Ano 6 | PORTO ALEGRE | Edição 1866 |
Uma segunda-feira, que se segue a um domingo em que tivemos, a rodo, evocações do 11S de 2011, se pode concluir que o medo parece ter aumentado nestes dez anos. Mas o domingo teve algo mais que evocações geradas a partir de Nova York.
Em 10 de agosto, este blogue trouxe, com certo pioneirismo: 10.- Slow Science: Devagar & sempre pois hoje trago algo isonômico: o movimento slow reading propõe um resgate do prazer de ler, na contramão do ritmo acelerado. Alguns de nós hão de lembrar os concorridos e badalados ‘cursos de leitura dinâmica.’
A fonte da blogada de hoje é o caderno Dona, deste domingo em Zero Hora. A matéria é assinada pela jornalista Carolina Klóss, que transcrevo. A ela adito votos de uma muito boa segunda-feira.
Com uma rotina cada vez mais turbulenta e acostumados a obter informações em 140 caracteres ou dividindo a atenção com dezenas de abas do navegador de internet, muitos deixaram de lado um hábito aparentemente banal: ler com calma e prazer.
Isso indica que, embora por conta da internet tenhamos nos tornado receptores constantes de informação, também estamos esquecendo de processar e absorver conteúdos sem pressa. Ao analisar esse fenômeno, especialistas acreditam que uma revolução literária está chegando. Ou, pelo menos, uma prática está sendo retomada. Primeiro, surgiu o slow food (comer devagar). Agora, muitos estão seguindo o movimento slow reading (leitura lenta).
Pesquisado pelo especialista em tecnologia da informação John Miedema, o assunto chegou às livrarias brasileiras sob o título Slow Reading – Os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa (editora Octavo, 128 páginas, R$ 37 em média). De acordo com Miedema, há um número crescente de pessoas frustradas com a sobrecarga de informações, sejam elas impressas ou digitais. Por isso, estariam adotando uma leitura sem pressa. O movimento, como descreve o autor, propõe um resgate do prazer de ler, dando uma chance exclusiva, nem que seja uma vez ao dia, a um bom título.
– Se você quer uma experiência profunda com um livro, se quer internalizar isso, para misturar as ideias dos autores com as suas próprias e fazer disso uma experiência pessoal, você deve ler devagar – relata.
Em Slow Reading, Miedema assume ser um leitor lento. – A leitura demorada de um livro leva a uma relação mais profunda com as suas histórias e ideias. Quando leio um livro lentamente, ele continua me influenciando mesmo depois de passados anos – defende o autor, no preâmbulo da obra.
A doutora em Letras e especialista em Literatura Brasileira Flávia Brocchetto Ramos acredita que todos têm o direito a ler devagar, a saborear e a degustar um bom livro. Para ela, até mesmo histórias em quadrinhos não são narrativas para ler apressadamente, já que temos de pensar nas relações estabelecidas entre palavra e ilustração, por exemplo.
– Comparando com a alimentação, ao receber um bife com arroz e salada, podemos nos alimentar de pé, com o prato na mão, e nem sentir o gosto da comida. Mas também podemos apreciar a disposição dos alimentos no prato, as suas tonalidades, os aromas e sentir a textura de cada um dos alimentos – explica Flávia.
Para praticar o slow reading
- Leia o livro inteiro: capa, prefácio, notas de rodapé e apêndices
- Saboreie as ilustrações e não ouse saltar a poesia
- Subvocalize as palavras ou leia-as em voz alta
- Volte atrás e releia trechos
- Discuta com o livro: o que ele apresenta se comparado à sua experiência?
Em Slow Reading – Os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa, Miedema afirma que, assim como muitos leitores, não dispensa anotações nas margens dos livros, marcações nas páginas e fichamento de partes que julga interessantes. Para ele, é uma forma de saborear personagens e participar das tramas, nem que seja puxando flechas e destilando comentários contrários ao autor.
– É a prova imediata da resposta do leitor ao que ele lê, do diálogo que se dá entre livro e leitor – afirma Miedema na publicação.
O autor é a favor de uma técnica conhecida como marginália, que divide opiniões. As anotações nos livros, que, para muitos, seriam um ato de violência com as obras, para outros são valiosas. É o caso da jornalista Adriana Antunes, 34 anos. Na sua coleção de quase 400 livros, poucos não receberam um sublinhado, um comentário a lápis ou a marcação com um colorido adesivo. Leitora desde pequena, quando se apaixonou por Capitães da Areia, de Jorge Amado, Adriana não lê sem estar acompanhada por um lápis, uma caneta e um caderno de anotações.
– Cada sinal é um código, mas só eu entendo. Risco, sublinho e escrevo muito sobre o que me interessar na leitura. Eu comento e até discuto com o autor nas margens dos livros mesmo – revela a Mestre em Literatura.
As interferências de Adriana nas obras são as mais variadas. Além dos escritos referentes à história, ela desenha nos espaços em branco e faz anotações sobre o que está acontecendo no dia em questão. A certa altura de Por que Sou Gorda, Mamãe?, de Cintia Moscovich, por exemplo, é possível encontrar as frases: “Pai cozinhando. Tarde fria de domingo”.
Nem todos, porém, concordam com a ideia do slow reading. O professor de literatura francesa Pierre Bayard, autor de Como Falar dos Livros que não Lemos (Objetiva, 207 páginas, R$ 34,90 em média), por exemplo, afirma que é absolutamente possível ter uma longa e produtiva conversa sobre uma obra da qual se tenha lido apenas resumos.
Caro Chassot,
ResponderExcluirsou um tanto viciado na tal de Slow Readin. A minha leitura recreativa chega a demorar três anos. O livro Next de Michael Crichton demorei de 2007 a 2010 para concluir sua leitura. Consegui a companhar, vagarosamente o drama da relação vivida pelo cientista às voltas com a sua invenção de laboratório, o David, um chipanzé que falava e o dilema de como se livrar do imbróglio de ter feito uma pesquisa não autorizada pelo Comitê de Bioética de sua universidade. Interagir e conviver com o personagem de um livro é prazeroso e divertido: provoca múltiplas reflexões. A obra que estou lendo agora é A Verdade Lançada ao Solo, de Paulo Rosenbaum, Record, 2010. Iniciei em janeiro 2011 e não tenho previsão de quando irei concluir suas 570 páginas. Obrigado por trazeres esse assunto, confesso que me identifiquei.
Boa semana, caro amigo.
Garin
Garin, estimado parceiro nos blogares,
ResponderExcluirrealmente o slow Science / o slow Reading / o slow Food também me atraem. Não sei se já existe o slow Loving… mas me parece uma boa sugestão.
Uma boa segunda-feira que vejo se faz madrugadora para ti,
attico chassot
Caro mestre e amigo.
ResponderExcluirAinda bem que o hábito da litura lenta está retornando! Sempre detestei leituras "fast food". Ler um texto é degustá-lo, saboreá-lo em cada página, em cada linha, em cada palavra. Mas em nossa sociedade acelerada isso se perdeu. Tomara que retorne com força!
Abs
Renato
Meu caro Renato,
ResponderExcluirvibro com teu retorno.
Oxalá, possamos nos deleitar com muito fruídas leituras,
Com amizade
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirComo leitor compulsivo que sou, não sei dizer se leio devagar ou não. O fato é que os livros ditam a maneira que eu os abordo: alguns são acepipes finos que pedem para serem degustados com vagar; outros se impõem com certa alacridade obrigando-nos a transpô-los sem qualquer parada para descanso; e outros nos conquistam e não queremos largá-los, ficamos tristes quando chegamos ao fim. De qualquer forma, como dizia Fernando Sabino, TODOS merecem ser lidos. E assim, não vou me deter em ler devagar ou rápido, vou continuar seguindo o autor, pois é ele o "culpado" pelo conteúdo que nos agradará ou não. Excelente blogada, parabéns, JAIR.
Muito estimado Jair,
ResponderExcluirdesde que não me impinjam a leitura dinâmica, concordo contigo que quem dá o tom é em geral o autor
Com agradecimentos
attico chassot