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segunda-feira, 1 de julho de 2013

01.-ASSAMBLAGE

ANO
7
Livraria virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
EDIÇÃO
2490

Esta blogada — abertura do segundo semestre de 2013 —tem um titulo poético: assemblage. Aprendi essa palavra em rótulos de vinhos. No Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, um enólogo explicou-me que consiste de vinho formado pela reunião controlada de dois ou mais varietais em proporções estudadas. Assim, por exemplo, cabernet sauvignon + merlot poderiam formar uma assemblage (o substantivo é feminino, numa evocação à assembleia), ou tanat + pinot noir, outra.
Observaram como esses varietais (palavra não dicionarizada, usada para indicar tipos de cepas) têm nomes sonoros? Aqui a palavra cepa (que pode ser usada para designar cebola, a partir de seu nome genérico) está sendo usada em duas acepções no ramo das videiras: uma como caule ou tronco da videira, de onde nascem os sarmentos; outra como estirpe, linhagem ou tronco de família; cepo.
O Houaiss me diz que assemblage significa composição artística realizada com retalhos de papel ou tecido, objetos descartados, pedaços de madeira, pedras etc e diz que a etimologia é da palavra francesa homônima assemblage (datada de 1493) 'conjunto constituído de elementos ajustados uns aos outros'. Já que estou brincando com palavras, transcorreram nesta ouverture duas palavras que são dissonantes: sarmento e cepo. Sarmento, pode significar ‘vara que a videira dá a cada ano’. A outra é cepo, que para mim sempre foi ‘pedaço de tronco cortado transversalmente’ e não um não ramo de videira.
Mas por que assuntei assamblage nesta blogada? Inspirado na sonoridade francesa de alguns varietais. Trago quatro assuntos ligeiros (mas não desimportantes) para produzir com quatro varietais uma assamblage para a edição de hoje.
Cabernet sauvignon o primeiro varietal dos mais saborosos não podia ser outro: celebrar o novo Brasil que surgiu tão de repente e tão vigoroso neste junho que despedimos ontem. Mas nesta celebração há indignação. Acompanho Miguel Srougi, pós-graduado em urologia pela Universidade de Harvard e professor titular da Faculdade de Medicina da USP na p.A-3 as Folha de S. Paulo de ontem: Como cidadão, fiquei deslumbrado com o clamor que varre a nação. Como médico, e ligado à saúde, mergulhei em esperanças. Contudo, com a mesma velocidade que esse sentimento aflorou, fui tomado por uma angústia incontida ao observar as manifestações oficiais. [...]Perplexo, gostaria de dizer que essas propostas são tão surrealistas que não podem ter sido idealizadas por autoridades sérias, mas sim por marqueteiros afeitos à empulhação. Piores do que os depredadores soltos pelas ruas, já que destroem vidas humanas. [...] Presidente, termino pedindo desculpas pela minha insolência. Você, que é digna e tem história, não pode tergiversar perante o clamor de tantos filhos da nação. Faça ouvidos moucos ao embuste e combata de forma sincera os malfeitos [...].
Merlot evoca-me Mendoza e me faz saudades. Neste semestre letivo que encerro, faço despedidas de cinco grupos de alunos, que de maneira muito intensa me afagaram e mexeram comigo. Farão saudades. Do Programa de Pós Graduação em Educação da URI de Frederico Westphalen recebi uma linda homenagem com foto com dedicatória das ‘sete mulheres da escrita em questão’. No Unilasalle os mestrando da oficina ‘A arte de escrever Ciência com arte’ me acarinharam a emoções. Na noite de sexta-feira e na manhã de sábado as últimas aulas do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA tiveram marcas especiais. Nas duas turmas de graduação (Música e Educação Física + Pedagogia) de Teorias do Desenvolvimento Humano do IPA amealhei mais de meia centena de manifestações. Destaco a do Jean Marcel Koetz Pitrez Bernardi: “Professor Attico, gostaria de lhe dizer [...] que apesar de cursar licenciatura, sempre pensei em trabalhar e me especializar no ramo mais prático da Educação Física, mas com seu exemplo, pude perceber o quanto o trabalho mais voltado para Educação pode me levar longe!”
Tanat sabe a saborosos vinhos uruguaios que são complementos à lareira neste inverno. Foi na tarde fria do último sábado junino que por convite de meus colegas Claiton Prinzo e José Luis Novaes compareci a Livraria Nova Roma para falar no ‘Café Filosófico’. Discorri por mais de 1,5 hora sobre uma utopia: o dialogo entre religião e ciência. Os cerca de quarenta lugares estavam todos tomados e talvez uma dezena de atentos ouvintes ouviram a fala em pé. Foi gratificante estar com um público muito diversificado acompanhando minha fala.
Pinot noir evoca a Borgonha e é muito apropriado para neste julho evocar o mês de aniversário deste blogue que ocorre dia 30. Os sete anos serão celebrados este ano de maneira diferente, pois, há não muito (13 de maio), fiz uma opção que ainda não está bem assimilada: não é mais diária a frequência deste blogue como foi por 6,8 anos. Optei, por razões que expliquei então por uma edição semanal às quintas-feiras. Tenho quebrado esta norma. Em junho houve quatro quintas-feiras e nove edições. Essas edições extras — como a de hoje e também a de ontem — amenizam a saudades de meus leitores. Assim, aqui e agora um bom julho a cada uma e cada um.

7 comentários:

  1. Chassot,

    fizeste-me ébrio com esta gala enofílica.
    É uma alegria para as papilas sinápticas sentir os taninos e os buquês de cada barril de sabores que é teu fazer ciência.
    Acalenta-me, nesta noite fria, o teor etílico de teu amor pelo que fazes e inspira-me a continuar... Tentando envelhecer em barril de carvalho e chegar no alto da vida como um vinho nobre e caudaloso. Abram-se todas as rolhas das cascatas do conhecimento e do amor pela grande parreira que é o educar. Que este assamblage seja um brinde a ti Chassot, o vigneron de seres humanos.
    Viva il vino spumeggiante, in bicchiere scintillante.

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  2. Caro Mestre
    Uma grandiosa comparação nesta blogada que empeza a primeira semana julina. Ideia muito bem posta, principalmente porque sao elas que transformam pensamentos e atitudes, como reflete teu pupilo Jean Marcel. Obrigado por fazeres estas leituras cada vez mais inebriantes como os vinhos e seus varietais.
    Abraço do JB

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  3. Caro Chassot.

    muito apropriado a assemblage de hoje; facilmente a gente esquece que celebrar as conquistas e as etapas da trajetória humana não fazem parte da caminhada; muito pelo contrário, são essas coisas que alimentam a nossa espiritualidade que, assim como todo o resto do conjunto de nosso humano ser, necessita ser cuidado.

    Bom julho, são os meus votos!

    Garin

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  4. Saboriei sua blogada,só um mestre inteligente e estudioso seria capaz de fazer uma ligação da vida com as marcas de vinho .
    Abraços Sentiremos saudades,
    Clarinda,
    PPGEdu URI FW

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  5. Bom dia Porfessor Attíco!

    Estamos acompanhando as blogadas . Aproveito para desejar uma boa semana e reiterar a admiração pela vossa pessoa,
    Um grande abraço
    Elmer Link
    Unilasalle
    PPGEducação

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  6. Limerique

    Para apresentar melhor oferta
    Assemblage é mistureba certa
    Que constrói um buquê
    O qual só assim se vê
    No vinho de confecção aberta.

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  7. cccCaríssimo Mestre Chassot,
    uma blogada dionisíaca que nos leva render culta ao inebriante Baco, não sei como optar pelos quatro varietais propostos. Fico comovido com a decisão de Jean Marcel, que realmente teve uma douta inspiração.
    Ainda não assimilei bem a aperiodicidade.
    Todavia concordo edições diárias eram insustentáveis.
    Com continuada admiração
    Laurus Lima lima

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