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domingo, 27 de junho de 2010

27.- A mutilação genital feminina (mgf) – ela ainda existe!

Porto Alegre Ano 4 # 1424

Um domingo para quase despedir o primeiro semestre. Ele traz promessa: ser ensolarado. Trago uma foto para fazer o contraponto com a publicada na edição de ontem. O local e hora

são os mesmos. Os cenários são diferentes, mas o clima copeiro no Brasil é mesmo: torcida se contrapondo a secação.

Mesmo que seja ratificado meu viés de igrejeiro, não posso silenciar algo deste domingo. No santoral (agiológio ou livro que contém a vida dos santos) católico, consta, para celebração em 27 de junho: São Cirilo de Alexandria, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja (+ 444) Cirilo nasceu em 370 [mesmo ano que nasceu Hipácia], no Egito, e durante muitos anos foi o firme condutor da Igreja do Egito. [...]Ele, na tentativa de eliminar o paganismo, é reponsável pela morte de Hipácia. Numa tarde de março de 415, quando ela regressava do Museu, foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos, instigados pelo Patriarca Cirilo. Ela foi golpeada, desnudada e arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja. No interior do templo, foi cruelmente torturada até a morte, tendo o corpo dilacerado por conchas de ostras (ou cacos de cerâmica, segundo outra versão). Depois de morta, o corpo foi lançado a uma fogueira. São Cirilo morreu em 444. Sua santidade foi reconhecida no pontificado de Leão XIII (1878-1903) tendo sido lhe outorgado também o título de Doutor da Igreja. Seu culto foi assim estendido a toda a Igreja latina.

. Nesses dias vivemos muito imerso em África. Esta blogada hoje foge ao tom de aos domingos trazer algo mais leve. Ontem certamente a maioria de nós vibrou com a vitória de Gana frente a toda poderosa seleção estadunidense (sempre chamada de americana ou norte-americana). Mas o continente merece mais nossa atenta observação

As dicas de leituras de ontem: ‘Um Quixote no coração da África’ no caderno Cultura de Zero Hora de ontem [agendado para a edição de amanhã] e Niketche: uma história de poligamia o emocionante romance de uma escritora moçambicana Paulina Chiziane [a dica de leitura de ontem] podem nos ajudar a entender a sofrida África.

Na mesma direção a leitora Matilde Kalil, do Equador, postou na edição de ontem uma recomendação emocionante que trago a cada uma e cada um, antecedido de minha gratidão a tão atenta leitora. Vale ouvir a voz de Waris Dirie.

Ela é uma modelo somali nascida em 1965 que sofreu com cinco anos de idade a mutilação genital feminina. Por este motivo converteu-se numa defensora da luta pela erradicação dessa prática. Atualmente é embaixadora da ONU, trabalhando para abolir a ablação. Escreveu vários livros sobre suas vivências. Existe uma fundação com seu nome. Waris Dirie fugiu da Somália aos 12 anos de idade após ser obrigada por seu pai a se casar com um homem de 60. A hoje embaixadora da ONU atravessou praticamente a pé um dos desertos somalicos até chegar a capital de seu país Mogadíscio, onde inicia a luta em busca de seu sonho de ser "livre" e de torna-se modelo.

Recomendo, comovido, a todos os meus leitores o

vídeo, de cerca de 3 minutos; www.youtube.com/watch?v=UFDx7kpR8mg&feature=related e escutar uma mulher valente tentando mudar uma das mais odiosas que vige não apenas na África. A locução é em espanhol – em função da origem da indicação. Se for colocado ‘Flor do deserto’ em pesquisar no Youtube, há vídeos em português da mesma Waris Dirie, sobre a mesma temática, mas com outras propostas.

Sobre o assunto, traga um excerto do capítulo “Islamismo: vencendo preconceitos” do Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação, que coincidentemente ocupou parte de meu sábado em processo de preparação da revisão da quinta edição.

Hoje ouvimos estupefatos falar das violências cometidas contra meninas com a extirpação parcial ou total dos órgãos genitais femininos sem anestesia, sendo usados até cacos de vidro, pedaços de metal ou tesouras raramente esterilizadas. Esta circuncisão é considerada como um ritual tribal de passagem da infância para a maturidade e, muitas vezes, garante à mulher um lugar de destaque na tribo. Em muitas situações a mutilação genital feminina (mgf) consiste na extirpação do clitóris (clitoridectomia), havendo situações mais radicais onde os grandes ou/e os pequenos lábios vaginais também são retirados. Esta mutilação parece ter origem na África Central na Idade da Pedra. No Ocidente, a circuncisão foi utilizada como um processo terapêutico até metade do século 20. Médicos britânicos e estadunidenses praticavam a clitoridectomia e castração feminina (retirada dos ovários) para curar a melancolia e ninfomania. Chegou-se a usar esta prática para a “curar” a masturbação, a epilepsia, o lesbianismo e a histeria.


Ao denunciar, com indignada veemência, as discriminações que ainda se cometem hoje contra a mulher, há jornais que o fazem induzindo que se possa fazer uma generalização preconceituosa. Por exemplo, ao informar que comunidades islâmicas, nos EUA e no Canadá, praticam um dos mais violentos atentados contra a mulher, especialmente contra meninas, que é a extirpação clitoridiana. A mgf, que ainda é imposta violentamente a cerca de 6 mil mulheres diariamente, não é uma questão religiosa. Nem o Corão nem a Bíblia recomendam ou aconselham esta prática. A mgf, apesar de ser proibida legalmente em muitos países, ocorre, lamentavelmente, entre muçulmanos, mas também entre comunidades cristãs e judaicas.

O melhor domingo a cada uma e cada um. E, como disse ontem, mesmo que muito envolvidos em África, esse continente tem algo mais que futebol: há o sofrimento muito ignoramos ou até esquecemos.

5 comentários:

  1. ALEXANDRE REZENDE TEIXEIRA escreveu

    Bom dia Professor!
    Queria fazer uma pequena correção na blogada de hoje.
    No mundo do futebol, a seleção estadosunidense não é uma gigante, mas sim uma média para pequena seleção!
    Um bom domingo!
    Alexandre

    ATTICO CHASSOT respondeu

    Meu caro colega Alexandre,
    absolutamente correta teu reparo. Meu equivoco foi dizer “a toda poderosa seleção estadunidense” e não ter dito como era minha intenção: “a seleção estadunidense de uma nação toda poderosa”.
    Muito obrigado por teu oportuno reparo.

    attico chassot

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  2. Mestre Chassot! Que barbaries ainda se comete nestas naçoes africanas, sabidamente vilipendiadas por muitas naçoes brancas numa exploraçao que ultrapassa décadas de História. Como se nao bastasse, ainda a mutilaçao genital feminina. Cada vez que leio coisas desse naipe, admiro muito mais minha cachorrinha "Nina" e seus comparsas. Embora nao possuam o raciocinio, me parece serem muito mais inteligentes. Uma boa semana. JB

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  3. Meu caro Jairo,
    realmente doloroso ver a dor das mulheres da sofrida África. Amanhã vou contar algo de um africano que ajuda a minimizar essa dor.
    Às vezes parece que a Nina e seus comparsas pensam.
    Um maradônica boa tarde,
    Com admiração e agradecimento pelo prestígio que dás a esse blogue com teus comentários
    attico chassot

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  4. Caro professor Chassot
    Foi com satisfação que acessamos seu blog e lemos sua carinhosa avaliação sobre nosso trabalho.
    Salientamos igualmente que o realizamos sempre na busca de qualificar os textos dos autores que a Editora Unijuí publica.
    Agradecemos e colocamo-nos a sua disposição.
    Cleusa e Denise
    revisoras

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  5. Muito estimadas Cleusa e Denise,
    Fico muito feliz que tenham conhecido no meu blogue o merecido reconhecimento que faço ao trabalho de vocês.
    Parece que se cria um vínculo muito forte entre revisores e autor.
    Encanto-me com o trabalho de vocês,
    Com admiração
    attico chassot

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