ANO
7
|
Livraria virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR |
EDIÇÃO
2495
|
Um
dos assuntos mais recorrente neste blogue, talvez seja acerca da escrita
(acadêmica). Ainda no semestre recém findo, em dois Programas de Pós Graduação
em Educação: URI-Frederico Westphalen e Unilasalle, envolvi-me em saborosas
oficinas que tinham como escopo buscar ‘a arte de escrever ciência com arte’.
Na mesma direção, nesta semana em duas edições extras trago dois artigos do filósofo
Antonio Ozaí da Silva, professor da Universidade Estadual de Maringá,
publicados no seu blogue:
antoniozai.wordpress.com O texto trazido hoje foi publicado dia 15DEZ2012.
antoniozai.wordpress.com O texto trazido hoje foi publicado dia 15DEZ2012.
Produtivismo acadêmico – Sobre as dificuldades de
escrever!
A Profa. Ana Maria Netto Machado, no texto publicado na obra A bússola do
escrever: desafios na orientação de teses e dissertações, organizada por ela e
o Prof. Lucídio Bianchetti, afirma:
“A
observação prática nos mestrados demonstra, de uma maneira inquestionável, que
15 ou mais anos de língua português não desenvolveram, na grande maioria dos
adultos, qualquer intimidade com a sua própria escrita, de modo que eles não
conseguem escrever com facilidade, nem razoavelmente, nem corretamente, nem sem
sofrimento. Isto é válido para autores ávidos, oradores eloquentes e
bem-sucedidos, cuja cultura não lhes garante a habilidade para escrever. É
fácil constatar essas teses no meio acadêmico entre bons professores”.[1]
Ela
conclui que, “salvo raras exceções, podemos insistir, sem equivoco, que 15 anos
de língua portuguesa não habilitam para escrever”. [2]
Embora
a obra referida tenha sido publicada há 10 anos, o diagnóstico é, no mínimo,
preocupante. Será que o quadro geral mudou? Não tenho condições de aferição plena,
pois não participo da pós-graduação, mas me parece que a percepção da
professora permanece válida. A minha experiência em participação em bancas,
enquanto leitor dos trabalhos acadêmicos na graduação e como editor e consultor
dos artigos ditos científicos confirma-o. Não é meu intuito desvalorizar nenhum
autor, graduando ou pós-graduando, mas apenas constatar um fato que corrobora
as palavras da professora.
Espera-se
dos pós-graduandos que concluam seus trabalhos e defendam suas teses e
dissertações, especialmente se recebem bolsas. São recursos da sociedade e,
portanto, há imperativo ético. A responsabilidade social do pós-graduando é
imensa e não diz respeito apenas ao orientador, programa e instituição.
Nem
sempre a defesa e o título conquistado têm relação estreita com o domínio da
escrita e o escrever bem. Aliás, a experiência editorial, especialmente na
Revista Urutágua, demonstra que não existe relação de causalidade entre
titulação e capacidade de escrever. Já li textos de graduandos melhores
escritos do que outros cujos autores são pós-graduandos, mestres e até mesmos
doutores.
Se
o pós-graduando enfrenta dificuldades para escrever sua dissertação ou tese,
por que exigir que escreva artigos para periódicos? Ora, sejamos sensatos, nem
todos temos inspiração ou competência inerentes ao bom escritor. Escrever é
algo mais do que juntar palavras, organizar citações, apresentar tabelas e
quadros que possam impressionar. A escrita por obrigatoriedade produz
resultados desanimadores e, muito vezes, o auto-engano. A vaidade é também uma
forma de ilusão! No mercado dos bens simbólicos, a publicação de um artigo não
oferece certificado de boa escrita, mas apenas a constatação de que se cumpriu
a demanda produtivista. Se o pós-graduando se vê pressionado a publicar, por
que não antecipar a publicação da dissertação em forma de artigos? Como pode o
mestrando/doutorando se dedicar ao seu trabalho final se tem que publicar
agora? É preciso muita capacidade para se desdobrar…
Para
muitos escrever é quase como uma tortura – não é por acaso que pós-graduandos
entram em crise psíquica e, muitas vezes, comprometem a saúde física e as
relações pessoais. Deveria ser suficiente esperar que concluam o trabalho de
pós-graduação. Há as exceções, os que não têm problemas em produzir, ou seja,
lidam com a escrita de forma tranquila – e há também os competidores
compulsivos, os quais se alimentam psiquicamente da pressão produtivista. Não
obstante, para além das exigências formais e éticas, é mais sensato aceitar o
fato de que nem todos gostamos de escrever, que não temos o mesmo domínio da
escrita e aptidão. Não é melhor resguardar o direito de quem não quer publicar
ou escrever de acordo com a capacidade e condições?
Por
que e prá quê publicar? Por que obrigar o pós-graduando a isto? Não é
suficiente que conclua a pós-graduação da melhor forma possível? Que ele
publique, mas se for capaz e desejar. Da mesma forma, por que exigir do seu
orientador a publicação de artigos? Também ele não tem o direito de ser
“improdutivo”? As exigências produtivistas nos cegam diante de um simples fato:
escrever não é fácil e nem está automaticamente vinculado à titulação. Publicar
e escrever bem não são sinônimos. Escrever deveria ser um exercício prazeroso e
não um tormento!
[1]
MACHADO, Ana Maria Netto. A relação entre autoria e a orientação no processo de
elaboração de teses e dissertações. In: BIANCHETTI, Lucídio e MACHADO, Ana
Maria Netto (orgs.) (2002) A bússola do escrever: desafios na orientação de
teses e dissertações. Florianópolis: Editora da UFSC; São Paulo: Cortez
Editora, p. 52,
[2]
Id., p. 53.
NOTA
de A. Chassot: Na obra antes referenciada escrevi “Orientação virtual uma nova realidade” p. 89-108, onde refiro uma experiência de orientação quase pioneira realizada ainda no tempo de conexão discada e sem Skype.
Parabéns Professor pelo texto publicado no blogue, as vezes nao consigo publicar meus artigos em eventos Qualis A, os pareceristas fazem tantas exigencias e sugerem também tantas coisas mas já encontrei artigos piores que os meus publicados nos anais com uma redação incompreensivel às vezes. Eu a cada dia procuro melhorar na forma de escrever.
ResponderExcluirUm grande abraço
Saudações matinais.
Célia Maria Serrão Eleutério
Profa. Coordenadora Curso de Química
Centro de Estudos Superiores de Parintins
Universidade do Estado do Amazonas
Parintins-AM
Limerique
ResponderExcluirEra uma vez um pós graduado
Que não queria ser publicado
Nunca fugia da raia
Mas não era sua praia
Preferia ficar acomodado.
Acredito também haver um determinado ingrediente nesta "iguaria". Seria o elemento errado na praia errada. Hoje constatamos diversos neofitos os quais seguiram a "voz do mercado" e não "a voz do coração". Ai fica muito mais difícil falar daquilo que realmente não se gosta.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge