza, mas elementos da mesma. O
entendimento destas verdades – e portanto a não crença nas mesmas –, tem uma
exigência: a R A Z Ã O.
Assim há assuntos que cremos por que temos FÉ e outros que entendemos,
pois usamos a RAZÃO.
Concluo com uma utopia: pois, não se prognostica um choque entre o
racionalismo científico e a autoridade da fé. Ao contrário: à Ciência estaria
reservado o papel de explicar e transformar o mundo; e às religiões estaria
destinado garantir que essas transformações sejam para melhor.
1Adiro aos que fazem uma distinção entre artefato e mentefato. O
ser humano age em função de sua capacidade sensorial, que responde ao material
[artefatos], e de sua imaginação, muitas vezes chamada criatividade, que
responde ao abstrato [mentefatos]. A realidade percebida por cada indivíduo da
espécie humana é a realidade natural, acrescida da totalidade de artefatos
e de mentefatos [experiências e pensares], acumulados por ele e pela
espécie [cultura].
Professor, nesses momentos imagino como seria o senhor lecionando em nossa universidade. Em uma aula como essa, os debates iriam longe!
ResponderExcluirAbraÇos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirProfessor Chassot,
ResponderExcluirmuito obrigado por compartilhar conosco, seus alunos remotos, estas aulas que são saborosas.
A admiração
Laurus
Uma preciosidade de aula.
ResponderExcluirEntendo que FÉ e RAZÃO é como Crer sem saber e Saber sem, necessariamente, crer!
Boa semana.