Porto Alegre Ano 4 # 1419 |
Aqui com um inverno que parece quer mostrar que não veio apenas no calendário. Diz-se que esta é a noite mais fria dentre aquelas inaugurais de um inverno desde há muito. Inicio minha terça-feira de olho na minha agenda. Há uma fala em cenário inédito. Esta tarde tenho uma palestra no Colégio Militar de Porto Alegre. O ensino de História do Brasil – especialmente acerca do período da ditadura – nas instituições militares foi assunto aqui na última quarta-feira. Hoje trago dois lados de uma moeda, mas antes me permito trazer minha adesão a uma proposta que acredito.
Estão abertas até o dia 24 as inscrições para o vestibular de inverno do Centro Universitário Metodista – IPA. As provas ocorrem no dia 27. Entre mais de duas dezenas de cursos, merece destaque o Bacharelado em Filosofia. Este curso forma profissionais que desejam ampliar seus horizontes de reflexões, podendo atuar nas diversas áreas da Filosofia e afins. O curso é noturno e conta com um corpo docente qualificado. Dentre as várias possibilidades de atuação futura, destacam-se: instituições públicas e privadas voltadas à cultura e à educação; atuação em jornais, revistas e editorias; atuação em comitês de ética em saúde e áreas afins. Também prepara os estudantes para o prosseguimento da carreira como docentes ou pesquisadores. Vale conferir detalhes deste e de outros cursos em www.metodistadosul.edu.br
Ontem trouxe aqui comentário de La Nación, um reacionário jornal madrilenho: “Só podem chorar por Saramago, aqueles que não o conheceram”. Ele não está sozinho.
O "L'Osservatore Romano", o jornal oficial do Vaticano, ataca duramente o escritor português José Saramago, chamando-o de "populista extremista" em sua edição deste domingo. Com o título "O grande (suposto) poder do narrador", critica com virulência o Prêmio Nobel de Literatura, que era marxista e ateu. O "L'Osservatore Romano" o definiu como "um ideólogo antirreligioso, um homem e um intelectual que não admitia metafísica alguma, aprisionado até o fim em sua confiança profunda no materialismo histórico, o marxismo". O jornal considera ainda que o escritor "colocou-se com lucidez ao lado das ervas daninhas no trigal do Evangelho".
Por todo o mundo, se lamenta a morte do grande escritor comunista português José Saramago.
A literatura universal perde um de seus maiores mestres. De origens camponesas, apesar de ter trabalhado em diversos ofícios antes de se dedicar à escrita, Saramago nos propõe, a partir de seus romances, que reflitamos sobre alguns dos principais dilemas humanos.
Logo naquele que é considerado seu primeiro grande livro, chamado “Levantado do Chão”, nos descreve tão bem a tragédia do camponês do sul de Portugal na luta para ver a terra dividida.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sente profundamente a perda desse grande intelectual. Mas, acima de tudo, sentimos a perda de um amigo e camarada.
Amigo que sempre tivemos por perto na defesa das mesmas bandeiras de Reforma Agrária, igualdade e justiça social, sem nunca esconder a sua posição política.
Amigo do qual recebemos sempre solidariedade. Seja na forma de palavras, seja com ações concretas, como a que teve para conosco quando se somou à exposição e livro de fotografias Terra, juntamente com Sebastião Salgado e Chico Buarque, em 1997. Graças a essa iniciativa, pudemos iniciar a construção de nossa escola nacional.
Ou quando recusou, em agosto de 1999, receber o título de doutor “honoris causa” no Pará, em sinal de protesto contra o andamento do julgamento do massacre de 19 Sem Terra em Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996.
Nós, Sem Terra do Brasil, seremos sempre gratos à sua solidariedade. E nossa maior homenagem lhe prestamos por meio da nossa luta por uma vida digna para os trabalhadores rurais do Brasil e do mundo.
E assim como ele seguiremos solidários com todos os povos oprimidos, como do Haiti e da Palestina.
Suas palavras e seu exemplo continuarão sempre a incitar a nossa reflexão e luta, como essas:
O mal é não estarmos organizados, devia haver uma organização em cada prédio, em cada rua, em cada bairro, Um governo, disse a mulher, Uma organização, o corpo também é um sistema organizado, está vivo enquanto se mantém organizado, e a morte não é mais do que o efeito de uma desorganização,… (José Saramago, em "Ensaio Sobre a Cegueira")
A matéria é ilustrada com esta foto de 1997: João Pedro Stedile, José Saramago, Sebastião Salgado e Chico Buarque no lançamento do livro Terra.
Desejo a cada uma e cada um uma muito boa terça-feira. Talvez, amanhã, tenha algo a contar da fala desta tarde.
Meu querido Chassot! Não se podia aguardar outra coisa que não fosse um renitente desprezo por parte da Santa Sé em relação a Saramago. Num momento em que as denuncias de pedofilia expõem as vísceras da Igreja Catolica, tudo que for para desviar a atençao é motivo de publicação. Quanto ao Colegio Militar, creio que terás um bom desafio hoje, já que a instituiçao comumente tem distorcido a memoria brasileira a seu favor; haja vista os livros publicados pela BIBLIEX e que nós historiadores por consciencia guardamos distância. Adotar esses livros para refletir sobre a ciencia da História é como ler Eduardo Bueno. Abraços do JB.
ResponderExcluirMuito caro Jairo,
ResponderExcluirprimeiro obrigado por já nesta manhã de muito frio trazeres um tão judicioso comentário a minha postagem da madrugada gélida.
Também agradeço a tua empatia com meu desafio desta tarde. Tenho apreensões.
Quanto à comparação da produção dos livros da BIBLIEX aos de Eduardo Bueno, discordo. Os primeiros são de doutrinação objetiva, os outros são de recreação histórica. Claro que aceito o corporativismo dos historiadores, como tu, de não engolirem o Peninha – um jornalista – fazendo História. Permito-me fazer cópia desse comentário ao Marcos Vinicius, pois esse é assunto de sua seara. Seria bom que ele se manifestasse.
Quanto ao Vaticano, há que reconhecer – mesmo esquecendo a máxima latina De mortuis nihil nisi bene (bonun) – que foi coerente: “Aos inimigos, batatas”. Não dava para admitir ao ateu visceral os céus, ele que mais do que não acreditar em Deus o ‘ridicularizou’ (tinha escrito: esculhambou, mas o corretor do Word achou chulo, mas me parece bem posto para situação).
Uma vez mais obrigado e agasalha-te,
attico chassot
Nossa, mas o que visão estreita esta da Igreja sobre Metafísica...
ResponderExcluirNão é de se surprender, vindo do veículo que veio, mas segue trecho da notinha publicada pela revista (IN)veja
"Ao lado da criação literária, manteve-se sempre ativo, e equivocado, na política. Embora tenha feito críticas insignificantes a execuções de opositores em Cuba, declarava-se um "amigo" da ditadura dos irmãos Castro."
Conservadorismo enfurecido e covarde em se manifestar após a morte do escritor.
ps: talvez?? é claro que terá p que contar!Ficamos no aguardo
Estimada Marília,
ResponderExcluirrealmente ‘L’Observatore Romano’ poderia ter lembrado a máxima dos romanos De mortuis nihil nisi bene (bonun) – e não falar (mal) dos mortos, pois deste diz máxima: nada a não ser o bem.
Não conheço essa revista (In)veja que citas, mas deve ser também uma patrulhadora (dos mortos).
Obrigado pela tua presença aqui,
attico chassot
(In)veja foi só um trocadilho, para não citar a famosa Olha!
ResponderExcluirMuito querida Filósofa,
ResponderExcluirfui tolo e não saquei tua sutileza.
Afagos de boa noite
attico chassot