Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1973
No
último dia 25, um comentarista deste blogue, recém chegado à Atlanta em férias,
adita à edição natalina, um comentário com uma boa dose de irreverência: “Mestre, que o aniversariante de hoje, Isaac
Newton, nos ilumine com sua sabedoria. Um abraço estadunidense, Guy”.
Eis
excertos de minha resposta: “[...] não só mudas o foco da celebração, como
ainda não aderes ao calendário da Igreja romana, pelo qual Newton nasceu em 5
de janeiro de 1643. Nunca é demais recordar, para ratificar a tua opção de
aniversariante a ser celebrado em 25 de dezembro, o epitáfio de Newton: ‘A natureza e as suas leis jazem ocultas na
noite. Deus disse: Que Newton exista!
E tudo se fez Luz!’ [...]”
Na
manhã de ontem, ao esteirar buscava um assunto para a próxima blogada, mesmo
com a severa advertência da Márcia, minha personal
trainee, que sabe quando viajo ao invés do tríplice controlar: passo,
respiração e postura de ombros; pensei na provocação do comentário antes
referido. Certamente, no dia 12 de fevereiro, o biólogo que neste natal
celebrou Newton, não evoca o aniversário de Darwin. Aliás, por pouco que Darwin
não concorre com o Dia dos Namorados (são Valentin, 14 de fevereiro) do Hemisfério
Norte. Claro que o concorrente de Newton é de outra categoria, até porque que
na discutível lista das 100 pessoas que
mais influenciaram na história humanidade, segundo pesquisa do cientista
estadunidense Michael Hart, publicada no livro "The one Hundred”
(London: Simon & Schuster, 1996), Newton e Jesus tenham posições de muito
destaque. Reproduzo, como curiosidade, os 20 primeiros nomes [Lista completa comentada
em A Ciência é masculina? É, sim senhora!,
2011, 5ª edição, p. 115 a 119]
Um
comentário pertinente é o porque há duas datas para o nascimento (o mesmo para morte)
de Newton, como se pode ver nos dois selos: um do Reino
Unido e outro da ex-República
Federal da Alemanha (que com a República Democrática Alemã formaram ‘duas
Alemanhas’ independentes de 1949 a 1990). Há muitos eventos nos séculos 16 a 18
que tem datação por dois calendários.
Primeiro
uma correção, a minha resposta: falei que outra data para o aniversário de
Newton era 5 de janeiro de 1643, na verdade ao somar 10 dias a 25 de dezembro,
esqueci-me que dezembro tem 31 dias, assim 25/12 + 10 dias = 04/01.
Mas
porque esta adição de 10 dias. O calendário hoje mais universalmente usado é ‘calendário
gregoriano’ que foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de fevereiro do ano
1582 para substituir o calendário juliano (este promulgado por Júlio César em
46 a.C e reformado por Augusto d.C). Gregório XIII reuniu um grupo de
especialistas para reformar o calendário juliano e, passados cinco anos de
estudos, o produto foi o calendário gregoriano, que foi sendo implementado
lentamente em várias nações (há países que não o aplicam como Israel, Irã, Índia,
Bangladesh, Paquistão, Argélia e outros). Foram omitidos, então dez dias (de 5
a 14 de outubro de 1582). Oficialmente o primeiro dia deste calendário foi 15
de Outubro de 1582.
Comentei,
aqui em 12NOV2001, quando da dica de leitura de livro onde Santa Tereza d’Ávila
é personagem, que ela morreu às 9 horas da noite de 4 de outubro de 1582. Foi sepultada no dia
seguinte: 15 de outubro (pois justamente aí estão os 10 dias, supressos em
1582, quando começa vigorar o calendário gregoriano. As pessoas nascidas, por
exemplo, em 10 de outubro de 1581, só tiveram sua data de aniversário celebrada
a primeira vez, quando fizeram dois anos, em 10 de outubro de 1583.
O calendário gregoriano foi promulgado pelo papa
(da Igreja Católica), quando as igrejas reformadas (com marcas nacionais) recém
surgiram: luterana, 1517, anglicana, 1540, por exemplo. Assim na Alemanha, nos
países escandinavos, onde o luteranismo se tornou a religião de Estado ou do
Soberano e no Reino Unido (sede do anglicanismo) se continuou com o calendário
juliano sem a supressão dos 10 dias, para ostensivamente não acatar o papado,
que funcionava no mundo ocidental com poderes quase como da ONU. (Vale recordar
o Papa como árbitro das demandas internacionais).
O mundo cristão oriental que professava o credo
ortodoxo (Rússia, Turquia, Grécia, Egito, por exemplo, separados de Roma desde
1054, explicitamente por não reconhecerem a autoridade do Papa, evidentemente
que também seguram com o calendário juliano até o século 19. Muitos cristãos
ortodoxos seguem usando este calendário. Agora pelos ajuste de anos bissexto a
diferença é treze dias. Assim hoje 28 de dezembro é 15 de dezembro em vários países.
Mas voltemos à data do nascimento de Newton. Referi-la
pelo calendário juliano tem dois charmes: um, os biógrafos narram que Isaac
Newton nasceu prematuro no dia de Natal; outro, referir 1642 (e não 1643)
permite-nos uma linda associação: no ano que morreu Galileu Galilei nasceu
Newton.
Por fim, dizermos que hoje para uns 15 de dezembro
e para outros 28, mostra que os mais diversos calendários são apenas convenções.
Assim, falando apenas para cristãos (e relevem-me islâmicos, judeus,
chineses...) um bom 15/28 de dezembro.
Caro Attico,
ResponderExcluircreio que todos nos sentimos um pouco estranhos ao imaginar um calendário diferente daquele que vivenciamos desde que nascemos. É enriquecedor entender que cada cultura tem seu marco histórico que influencia sua forma de contar o tempo.
O seguinte site traz algumas informações relevantes a respeito do tema:
http://www.superdicas.com/milenio/calendar.asp
Abraços,
PAULO MARCELO
Caro Chassot,
ResponderExcluirhoje me fazes recordar as aulas sobre História e Filosofia da Ciência, lá no IPA, no primeiro semestre deste ano: como eram esclarecedoras e fundamentais.
A título de contribuição, para quem quiser caminhar um pouco mais na reflexão sobre o tempo enquanto convenção social/humana, pode dar uma olhada no livro de Norbert Elias, "Sobre o Tempo", ZAHAR, 1998 (tem uma edição em e-Book) - é o melhor material que já li sobre esse tema.
Um abraço,
Garin
Meu caro Paulo Marcelo,
ResponderExcluirrealmente colocar a dimensão tempo em nosso mundo é complexo.
Li a postagem que recomendas. Adita muito a blogada de hoje. O Garin recomentou, após a tua postagem um livro do Norbert Elias.
Encontrei uma edição muito anotada em http://pt.scribd.com/doc/35119709/Norbert-Elias-Sobre-o-Tempo
Li um pouco. Há assuntos que fecham com que escreves.
Em uma sociedade que não tem calendários é natural que seus habitantes não saibam suas idades.
Obrigado pela parceria.
attico chassot
Meu caro colega Garin,
ResponderExcluirrealmente nossas aulas foram memoráveis. Tenho saudades delas.
Excelente a tua recomendação.
Encontrei uma edição do livro do Norbert Elias muito anotada em http://pt.scribd.com/doc/35119709/Norbert-Elias-Sobre-o-Tempo
Li um pouco. Uma primeira espiadela faz-me buscar a edição suporte papel. Há assuntos que fecham com que temos refletido.
Obrigado pela parceria na construção desta edição.
attico chassot
Querido Mestre
ResponderExcluirMais uma vez saudando a tua contribuição á reflexoes pertinentes neste mundo de descartabilidades e louvando os adendos dos ques (como eu) mais assiduos leitores)quero contribuir com a sugestao de um filme que ressentemente saiu no cinema trata-se de "(o preço do amanha") em ingles "In time" que teve o roteiro escrito pelo mesmo autor do filme "truman show". este filme traz maravilhosas reflexoes acerca do tempo, que como tu nos revela é um FENOMENO SOCIAL.
Com renovada admiração
Daniel - sobrinho e fã de Ctba
Querido Chassot,
ResponderExcluirque alegria ter catalisado esta bela blogada. Achei muito educativa, aprendi muitas coisas novas. Te confesso ser adepto ao calendário gregoriano, não sei quais razões obscuras me fizeram migrar ao juliano no dia 24...
Ainda hoje mando a crônica com as fotos. Ontem fui à exposição sobre o Darwin no Fernbank Museum of Natural History. Muito bem feita e de alta qualidade científica e museológica. Bem, guardemos os comentários...
Abraços
Guy
Muito querido Daniel,
ResponderExcluirter um sociólogo como leitor deste blogue, mesmo quando este é também um sobrinho querido, é também uma distinção.
Obrigado pela dica fílmica.
A admiração do
Tio attico
Muito estimado Guy,
ResponderExcluireu que agradeço a catálise.
Nesta sexta-feira o primeiro relato de um biólogo brasileiro em plagas estadunidenses contribuído com alfabetização cientifica,
attico chassot