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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

23.- ENSINO COMO MERCADORIA: MISÉRIA / OPULÊNCIA


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1968
 Meus leitores são testemunhas de quantas vezes, só neste semestre, comentei cerca da cada vez mais acintosa transformação da Educação mercadoria. Terminei, há um mês ‘Vende-se tabaco, perfume importado, educação e camisetas de marca’, que será capítulo de um livro. Hoje nesta dimensão, mostro duas situações: a miséria e a opulência.
Para os assalariados, dezembro é um mês mais difícil para conseguir um equilíbrio financeiro. Presentes, viagens, adiantar o IPTU e o IPVA para conseguir descontos são alguns dos muitos débitos. Por isso foi criada em 1962 a gratificação natalina ou 13º salário.
Assim é fácil entender a situação dos professores da Ulbra, que souberam nesta quarta-feira, 21 de dezembro, da dificuldade da Universidade para o pagamento dos próximos salários de dezembro, janeiro/2012 e férias. Segundo a instituição, no dia 5 de janeiro, haverá capacidade de pagamento de apenas 50% do salário de dezembro, prevendo-se a quitação do saldo até dia 25 de janeiro. A previsão de pagamento do salário de férias também será parcelado: 50% em 5 de fevereiro e 50% em 20 de fevereiro. O saldo de fevereiro será pago em 5 de março. O terço constitucional das férias também deverá ser parcelado e pago junto com os salários de março e abril.
Está é uma situação de afronta a que são submetidos profissionais da Educação. Agora, veja-se a opulência.
O ensino superior privado brasileiro teve na semana passada a conclusão do maior negócio já feito no país. A mineira Kroton Educacional fechou a compra da Unopar, instituição do norte do Paraná focada no ensino superior à distância, por R$ 1,3 bilhão – cifra que impressionou analistas e bancos de investimento, que viram as fusões e aquisições minguarem no segundo semestre por causa da crise global.
É o segundo meganegócio em menos de três meses do ensino privado brasileiro, setor visto como imune a crises potenciais e que caminha com o aumento de renda da classe média emergente.
Em setembro, a paulista Anhanguera comprou a Uniban por R$ 510,6 milhões. A aquisição da Unopar fará a Kroton somar mais 162 mil alunos (145 mil de ensino superior à distância e o restante presencial) aos atuais 102 mil. Fica atrás em total de estudantes do ensino superior só da rival Anhanguera, que tem cerca de 281,7 mil alunos. A fluminense Estácio de Sá é a terceira no ranking, com 248 mil estudantes.
Este números são impensáveis para quando se tinha como grande uma universidade com 30 mil alunos. O ensino à distância é uma "mina" de geração de caixa, segundo Rodrigo Galindo, presidente da Kroton.
"A principal característica desse negócio é a forte geração de caixa e de elevado crescimento. O ensino à distância cresce mais rápido do que o presencial no Brasil", disse Galindo, para explicar a aquisição aos analistas.
Neste ano, somente os 145 mil alunos de educação à distância deram uma receita estimada em R$ 416 milhões à Unopar. Somados ao faturamento de R$ 699 milhões da própria Kroton, a nova empresa terá receitas combinadas de R$ 1,1 bilhão.
A Unopar é a maior instituição de ensino à distância no país, à frente da Anhanguera, que tem 83 mil alunos nessa modalidade. O trabalho é desenvolvido a partir de 469 polos de ensino à distância, verdadeiros centros de tecnologia, em 422 municípios do país. Todos têm o aval do Ministério da Educação.
Além do ensino à distância, a Unopar tem 16 mil alunos de graduação e pós presencial nos campi de Londrina, Arapongas e Bandeirantes, no norte do Paraná.
A aquisição foi costurada pelo Itaú BBA, maior banco de investimento no ramo de fusões, e será feita por meio da editora da Kroton.
Do total de R$ 1,3 bilhão, 80% serão pagos em três parcelas -R$ 650 milhões à vista, R$ 260 milhões em março de 2012 e os R$ 130 milhões restantes em um ano – e 20% em papéis da Kroton, que ontem recuaram 3,09%.
Para a rival Anhanguera, a consolidação da educação privada está só começando e terá novas operações.
"O mercado educacional brasileiro ainda está em processo de consolidação e são positivas essas movimentações, que demonstram a confiança do investidor na alta atratividade e na geração de valor", disse, em nota.
Sem comentário à esta voracidade.

5 comentários:

  1. Bom dia, Professor!
    Hoje fiz algo que há tempos não fazia: me atualizei acerca aqui do blog do senhor; fiz um intensivão e li todas as publicações que haviam 'ficado para trás', por um motivo ou outro.
    =]
    Valeu a pena!
    Em relação a esta publicação em específico, fico até meio sem jeito de comentar...pois aqui em Goiás nós, professores, estamos passando por um período de injustiça de nossos governantes em relação ao nosso pagamento e ao ajuste do mesmo ao piso nacional..e o pior de tudo é que, como sempre, a mídia abafa a realidade e ilude a população de que estamos bem remunerados e 'choramos de barriga cheia'...
    É triste perceber como, realmente, a educação virou mercadoria...e, não sei do lado daí, mas do lado de cá, uma mercadoria totalmente desvalorizada...
    []'s

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  2. Caro Chassot,
    Enquanto isso, o ensino constitucional obrigatório e gratuito, tal como a vaca proverbial, vai para o brejo. Abraços, JAIR.

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  3. Muito querida colega e amiga Thaiza,
    teu querido comentário tem algo bom (saber que te reatualizaste neste blogue do qual és leitora desde quase a primeira hora e também que nos fez próximos) e outra coisa ruim (saber de como professoras e professores são tratados pelo governo do Estado de Goiás).
    Na alegria de saber que continuas minha leitora.

    attico chassot

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  4. Meu Caro Jair,
    encantou-me a ‘proverbial vaca’
    Com votos que no brejo estejamos na escuta
    attico chassot

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  5. Caro Chassot,

    a nossa indignação continua: transforma-se a educação numa mercadoria negociada na Bolsa de Valores na qual o que interessa são os números e não a formação humana de qualidade. Um atestado da incoerência desses números é que o país continua carente de profissionais bem formados. A sociedade precisa saber que essas empresas tem como único foco o lucro e que assim como assumem um negócio com voracidade, também com a mesma destreza se afastam dele descartando que nele se empenhou.

    Um abraço,

    Garin

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