Ano 6 | PORTO ALEGRE | Edição 1867 |
A abertura desta blogada é uma homenagem ao meu filho André, que há 41 anos fez a primavera chegar mais cedo. Hoje ele associa sua atividade de fotógrafo com a de professor de fotografia em programa de inclusão social em escola de periferia. É bom vê-lo entusiasmado com percursos de seus alunos.
Ontem fui ao consultório do Dr. Flávio Kanter, meu cardiologista – sempre me parece muito presunçoso dizer: meu advogado, meu livreiro, minha personal training, meu confessor (isto soa démodé), meu analista – para uma visita de (quase) rotina. Afinal tratava-se de mostrar exames. Claro eu tinha rompido o lacre do laboratório e ‘cantado loas' pela qualidade dos resultados. Aliás, o Kanter defende a tese que os exames são do paciente, então, porque não olhá-los. O que não devemos é mal interpretá-los. Hoje não vamos mais com curiosidade aos médicos. Sabemos que temos e o que não temos.
Mas antes de iniciar propriamente a consulta elogiei o texto que ele tinha publicado no caderno Vida, na Zera Hora de sábado, 10 de setembro de 2011. Parece-me oportuno repartir com meus leitores: Aqui está na íntegra:
· Quando os médicos são os pacientes *Flávio José Kanter, médico cardiologista.
· Com este título, o New York Times publicou no dia 3 de setembro um texto de opinião do médico Eric D. Manheimer, diretor do Bellevue Hospital Center de Nova York. O tema não é inédito. Mas a descrição simples e pungente de sua experiência como paciente de câncer de garganta é digna de ser contada. Entregou-se ao tratamento confiante nos médicos. Conta o sofrimento da radio e quimioterapia e da cirurgia que sofreu para remoção de nódulos linfáticos, do desconforto e do mal estar que lhe causavam, da náusea contínua, da perda de peso, da redução de força física e mental. Lembrava dos relatos de seus inúmeros pacientes quando ele mesmo, como médico de avental branco e estetoscópio ao pescoço, ouvia junto aos leitos estas mesmas agruras. Ele já não era um médico: tornara-se, definitivamente, um paciente.
Para seus médicos, havia números em consideração: 75% de chance de cura, 25% de chance de fracasso, o estadiamento da doença, o número de doses e sessões de radio e quimioterapia. Para Eric, os números eram outros: as seis refeições diárias que eram colocadas por tubo plástico em seu estômago, os passos que conseguia dar sem apoio, as horas que tinha que esperar para poder triturar o comprimido que o colocaria num sono inconsciente. Numa internação mais dramática, ele resolveu desistir. Lembra de, deitado em seu leito, informar médicos e familiares de sua decisão e do desconforto e desesperança por não poderem fazê-lo mudar de opinião. Mas sua esposa Diana disse-lhe, com suavidade e firmeza: “Tu vais terminar o tratamento”. Ele não teve forças para resistir. Precisava disso. Neste dia, ela mesma o conduziu até a sessão de radioterapia.
Hoje, fazem três anos do início dos sintomas. E ele está de volta ao trabalho. Ser médico não nos faz ser bons pacientes. Mas ser pacientes nos torna melhores médicos.
Mais uma vez vibrando com o André, neste seu querido 13 de setembro, desejando-lhe o melhor, hoje e sempre. E para cada uma e cada um de meus leitores, uma muito fruída terça-feira.
Caro Chassot,
ResponderExcluirconversava com os alunos de Bioética, um dia desses, sobre o significado do termo 'paciente' na atualidade. Como já temos conversado aqui nesses espaço, atualmente o paciente está cada vez mais distante: há uma gama de informações à disposição de todos que dificilmente alguém chega de mente vazia ao consultório.
Tens razão, abrir os envelopes dos exames é permitido, desde que se tenha maturidade suficiente para não se desesperar com o que pode conter.
Boa terça-feira!
Garin
Meu caro Garin,
ResponderExcluirprimeiro algo técnico: O blogger hoje conspirou na edição, colocando o primeiro parágrafo em caixa alta. Tentei mudar, mas insucessos.
Realmente o Dr. Kanter tem razão: somos donos de nossos exames e o rompimento do lacre colocado pelo laboratório é uma desobediência consentida.
A palavra paciente também me faz impaciente,
Amanhã pretendo trazer algo da palestra que assistimos na sexta-feira.
Com expectativa
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirPrimeiro, parabéns para seu filho que inicia uma nova etapa produtiva da vida profissional. Quanto aos médicos pacientes, lembro "O Médico Doente" de Drázio Varella. Livro que mostra justamente o médico sofrendo as agruras que vê em seus pacientes, acho que o melhor livro dele. Mais uma vez, parabéns pela postagem, JAIR.
Grande professor,
ResponderExcluirDepois de muito tempo voltei a dar uns pulos aqui no seu blog (entrei naquele dia em que o senhor me avisou, mas não deixei recado porque eu não estava em casa, então foi muito rápido).
Queria ver o que o senhor traria de especial nesta data que é super especial pra mim também (dia do meu aniversário)...
Do texto trazido hoje, quero parafrasear o médico "ser aluno, pode nos fazer ser um bom professor"... Ou melhor, como ouvi nestes dias, "quem não senta para aprender, não deveria se levantar para ensinar...
Obrigado e sucesso sempre...
Muito estimado Jair,
ResponderExcluirrealmente ‘sentir-se’ do outro lado sempre é uma experiência enriquecedora. Permito-me palpitar na tua área: um piloto exímio, fazendo-se passageiro. O livro do Dráuzio Varella conta esta sensação.
Obrigado pelos votos pelo André,
Com admiração
attico chassot
Muito estimado Edmar,
ResponderExcluirprimeiro parabéns pelo teu aniversário, Meu filho André também está de aniversário hoje. Para ti desejo sucesso hoje e sempre.
Muito bem posta a tua conversão do médico que se faz paciente, para a nossa situação de educadores: quem não senta para aprender, não deveria se levantar para ensinar...
Uma vez mais parabéns pelo teu 13 de setembro e obrigado por eleger este blogue como um dos lócus de tuas celebrações.
attico chassot
Quando procurar um Cardiologista ? Sempre! Tanto para prevenção, quanto para iniciar tratamento. Consulte já o seu!
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