ANO
7
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EDIÇÃO
2497
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Quiseram
os deuses (¿ou são ogros? tão atabalhoadas elas estão) que controlam nossas
agendas que esta edição semanal ocorresse em um 11 de julho tão denso de evocações
e de expectativas.
Estas duas emoções, antípodas temporalmente, se dão em duas dimensões
distintas. A primeira no âmbito pessoal; a segunda, se espraia nesse mentefato,
às vezes difuso (ou, pelo menos, confuso) chamado Pátria.
Da
primeira um fazer-me saudade na evocação do aniversário de meu pai. Na minha
história sempre foi data querida. Talvez a mais bonita homenagem que posso
fazer-lhe é repetir a dedicatória que já circula há quase 20 anos na abertura de
A ciência através dos tempos.
Acerca
da segunda, como escrevo às vésperas do dia 11, ainda não tenho dados do
sucesso (que espero) da grande paralização nacional prevista para hoje. Cada
uma e cada um de nós vive a seu modo os protestos de junho. Há os que vituperam
e os que aplaudem.
Desses
há os que vão as ruas; os que torcem pelo sucesso. Outros escrevem a favor e,
especialmente, esforçam-se para entender. Talvez, graças as facilidades da
difusão de análises nunca antes tenha nos sido oferecido tanto para ler.
Circula já uma das primeiras
publicações de caráter mais acadêmico Revista Poli educação / saúde / trabalho (revista de
divulgação científica da FIOCRUZ) sobre as últimas manifestações de rua
(inclusive com críticas à maneira que a mídia de massa divulga a situação). Ela
está disponível em
No último domingo, 07JUL13, entre leituras muito críticas (e, às vezes, tendenciosas) aprendi muito com o texto 2013: ano da República escrito por Lilia Moritz Schwarcz e publicado no Ilustríssima da Folha de S. Paulo. O texto é extenso para uma edição aqui. Trago apenas a conclusão antecedida de um breve resumo.
Em 2013: ano da República, a renomada historiadora
faz, por meio de bem conduzida análise histórica, comparações entre o ativismo
civil nas ruas em 1831 e com o que ocorre em 2013. O "basta" que ecoa
das manifestações atuais no Brasil encontra paralelo histórico: em 1831,
milhares foram às ruas protestar contra desmandos de d. Pedro 1º e destilar
insatisfações diversas, em onda que culminou com a renúncia do imperador. O episódio
foi lido à época como marco fundador efetivo da nação.
A
pressão subiu a tal nível que o imperador resolveu jogar a última carta:
abdicou em favor de seu filho, que na época contava cinco anos de idade. No dia
7 de abril de 1831, por volta das três horas da manhã, a carta de renúncia era
entregue para ser lida publicamente. A notícia foi recebida com grande
entusiasmo, versos patrióticos, hinos cívicos e vivas a "Pedro 2º, imperador
constitucional do Brasil".
Há quem diga
que a história não se repete e que, quando parece fazê-lo, na verdade desnuda
outra circunstância.
A seguir o segmento final do texto acima referido:
Mas
persiste um déficit republicano na raiz da nossa comunidade política. Falta uma
agenda ética capaz de transformar o sistema político-eleitoral e o
comportamento partidário. A corrupção corre o risco de parecer endêmica e está
associada tanto ao mau trato do dinheiro público quanto ao descontrole das
políticas governamentais.
Por
outro lado, os investimentos em infraestrutura, a superação dos grandes gaps
sociais e o aperfeiçoamento dos serviços oferecidos não parecem avançar em
ritmo compatível com a propaganda do país no exterior.
São
ainda muitos os desafios para alterarmos nosso imperfeito republicanismo. Entre
eles está a adoção de valores que visem à construção do que é público, do que é
comum.
Frei
Vicente do Salvador, considerado o primeiro historiador brasileiro, nos idos de
1620 escreveu um belo opúsculo e o chamou de "História do Brazil". O
nome do país nem ao menos se escrevia com "s", e o religioso
franciscano já concluía: "Nenhum homem nessa terra é repúblico, nem zela
ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular".
Talvez
comece nesse desafio de junho de 2013 mais um capítulo da história do Brasil.
Afinal, feita a opção democrática, é hora de a República poder vingar.
¿Será este 11 de julho de 2013 um dia da
dimensão de um 7 de setembro de 1822 ou 7 de abril de 1831?
Bom dia Mestre Chassot, temos algo em comum, meu velho pai também era marceneiro, e dizia com muito orgulho ser esta a profissão de Jesus Cristo. Quanto ao nosso 11 de julho lembraria que Kant em sua doutrina exprime a necessidade do homem sair da "menoridade" e se libertar da tutela do Estado. Porém engana-se quem acreditar que com isso fazia apologia a desobediência civil, ensinava ele que o cidadão devia procurar os caminhos legais para tal intento. Digo isto porque os movimentos recentes até então foram autênticos pela não aceitação de bandeiras, e estes que ai estão, a reivindicar a manifestação de hoje, nunca nos representaram, tanto é que chegamos a este ponto. Tenho medo da turba insurgida pelo clamor de flâmulas, hava visto as tragédias perpretadas pelas famigeradas torcidas "organizadas". Há de ser ter cuidado para que o povo não sirva de massa de manobra para gênese de novos "ícones".
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirEra uma endêmica corrupção
Que assolava a República Nação
Ladroagem e o resto
Na rua geram protesto
E ladrões cagam e andam pro povão.
Muito caro Mestre Chassot,
ResponderExcluirsonhar é preciso. Agora, já no ocaso do dia de protesto quase afirmo que o senhor semeia utopias.
Em tempos de crises isso — também — faz bem.
E amanhã, professor,
Laurus Loureiro Lima
Estimado Laurus.
ExcluirObrigado por teus sempre (im)pertinentes comentário.
Como utópico fui ingênuo.
Acabo de fazer um anúncio no Facebook
.Escrevi:
Anuncio uma edição para uma blogada para esta sexta-feira: O DIA SEGUINTE... UMA (DESILUSÃO). Não tenho (e não sei se há) um balanço mais denso do dia de ontem. Para a interrogação que encerrava a última edição desta quinta-feira:
¿Será este 11 de julho de 2013 um dia da dimensão de um 7 de setembro de 1822 ou 7 de abril de 1831?
A resposta é certamente ‘Não’. Foi (talvez) mais um sonho que se esboroou.
Nesta quinta-feira ouvi a “Voz do Brasil”. Poderia chamar-se a “Voz da Ilha da Fantasia”. No primeiro segmento (a parte do executivo) não houve segundo de menção de manifestações que houve no Brasil no dia 11JUL13.
Mas algo deve ter sobrado.
achassot