Ano 6 *** PORTO ALEGRE | *** Edição 1951 |
Antes de cumprir o prometido no encerramento da edição ontem: um preito ao ‘Doutor Sócrates’, falecido no domingo, permito-me partilhar um registro emocionado acerca da homenagem recebida na manhã de ontem.
Anunciei aqui, nesta segunda-feira, a palestra comemorativa do 1º aniversário do Museu da Natureza. Por mais de 1,5 hora falei para uma centena de jovens estudantes do ensino fundamental e médio acerca ‘Como formar Jardineiro para cuidar do Planeta’. Ao final uma grata surpresa. O professor Guy Barcellos, criador do espaço de alfabetização cientifica que referi ontem fez um agradecimento e convidou Dênisson Malhano, aluno da 8ª série e Diretor do Museu para me entregar uma lembrança. Está é algo memorável. Recebi o troféu Giordano Bruno. A entrega do troféu e
detalhes da placa podem ser visto nas duas imagens. Há relatos em museudanatureza.blogspot.com/
Antecipo-me aos jornais de Belém (para quem o autor remeteu sua produção) e privilegio meus leitores com Sócrates Brasileiro: paraense com estilo, escrito por José Carneiro, jornalista e professor da UFPA. As ilustrações são inserções deste editor e a fonte é a Wikipédia. Uma delas é Sócrates participando do movimento político Diretas Já em 1984, em São Paulo.
O falecimento aos 57 anos de Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira mereceu destaque também na imprensa internacional e manifestações em estádios europeus. Sócrates surpreendeu não apenas os meios esportivos. Era um cidadão que tinha tudo para espera uma velhice tranquila depois de brilhar nos campos e dedicar-se a medicina, não se tivesse deixado seduzir pelos feitiços etílicos. Vale ler de um paraense enaltecendo – sem bairrismo – outro paraense.
Sócrates Brasileiro: paraense com estilo Já dizia o pensador argentino Jorge Luis Borges: quem não tem estilo fica em casa. Foi esta frase que me veio à mente, ao amanhecer deste domingo, quando ouvi a noticia da morte do doutor Sócrates, uma das lendas do futebol. Brasileiro no sobrenome mas paraense de nascimento, o doutor Sócrates, como ficou conhecido profissionalmente, era um estilista do futebol. Bom com os pés e com a cabeça.
Com os pés, ele ficou famoso pela habilidade, rara diga-se de passagem, de usar os calcanhares para desnortear os adversários. Alto e magro (daí o outro apelido carinhoso de Magrão) Sócrates demonstrou, desde o inicio no Botafogo de Ribeirão de Preto (para onde sua família se transferiu de Igarapé Açu, no Pará) um estilo requintado que o levaria à líder dos times por onde atuou e à glória no cenário futebolístico internacional.
Jogou ainda pelo Corintians, Fiorentina da Itália, Flamengo e Santos, onde encerrou sua vitoriosa carreira. Mas o que lhe cobriu de glórias pra valer foi sua passagem pela seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1982 e 1986, sob o comando do técnico Tele Santana. Mesmo sem ter conquistado o titulo mundial, Sócrates liderou dois times que deixaram saudade, sobretudo o de 1982, considerado unanimemente, por imprensa e torcida, o melhor time daquele torneio.
Com a cabeça, Sócrates deu vários exemplos para o mundo, em sua passagem pelo
futebol. Primeiro, ao quebrar o tabu de que jogador de futebol não conseguia estudar. Ele conseguiu se formar em Medicina quando ainda estava no Botafogo e, a par de sua formação, demonstrou sempre posições políticas acima da média, fortalecendo sua liderança inata. Nas excursões para a Europa aproveitava as horas vagas para visitar museus e comentou que o maior lucro de sua experiência no futebol italiano tinha sido de ordem cultural. Sua passagem pelo Corintians consagrou seus posicionamentos políticos, quando elaborou a concepção da chamada democracia corintiana, modelo de gestão na qual a voz dos jogadores passou a ser ouvida e respeitada pela diretoria do clube e pela imprensa em geral. Essa democracia corintiana marcou uma época de sucesso no clube, com vitórias de vários níveis, sempre sob a batuta do doutor Sócrates, que não deixava de protestar contra qualquer injustiça e em todas as oportunidades que apareciam Foi uma época que deixou saudades e que não se repetiu, prova de que derivava da presença de Sócrates.
Depois que deixou o futebol, dedicou-se à medicina sem, contudo, se desligar do mundo do futebol. Participava de programas esportivos na televisão e dava palpites em tudo o que lhe solicitavam. Cogitou de se candidatar à presidência da Confederação Brasileira de Futebol, em meio às duras criticas que fazia por causa da corrupção que grassava na administração do futebol. Infelizmente foi apenas um ensaio que, contudo, assustou muitos dos que se beneficiam solertemente das benesses oriundas, ilicitamente, do mundo do futebol. O doutor Sócrates tinha fama de turrão, apenas porque não deixava de criticar sempre que a ocasião surgia. Era um homem que manteve sempre a coerência das suas opiniões e, sobretudo, a sinceridade no que dizia. Como prova a entrevista que deu logo que saiu da sua primeira grave internação hospitalar, ao confessar que o alcoolismo era o responsável pelo seu debilitado estado físico. Parecia disposto a lutar para superar o desafio do destino. Teve uma segunda internação, da qual saiu com o diagnóstico de que precisaria fazer um transplante de fígado. Retornou ao programa televisivo e foi surpreendido por uma aguda infecção intestinal, a que o seu organismo não resistiu. Fica a boa lembrança do estilista Sócrates que, relembrando Borges, jamais poderia ficar em casa. Se já pertencia a história, agora permanece em nossa memória. Adeus, doutor Sócrates, Brasileiro e Paraense. José Carneiro
JOSÉ CARNEIRO escreveu:
ResponderExcluirCaro amigo prof. Chassot:
É uma grande glória a minha ter estado na blogagem de hoje com tanto destaque. Só posso lhe agradecer a deferência, que inflou o meu ego. Devo isso, claro, à generosidade de sua amizade.
Grande abraço, com gratidão,
José Carneiro
Caro Chassot,
ResponderExcluirParabéns pela conquistada da taça do mundo da ciência, o Troféu Giordano Bruno. Este que foi queimado na fogueira da maldita inquisição por que não abdicou de suas ideias, consideradas hereges pela igreja. Quanto ao Doutor Magrão, hoje vou publicar uma texto de minha lavra. Abraços, JAIR.
Meu caro Mestre e professor Chassot
ResponderExcluirDois momentos inusitados de tua ediçao de hoje, a justa homenagem a quem dedica a vida em prol da atividade docente pelo aprender da ciência, fazendo Jardineiros pelo Planeta, e, no segundo momento, o texto bem cosntruído pelo José Carneiro. Também há justiça nas homenagens prestadas ao Doutor Socrates do futebol, principalmente quando o que se percebe atualmente nessa área desportiva é uma massa amorfa em termos de contribuiçoes à sociedade, tão interessados tão somente nos lucros dali advindos. Diferentes são personagens como o Dr. Socrates, que foi capaz de se utilizar do futebol para chamar a atençao para a democracia num momento de tamanha rigidez e autoritarismo. Boa Semana. JB
Ola Mestre Chassot.
ResponderExcluirPerdoa-me o uso indevido da palavra grafada no comentário anterior. Referia-me não ao sentido que queria dar à tua ediçao de hoje do Blog, mas, sim, do caráter magnânimo que ele apresenta nesta data ao trazer justas homenagens a um vencedor na propagação do saber científico, assim como, a um desportista que sabiamente soube utilizar-se de sua tarefa desportiva em prol da democracia brasileira. Abraço e a desculpa pelo lapso. JB
Boa noite, Mestre!
ResponderExcluirParabéns por ter sido reconhecido mais uma vez pelo seu valor!
Uma bela síntese do grande craque que foi o Dr. Sócrates.
Infelizmente, como outros talentosos futebolistas, não conseguiu driblar o traiçoeiro álcool...
Vai reforçar o time das Valquírias, com Garrincha, Heleno e Zizinho...e outros...
Abraços!
Muito estimado conterrâneo Leonel,
ResponderExcluirobrigado por endossares a homenagem que recebi. Isto ameniza o cansaço dos longos peregrinares.
O time de outros paramos, no domingo recebeu um reforço magnífico.
Valeu tua mirada
attico chassot
Caro amigo,
ResponderExcluirparabéns por tão justa homenagem!
Forte abraço.