Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1964
Chegou a segunda-feira
da assim chamada semana mais estressante do ano. Como a proposta é levar a vida
numa boa, nem entro no tema. Trago algo que pode ser rotulado como ‘Excertos do diário de um mestre escola’
precedido de comentário marcado pelas coisas do futebol.
Ontem quando
tomei conhecimento da aplastante derrota no Mundial
de Clubes do Santos (4 X 0 e que cronistas disseram que 7 X 1 para o
Barcelona seria de bom tamanho), ocorreu-me por primeiro uma lembrança. Contei
aqui de meu companheiro de viagem no trecho Manaus/Guarulhos, na última
quarta-feira, que perdera o pai na celebração da vitória do time santista na
rodada anterior. Afortunadamente ele não estava mais aí para sofrer nesta
derrota. Talvez aí, esteja um bom exemplo de ‘males que vem para o bem’.
Esta manhã,
participo, virtualmente, no Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto
de Educação da Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá da qualificação da
proposta da dissertação “Ensino de
Ciências na escola do campo em alternância: o caso de uma escola do município
de Terra Nova do Norte, em Mato Grosso” produzida por Valdenor Santos Oliveira, sob a orientação da Professora Dra. Irene
Cristina de Mello.
Dado o
contexto que se produziu o meu parecer, elaborei um texto preliminar. Este ofereço
aos meus leitores aqui e agora.
Antes de trazer um parecer formal ao
projeto de dissertação em tela, permito-me tecer um prelúdio para que se
vislumbre o contexto de elaboração desde parecer e se relve uma não tão
profunda densidade teórica. Em 5 de dezembro, à noite, imediato a chegada de
uma exaustiva viagem a Tocantins, recebo uma mensagem, da qual extraio um excerto: Boa tarde professor, tudo bem? Meu nome é Valdenor (Sassá) orientando da professora Irene.
Estou enviando para o senhor uma copia do meu texto para qualificação para que
o senhor possa fazer as considerações e contribuições necessárias [...]. Certo de contar com vossa colaboração e atenção, meus
sinceros agradecimentos. Valdenor
Santos Oliveira (Sassá). É preciso dizer que, há semanas, a Professora Irene, que
me oferece o privilégio e o orgulho de ter sido a minha primeira orientanda de
Mestrado, convidara-me para esta banca.
Sem muita reflexão
e sem me dar conta que naquele dia recebera o troféu Giordano Bruno, que
enaltece o meu ser professor, eu, talvez até com uma dose de impaciência (leia-se
uma pitada de ira), respondo: “Prezado Valdenor & querida Irene, esta semana – até
sexta-feira – tenho agenda lotadíssima com aulas, três orientandos em fase final
de defesa e avaliações duas turmas da graduação e aula de encerramento no
Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Domingo cedo viajo para
Manaus onde tenho quatro qualificações e uma palestra, Volto na quinta-feira e
no mesmo dia viajo para Frederico Westphalen (são seis horas de ônibus de Porto
Alegre) onde na sexta e sábado tenho 12 aulas no Programa de Pós-Graduação em
Educação. Volto no sábado com mais seis horas de viagem de ônibus. Vocês hão de
convir que é impossível eu fazer um parecer em menos de duas semanas, com
tantas atividades para a manhã da outra segunda-feira. Pediria que entendessem
e estudassem outra data. Lamento decepciona-los, mas pediria que entendessem,
attico chassot”
Na mesma
noite minha filha Ana Lúcia telefona e estranha-me, dizendo que estou com voz
triste. Conto que estou chateado com a uma mensagem que recém enviará. Ela me
felicita, pois sabe ‘não ser do meu feitio’ dizer não. Brinca dizendo que
ganhara pelo menos um ano de análise. Ao invés de consolar-me, preocupou-me
mais. Mesmo que não faça análise, no dia seguinte, fiz algo que pode ter me
rendido dois anos de análise. Remeti outra mensagem: “Estimado
Valdenor & querida Irene, esta manhã numa brecha de agenda dei uma olhadela
no projeto. Encantei-me com a qualidade. Reviso minha mensagem da noite de
segunda-feira e envidarei meus melhores esforços para enviar um parecer até a
manhã de 19. Com expectativa, attico chassot”
Imediatamente recebo contestação: Prezado Mestre Chassot... Fico muito grato
pela atenção, e por saber que posso contar com vossas contribuições, que
certamente serão ótimas. Confesso-lhe que em todo o trabalho percebo as
escritas do senhor ao expressar vossa compreensão de sociedade, escola e
ciências. Novamente meus sinceros agradecimentos, at Valdenor
Santos Oliveira (Sassá)
Agora, não tinha volta. Tinha que dar conta e dizer algo sobre 80 páginas.
Li o projeto de dissertação em aeroportos (só em Viracopos, numa manhã de
domingo, o Sassá foi companhia por quase três horas), em voos Campinas/ Manaus /
Guarulhos e ônibus entre Porto Alegre/ Frederico Westphalen /Porto Alegre e
ainda em madrugadas insones em hotéis.
Parece-me fazer este prelúdio, quando não estou fisicamente presente em
Cuiabá nesta manhã de segunda-feira, para que o mestrando, sua orientadora e
colegas de banca entendam limitações de um parecer que mesmo limitado pelo tempo
foi feito com entusiasmo.
Este parecer foi catalisado também, pela leitura posterior de um dos
agradecimentos do mestrando: “Ao professor
Attico Chassot, um homem que escreve com palavras difíceis, mas é compreendido
com facilidade, por quem tenho profunda admiração”.
Assim,
agora algumas considerações de forma e de conteúdo e parecer à proposta de
dissertação.
Caro Chassot,
ResponderExcluirem primeiro lugar minhas desculpas: ando ausente destes comentários. Assim como tu, ando assoberbado e, como não recebi telefonema da minha filha, acabo só pedindo desculpas. Sei que não é uma obrigação, mas o teu blog me dá prazer. Acontece que entre os compromissos e o prazer, tenho optado pelo compromisso: coisa de protestante.
Agora, na vigência do "recesso", quero privilegiar o prazer.
Linda a tua atitude de retomar a leitura da dissertação do Sassá, ainda que tenha te custado tempo do merecido descanso. A gente não sabe, mas sempre se constroem sentidos imprevisíveis e o futuro mostra coisas inimagináveis hoje, que são consequências de esforços assim: pode esperar.
Um abraço,
Garin
Bom dia Professor!
ResponderExcluirNão poderia esperar atitude diferente desta, vinda de sua parte. Uma mestre que ouve os anceios de quem lhe procura e faz disso uma maneira de cuidado.
uma semana abençoada para todos.
Este é meu amigo e mestre querido!!! Bem me recordo do nosso primeiro contato. Li seu livro "Alfabetização científica" e encantada resolvi te escrever para ver possibilidades de orientar-me no mestrado.Escrevi, sem esperanças, claro.Como poderia Attico Chassot responder a uma estranha? Horas depois veio a resposta atenciosa e cheia de explicações sobre o processo seletivo etc. etc... Meses depois lá estava eu tendo o prazer de ter você como orientador e de presente ganhei um amigo. beijo com saudade. Te adoro!!!! Vândiner
ResponderExcluirVândiner querida,
ResponderExcluirmuito obrigado por carinhosamente admitires que teu orientador não faria diferente,
com gratidão
attico chassot
Muito querida filósofa Marília,
ResponderExcluirobrigado por admitires que revisares minha posição.
Vibro com teu retorno
Afagos com admiração,
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirParabéns pela retomada do parecer sobre o trabalho, isso demonstra não só tua competência como também uma disposição inusitada para o trabalho. Abraços, JAIR.
Prezado mestre Chassot….
ResponderExcluirNeste momento nada me resta se não agradecer, agradecer novamente e dizer muito obrigado, não apenas pelas considerações e contribuições apresentadas em vosso parecer, mais pela atenção e compreensão , qualidades estas que fazem do senhor uma pessoa ainda mais admirável.
No dia 05 de dezembro ao receber vossa resposta quanto ao texto que acabará de lhe enviar, passei por um momento um tanto quanto difícil de descrever, pois minha ansiedade para ler vosso email se transformou em tristeza ao concretizá-la. Ao ler o email onde o senhor explicitava as ocupações que enfrentará no momento e que acabavam por impedir a vossa participação naquele momento, os olhos lagrimejaram, uma mistura de tristeza e culpa tomou conta de mim, já que eu era o único responsável pela situação criada.
Aproveitei a noite para retomar algumas leituras, mais naquele momento queria ler algo informal, mais produtivo, foi ai que o senhor virtualmente através do seu blog me fez companhia ate o dia amanhecer. Após as leituras um sentimento diferente, que vou chamar de esperança começou a aflorar, passei a imaginar que alguém tão comprometido com a sociedade e com a educação iria repensar o escrito anteriormente.
Passei o dia 06 de dezembro muito confuso, abandonei computador, internet e fui visitar meus amigos da Escola Estadual Terra Nova (local da Pesquisa), onde não consegui esconder minha tristeza, mas aproveitei o momento para refletir o que fazer.
No dia 07 de dezembro ao sair para o trabalho, meu filho Kayros (05 anos), correu me abraçou e perguntou “pai ta indo pro tabalho?” disse a ele que sim, então ele continuou “vai da tudo certo”. Essa fala foi me acompanhando por todo o trajeto, e me chamou a atenção por que ele nunca acorda cedo.
Ao chegar ao trabalho tive uma imensa vontade de ligar o computador e acessar meu email, a surpresa foi maravilhosa estava lá postado um email onde o senhor reconsiderava o escrito anteriormente e dizia que não mediria esforços para realizar a leitura e enviar o parecer até o dia 19 de dezembro. Novamente os olhos lacrimejaram dessa vez de felicidade ao saber que o senhor dedicaria um tempo de vossa agenda lotada para contribuir comigo e com meu trabalho.
Ontem dia 19 foi minha qualificação, recebi com muita alegria vosso parecer, que foi lido pela minha orientadora professora Irene, na presença da professora Maria Saleti, todos concordaram sem duvida alguma que vossa presença física seria ainda mais significativa. As contribuições apresentadas pelo senhor, foram complementadas pela professora Maria Saleti, que deixou o momento ainda mais proveitoso, a quem não posso deixar de agradecer.
Todas as contribuições serão aproveitadas na redação do texto final da dissertação a qual pretendo apresentar no mês de março de 2012, contando com vossa valiosa e indispensável colaboração e participação.
Novamente meus sinceros agradecimentos e aproveito a SFA (síndrome do fim de ano), para desejar ao senhor e vossa família um natal repleto de alegria e um ano novo de felicidades.
Sassá