ANO
7
|
AGENDA em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR |
EDIÇÃO
2509
|
Depois
de uma semana muito fria, hoje é um domingo ensolarado e de temperatura
agradável aqui em Porto Alegre. Foi uma
semana de muito papa. Não vou contabilizar o número de minhas horas que vi o
papa na televisão. Ele é 10*** na missão que o trouxe ao Brasil.
Claro
que tive outros lazeres além da bonita ópera popular que foi a encenação da “Via
Sacra” com censura vaticana, que a Gelsa e eu assistimos na sexta-feira na
lareira com outro argentino: um malbec. Ontem, por exemplo, vimos a pré-estreia
do excelente filme “Hannah Arendt”, o qual deducarei uma blogada.
Mas
hoje esta edição se faz fora de seu horário habitual, para apresentar um texto acerca
da visita do papa ao Brasil, publicado no caderno Cultura de Zero Hora
deste sábado. Ele nos convida a reflexões. Reservo, para evitar preconceitos,
autoria e créditos para o final.
Sua Santidade, Marco Bergoglio Como a vinda
do papa revela a facilidade com que o Estado brasileiro viola sua laicidade
constitucional
Simultaneamente
à chegada do papa ao Palácio da Guanabara, na segunda-feira, manifestantes em
seis cidades do país exigiram seu direito de não serem tratados como cidadãos
de segunda classe do Estado brasileiro. No Brasil, algumas pessoas podem ter
seus eventos religiosos promovidos com dinheiro público; outras, não. Alguns
têm as viagens dos líderes de suas religiões promovidas com dinheiro público;
outros, não.
Podemos até
custear a segurança do papa, mas não é de interesse público torrar R$ 850 mil
de impostos em sua recepção, ou usar aviões da FAB para trazer os veículos
papais ao Brasil. Pelo mesmo motivo não se pode utilizar as Forças Armadas para
transportar ícones religiosos, criar feriado municipal em quatro dias, nem
transferir para o Estado os gastos em saúde que cabem aos organizadores de
qualquer evento, segundo entendimento do próprio Ministério Público do Rio de
Janeiro. E esses são apenas alguns exemplos. Levantamentos apontam cerca de R$
120 milhões em gastos públicos – e o Estado se recusa a dar transparência a
esses números, divulgando as cifras exatas.
Apelidamos de
“desbatismo” a forma encontrada para protestar contra o uso da coisa pública
pela religião. Com o desbatismo, afirmamos que ninguém tem direito de nos
impingir uma religião: nem a nós, pessoalmente, nem ao dinheiro dos nossos
impostos, nem ao Estado brasileiro. Afinal de contas, o uso de dinheiro público
em eventos católicos nos torna, todos, católicos à força. Essa influência é não
apenas injusta como também ilegal, pois contraria a laicidade constitucional do
Estado brasileiro e nossa liberdade de consciência e crença, excluindo todos
aqueles que não são católicos. E, segundo as últimas pesquisas, os eleitores
não católicos são 43%.
Com o
desbatismo, estamos dizendo: não somos menores, somos iguais. E não queremos
que o Estado ceda seu poder ou seu dinheiro a qualquer crença ou descrença. O
financiamento público de viagens de chefes de Estado só é justo quando elas se
devem a assuntos de Estado, não a fins religiosos. Nenhuma norma ou prática
pode contrariar princípio constitucional como a laicidade.
Convém lembrar
que nem entre os católicos há muitas pessoas que levam a sério a mensagem da
sua igreja. No Brasil, as pessoas se divorciam. Muito. E livremente. Elas usam
pílula e camisinha, fazem sexo fora do casamento, fazem ou se beneficiam de
pesquisas com células-tronco e reprodução assistida. Brasileiros dão direitos
aos homossexuais, fazem aborto de anencéfalos e em caso de estupro. E todas
essas coisas podem acontecer aqui, não graças a qualquer deus, mas apesar do
catolicismo, apesar do papa, e graças à laicidade do Estado que teimam em
violar.
Desde a
fundação da República as autoridades tratam a laicidade com descaso. E as
violações ocorrem de maneira perversa, porque o Estado já não tem influência
nenhuma sobre a religião, mas a religião continua utilizando o Estado para
ganhar dinheiro e influência. Isso precisa parar.
A ascensão de
Marco Feliciano à presidência da comissão de direitos humanos da Câmara dos
Deputados causou uma onda de indignação ao país, e reacendeu discussões sobre a
necessidade de manter a laicidade do Estado. Mas ninguém se lembrou de apontar
que o pau que bate em Chico, também bate em Francisco – mesmo que ele seja o
papa. O TJ gaúcho já fez a sua parte, retirando os crucifixos das salas de
audiência, mas no restante do país, as repartições públicas continuam recheadas
de símbolos religiosos, assim como nosso dinheiro. Laicidade é para
salvaguardar o Estado de todas as religiões, não só da religião alheia. Não é
possível trabalhar pela retirada do Estado se o objetivo for tirar só a
religião dos outros.
Em outras
palavras, o avanço evangélico sobre o Estado brasileiro era uma tragédia
anunciada. Um país que não sabe levar sua laicidade a sério, e não se
constrange em convidar padres para dar bênçãos em inaugurações de prédios
públicos, ou em impor bíblias e sua leitura no ritual do legislativo, não pode
reclamar das consequências quando os muitos Felicianos do país tomam as rédeas
do poder. O remédio é simples: levar a separação entre Estado e religião a
sério. Sempre. Em todos os lugares e instâncias. Só isso fará do Brasil um país
justo e igualitário em termos religiosos.
Verdade seja
dita: a crucificação de Feliciano (ops...) foi uma enorme injustiça. É verdade,
ele é homofóbico de carteirinha, camiseta e diploma, tem posições claramente
contrárias aos direitos humanos, deseja interferir nas políticas de saúde
pública e quer fazer todos os brasileiros rezarem por sua cartilha religiosa.
Quer dizer: é igualzinho ao papa. Feliciano é até mais liberal: apoia o
ordenamento de mulheres e o casamento de sacerdotes. A diferença é que ele não
torrou centenas de milhões de reais de dinheiro dos contribuintes, nem usa
vestido em público.
Por isso,
entendam: nenhuma crença ou descrença pode ser privilegiada pelo Estado. Sem
exceções. São os fiéis de uma religião que devem sustentar as atividades dela e
de seus líderes. Não importa quantos adeptos tenha. A igualdade não está
sujeita à maioria e não depende de voto: é um princípio inegociável de uma
República democrática e justa.
Daniel
Sottomaior |Presidente da Associação Brasileira De
Ateus e Agnósticos (ATEA)
Concordo em parte com a crítica postada. Acho um absurdo esta prosopopeia toda quando tantas necessidades se fazem urgentes. Apesar de católico não praticante vejo nesta adoração exagerada ao Papa uma grande hipocrisia do homem. Agora por outro lado a nação não pode deixar de recebe-lo com as honras de chefe de estado. O problema é que o momento da nação não é propício, e nossos corruptos dirigentes não desperdiçam a chance de enfiar a mão em nossos bolsos. Retifico e ratifico uma frase que citei em comentário passado; "A estrada do inferno é pavimentada de boas intenções" frase esta de Marx e não de Napoleão.
ResponderExcluirabraços
Chefe de Estado? Desde quando esse Chico veio aqui como chefe de Estado? Me poupem!
ExcluirDesculpe-me amigo J.Carlos não poupa-lo de alguma informação, esta transcrita da wikipédia "in verbis" - A Cidade do Vaticano é um Estado eclesiástico9 ou teocrático-monárquico,5 governado pelo bispo de Roma, o Papa. A maior parte dos funcionários públicos são todos os clérigos católicos de diferentes origens raciais, étnicas e nacionais. É o território soberano da Santa Sé (Sancta Sedes) e o local de residência do Papa, referido como o Palácio Apostólico.- Como o amigo pode ver o Papa é um chefe de estado.
Excluirabraços
Me poupe dessas informações, também posso consultar a Wikipédia. Mas não preciso porque sei que o Vaticano é um Estado e o Papa é chefe dele. Só não entendo porque prestar homenagem a Chefe de Estado a uma Papa que veio aqui como chefe religioso e não cumpriu SEQUER um ATO de Chefe de Estado.
ExcluirLimerique
ResponderExcluirPaís laico como esse nunca se viu
Onde a igreja detém poder civil
Aqui papa tem poder
Que não deveria ter
Terra do faz de conta esse Brasil.
Faz pensar...
ResponderExcluirAo mestre Chassot: Se o menino não tem educação ou sente fome, o que deve interessar é que ele deixe de ter fome e tenha educação. Se a educação será dada pelos católicos,judeus eu acrescento " Ateus",políticos não me importa.A urgência é que não podemos brigar entre nós temos que trabalhar pelo próximo. Nenhuma crença ou descrença. Um forte abraço Ley
ResponderExcluirNão tem nem o que comentar. O texto do Daniel diz tudo. Parabéns, Mestre Chassot, por mais essa oportuna blogada.
ResponderExcluir