Porto Alegre Ano 4 # 1398 |
Estamos inaugurando já o sexto mês do ano. Usualmente junho chega grávido de comemorações, especialmente relacionadas às festas juninas na celebração de santo Antônio, são João e são Pedro. Estes, pela ordem, talvez, os santos mais populares na religiosidade e no folclore do povo brasileiro. Não há como não evocar as fogueiras de minha infância ou a minha única estada em uma festa junina no Nordeste brasileiro, em Jequié na Bahia. Esse ano as festas juninas vêm travestidas de verde e amarelo, na esteira da Copa do Mundo. Ainda ontem em almoço com meus quatro filhos, ante o centralismo em ‘coisas da Copa’ – álbum de figurinha’ – comentei que vou começar juntar dinheiro para em 2014 viver por um meio ano no exterior. Se esse ano a movimentação futebolística está intratável, pode se imaginar o que será quando a Copa do Mundo será no Brasil.
Eu, afortunadamente tenho no meu junho de algo mais que futebol (e não vou aqui cometer a inconfidência de dizer que não torço pelo Brasil no futebol). Em paralelo com aulas na UAM - Universidade do Adulto Maior e no curso de Filosofia, tenho amanhã uma viagem à Rondônia para cinco falas em Porto Velho e Ariquemes, na outra semana a Juiz de Fora e Barbacena, em Minas Gerais e na terceira semana vou a Itumbiara em Goiás. Tenho ainda, na terceira semana, uma palestra no Colégio Militar em Porto Alegre.
Como disse com propriedade o Jairo – ratificado por Luís, Matilde, Thaiza e Maria Lúcia – em comentário à blogada de ontem: “Realmente um exemplo de superação, o da advogada Alexandra Szafir. Quantos de nós vivemos às queixas de cansaços, dores e depressões por motivos banais. Se tomássemos exemplos como esse, por certo, estaríamos fazendo valer o crédito que nos foi dado. Tenha aquela blogada efeito motivador para um início de semana de muitas realizações e superação.” Assim que junho não seja apenas futebol e festas, até porque ‘tempus fugit’.
Na semana que passou disse que uma data –23 de abril de 1960 – merecia um comentário aqui. Nesta data, portanto há 50 anos, a pílula anticoncepcional recebia a permissão para ser receitada, distribuída e vendida explicitamente como anticoncepcional oral nos Estados Unidos. Começava uma “revolução” que incidiria nos anos seguintes na vida de milhões de mulheres de todo o mundo, e através delas nos homens, nas famílias e nas sociedades de todas as nações. No Brasil seu uso se torna popular nos anos 70s.
A pílula contraceptiva oral combinada, também conhecida como pílula anticoncepcional, ou simplesmente "a pílula", é uma combinação de estrogênio e progestágeno administrada oralmente para inibir a fertilidade normal da mulher. Os contraceptivos orais foram aprovados para o uso inicialmente nos Estados Unidos, e são uma forma muito popular de controle de natalidade. São usadas atualmente por mais de 100 milhões de mulheres em todo o mundo e por quase 12 milhões de mulheres nos Estados Unidos. Os usos variam amplamente entre os países, idades, educação e estado matrimonial: um quarto das mulheres entre 16 e 49 anos na Grã-Bretanha atualmente usam a pílula (pílula combinada ou mini-pílula), em comparação a somente 1% das mulheres no Japão.
Ainda na minha fala no Café Filosófico, que comentei aqui no sábado, dizia que mesmo que muito provavelmente possa parecer um reducionismo creditar a pílula anticoncepcional – um ícone dos métodos contraceptivos – como sendo a responsável por um maior número de mulheres presente, no ocaso do segundo milênio, nas realizações da Ciência, parece que essa é uma hipótese facilmente defensável. Não parece um despropósito afirmar-se que o fato de as mulheres serem as principais responsáveis por criar seus filhos as tirou / tira por muito tempo de suas pesquisas. A ciência progride muito rapidamente e aquelas que se afastam por alguns anos para se dedicar aos fazeres da maternidade, gastam muitas vezes até o dobro do tempo para se reciclarem e se re-atualizarem. Há áreas nas quais ficar fora da produção acadêmica por alguns meses pode ter conseqüências bastante críticas.
É só a partir dos anos 70 do século passado, que a contracepção faz cair de uma maneira acentuada o número de filhos por casal. Mesmo que, em 1968, Paulo VI publicasse a encíclica Humanae Vitae, com normas muito definidas a respeito as sexualidade para os esposos católicos, especialmente no que se referia a usos de métodos não naturais de controle da natalidade, a Igreja Católica perde, pelo menos
no que se refere a regulamentação dos nascimentos, a sua autoridade, antes tida como quase incontestável. A partir da possibilidade de os casais optarem, inclusive com auxílio das novas descobertas da área médica, gerações que provinham, então de famílias com sete ou mais filhos formaram casais com três ou quatro filhos, para esses constituírem famílias com dois filhos ou até um. Vale referir que e se considerava pouco fecundas, no final do Século das Luzes, aquelas mulheres que só tivessem 4 ou 5 filhos, pois destes a metade morria antes que pudessem gerar outros filho e assim a espécie corria o risco de desaparecer.
Em conseqüência da diminuição significativa da taxa de fecundidade, a mulher não teve apenas diminuído os anos de gestação e lactação – pode-se inferir que antes do advento da pílula, dos 20 aos 35 anos, uma mulher estava quase permanentemente grávida e / ou amamentando – mas pode passar a exercer atividades no domínio público, ao invés de ficar quase exclusivamente no gerenciamento do lar. No A Ciência é Masculina? conto que Margaret Sanger, uma feminista estadunidense, que foi levada à prisão em 1916, acusada de práticas obscenas, por ter organizado uma clínica de orientação para a contracepção. Não se deve esquecer que, ainda na segunda metade do século 20, houve movimentos anti-feministas que iam às ruas para bradar que a melhor profissão da mulher era ser dona de casa; as esquerdas, e especialmente os movimentos feministas, eram acusados de conspirar contra a instituição familiar por reivindicar para as mulheres iguais oportunidades de trabalho.
Como o primero de sete filhos, recordo que minha mãe – muito católica – contava que o padre no confessionário inquiria pela idade dos filhos menores. Se estes tivessem dois anos ou mais, o questionamento era o que o casal estava fazendo que não tinha atos conjugais procriativos.
Recordo também da presença no quarto de meus pais de um misterioso ‘irrigador vaginal’, alouçado branco, sempre tão escondido quanto possível com sua mangueirinha de borracha vermelha que terminava com uma torneirinha preta.
Lembro também de um livro, muito bem escondido, que tinha instruções acerca dos dias férteis do ciclo menstrual (tabelinha de Ogino-Knaus). Pasmem, uma e outra alternativa contraceptiva, são ainda as permitidas (e recomendadas) a casais que seguem a ortodoxia católica.
A teóloga [sempre me surpreendo que com um viés machista o corretor do Word não reconhece o feminino de teólogo] católica Maria Clara Lucchetti Bingemer, publicou no apreciado sítio Amaivos: “Humanae Vitae: Muito além da pílula”. http://amaivos.uol.com.br] Trata-se de um texto abalizado analisando Encíclica do Papa Paulo VI, documento que trata justamente da concepção e contracepção da vida humana, lançado já dois anos antes da liberação da pílula anticoncepcional. Esta ficou conhecida como a “encíclica da pílula”, por se posicionar contra a mesma antes mesmo de sua liberação, mas já a prevendo.
Na douta análise da teóloga ela afirma que “isso é uma injustiça. Na ‘Humanae Vitae’ há muito mais que uma condenação da pílula. Há, isso sim, uma profunda e bela reflexão sobre a vida humana em sua totalidade e integralidade. O documento papal se move e se expressa dentro da dinâmica que permeia toda a revelação e a teologia que dela é reflexão: a dinâmica do dom”.
Recomendo a leitura do texto, pelas suas bem postas defesas à postura da Igreja, mesmo que continue admirando muito mais aquelas mulheres que sabem ouvir uma voz, talvez mais sábia do que a da Igreja, que lhes diz: “Liberta-te daqueles que querem pensar por ti e pensa!”
Com votos de uma muito boa terça-feira, a expectativa de um novo encontro amanhã. E, mais uma vez, saborosos dias juninos.
(só uma histórinha):
ResponderExcluir...por volta dos meus 14 anos, quando ainda morava na minha cidadezinha, eu e mais algumas meninas visitavamos famílias do interiorrr orrr como apóio à assistência de saúde, e numa dessas encontramos um casal- seis filhos- que, segundo palavras da esposa "isso (a pílula) não tá certo,todo dia eu dô pra ele o comprimido esmagado no leite".
he, abraços, Mestre
Marília
Marília querida,
ResponderExcluirfantástica tua história. Quando escrevi esse texto imaginava que mais leitores e leitores trouxessem histórias como generosamente contas.
Muito obrigada com encantamentos.
attico chassot
Querido Chassot,
ResponderExcluirQuando nossa Jequié está toda enfeitada de bandeirolas, enfeites juninos,lembro-me de você. Lembra da nossa quadrilha improvisada? Foi ótimo! Que Comemoração junina !!!!
Estamos nos preprando para o forró pé de serra, você fará falta.
Saudades!!!!
Joélia querida,
ResponderExcluirnessa blogada evoquei Jequié. Realmente devem estar já vivendo festas juninas esse ano verde- amarelas.
Saudades de Jequié,
attico chassot
quero saber a pilula mais adequada para o uso de adolecentes! obrigado.
ResponderExcluirEstimada/estimado Joker,
ResponderExcluireste blogue opina apenas acerca de questões relacionadas com Educação. Mesmo considerando relevante tua questão, por tratar-se de assunto de área médica, permito-me não opinar, Afianço-te que não sei se há diferenças nas pílulas anticoncepcionais para adultos e/ou adolescentes,
Obrigado por tua visita aqui e lamento não poder responder.
attico chassot
Neste estudo de pesquisa bibliográfica quero evidenciar os efeitos da alteração hormonal como fator desencadeante para o desequilíbrio homeostático na liberação do hormônio antidiurético (ADH) tendo como consequência no organismo a predisposição a Doenças Crônicas, DST e câncer.
ResponderExcluirLEIA MAIS EM:
http://www.webartigos.com/artigos/reflexao-sobre-o-risco-a-saude-relacionado-ao-consumo-irracional-do-contraceptivo-hormonal-pela-mulher/73964/