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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

30.- DE UM DIÁRIO DE VIAGEM



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1976
Esta é uma edição muito especial. Hoje, e nas próximas sextas-feiras, este blogue publicará relatos do ‘Diário de viagem’ do Professor Guy Barros Barcellos, atualmente nos Estados Unidos. Em julho, foi deste blogue que viajamos à Ilha Mauricio, através dos óculos do Mestrando em Educação em Ciências e Matemática – PUCRS. Na primeira das ‘memórias estadunidenses’ teremos justificada a paixão por museologia do fundador do Museu da Natureza da Escola ULBRA São Mateus.
Agora uma boa sexta-feira (que não existirá para os samoanos) em companhia de um dos usuais comentaristas deste blogue. E amanhã veremos como a homenagem apagou homenageado.
Abro este relato agradecendo ao meu amigo e guru científico Mestre Chassot pelo convite de participar neste egrégio blogue com meus relatos de viagem durante minhas andanças pelas terras de Margareth Mitchell e John Pemberton.
Aos 27 dias do mês de dezembro visitei o Fernbank Museum of Natural History, localizado em Atlanta (capital do estado da Georgia e cidade do “E o Vento Levou”). Este formidável museu e centro de Ciências foi idealizado por uma mulher além de seu tempo, a naturalista Emily Harrison (figura 1). Quando criança sua atividade favorita era explorar uma floresta urbana – uma das maiores do mundo, com 65 acres de mata nativa – localizada nos arredores de sua casa. Por existirem muitas samambaias (ferns, em inglês) às margens do riacho que cortava o bosque passou a chamar a floresta de Fernbank (margem das samambaias). Em 1880 este passou a ser o nome oficial. Não constarão fotos da floresta neste relato por estarmos no inverno e a floresta ser decídua.
O mais surpreendente é que ela criou, no meio do século XIX, uma escola na floresta. Ensinava jovens e crianças sobre os animais e as plantas. Fazia alfabetização científica e ambiental na prática e se preocupava em preservar este local para as gerações futuras em uma época em que poucos pensavam nisso! Em 1938, junto do biólogo Dr. Woolford Baker da Emory University, Miss Harrisson liderou um grupo de 15 naturalistas que tornaram-se fideicomissários da floresta. Através de convênios com escolas da região construíram em 1967 o Fernbank Science Center (figura 2).
Ao entrarmos no museu nos deparamos com um imenso esqueleto de Argentinossaurus e outro de Giganotossaurus (figura 3). Vale lembrar que o piso é todo feito de um arenito altamente fossilífero, causador de uma vexaminosa cena: andei quase rastejando por todo museu, muitas vezes chamando os olhares de visitantes mais contidos, para tirar fotos da fauna que se espalhava sob meus pés. Perguntei à minha mãe se deveria continuar, logo respondeu que eu era biólogo e tinha esta licença poética. Valeu uma bela foto de um amonita, com textura da concha e suturas das câmaras (figura 4). O próprio logotipo do museu é um amonita, a sua forma espiralada é muito significativa, pois lembra a Via Láctea e a dupla hélice do DNA. 
O museu possui 4 telas IMAX ® onde apresenta variados documentários científicos de alta qualidade, possui um centro de pesquisa científica e educacional, ampla coleção de moluscos e fósseis, além da área de exposição permanente com excelentes dioramas contando a história biogeológica da Georgia.
No entanto, o que motivou minha visita nesta ocasião foi a bem construída e necessária exposição temporária sobre Charles Robert Darwin (figura 5), ícone máximo da biologia. Em um país com sérios problemas de intolerância à teoria evolucionista – na região onde a situação é mais grave, a ponto de ter ouvido certa vez de uma atlantense: “Não aprendi evolução na escola. Aqui não falamos neste assunto” – o Fernbank irreverentemente se coloca como Darwinista. A exposição mostra manuscritos originais do cientista, contextualiza a Ciência na Inglaterra vitoriana (figura 6), constrói uma fidedigna réplica de seu escritório (figura 7), apresenta fatos e fotos de sua vida pessoal (figura 8) e afirma que a “teoria” da Evolução é um fato.


Mostra didaticamente que o ser humano é um animal, descendente dos primatas (figura 9) e denuncia e critica um selo de advertência: “Este livro contém material sobre evolução. Evolução é uma teoria, não um fato...” (figura 10) colocado em livros de biologia no condado de Cobb. Posteriormente isto foi considerado inconstitucional e foi ordenado que removessem os selos, o problema é remover o selo da mente das pessoas. Somente através da educação e do diálogo... A exposição encerra com um lindo diorama de orquídeas e um grande letreiro com o parágrafo que encerra a “Origem das espécies”: “Há uma grandeza nesta visão da vida... De um ancestral comum inúmeras formas de vida, das mais belas e mais maravilhosas foram e estão evoluindo”.
Resta-nos evoluir também.

11 comentários:

  1. Meu amigo,

    que bom poder participar deste blogue.

    Enviei-te o texto e me escaparam dois erros:

    1) última linha do segundo parágrafo: "...e a floresta SER decídua".

    2) penúltima linha do quarto parágrafo: "...com textura DA concha".

    Excusas!

    Escrevo depois de uma bela récita no Met Opera House.

    Reitero minha alegria em estar no blogue do mestre neste veneredi.

    Abraços!
    Guy

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  2. Caríssimos tio Attico e Guy

    Guy foi uma leitura muito interessante e instrutiva parabéns por esta viagem.

    Comento que é realmente um absurdo saber que instituições que se dizem educacionais proibam o ensino da Teoria Evolucionista.

    Gostaria de recomendar outro filme, este mais conhecido. Trata-se do "Criação" Título original: (Creation)
    Lançamento: 2009 (Reino Unido)
    Direção: Jon Amiel

    que trata maravilhosamente do drama vivido por Darwin para resolver publicar "A Origem das espécies"

    Abraços

    Daniel - Ctba

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  3. Meu caro Guy,
    meus leitores e eu somos gratos pela distinção que dás a este blogue.
    Editei as duas pequenas correções.
    No aguardo de novas memórias,

    attico chassot

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  4. Meu querido Daniel,
    realmente do relato do Guy o mais impressionante é
    uma denúncia acerca de um livro que precisava trazer um selo de advertência: “Este livro contém material sobre evolução. Evolução é uma teoria, não um fato...”
    Não conheço tua sugestão fílmica. Vou busca-la.
    Com alegria de tê-lo parceiro aqui,

    attico chassot

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  5. Mestre, apesar de achar o criacionismo uma licença poética, tenho que confessar que ainda não vi provas reais da teoria da evolução para explicar o desenvolvimento da nossa espécie...
    Quero dizer, falando como leigo, apesar das evidências, me parece que ainda existem lacunas a serem preenchidas na história completa que mostraria de onde realmente evoluiu o ser humano (o tal "elo perdido" e nunca encontrado)...
    Mas é claro que também não existem provas nem evidências que descartem essa teoria...
    Na minha juventude, já caí nas tentações de Erich von Daniken, que também empacaram por falta de maiores evidências!
    Me desculpe se divaguei demais...
    Tenha um ano novo de muita atividade e sucesso!

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  6. Muito estimado Leonel,
    aceitarmos o criacionismo ‘como uma licença poética’ é uma adesão ao evolucionismo que facilita a nossa leitura de mundo. Esta não é a postura dos fundamentalistas, que querem uma leitura ‘literal’, por exemplo, do Gênesis. É natural que no teoria evolucionista tenhamos eventos que ainda precisam de maiores esclarecimentos, mesmo que sequenciações do DNAs corroborem a tese central de Darwin: a ancestralidade comum.
    Como tu, até porque somos quase coetâneos encantei-me com ‘Eram os deuses astronautas’ ou “A volta ao mundo em 80 dias’ (que referiste na blogada de ontem).
    Ao desejar-te um bom 2012, reafirmo o privilégio de ter-te como leitor aqui,
    attico chassot

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  7. Caro Chassot,
    Muito bom, nossos olhos e ouvidos nos EUA serão o Professor Guy que, pelo primeiro post, nos trará informações interessantíssimas. Abraços, JAIR.

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  8. Jair, colega de blogares,
    a cada sexta neste período de férias teremos ‘um correspondente internacional’ especializado em Ciências e Arte.
    Obrigado por participares conosco

    attico chassot

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  9. Obrigado pelos comentários! Um abraço e um feliz 2012 aos colegas!

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  10. Caro Chassot,

    achei, essa ideia de oferecer o blog para ser relato de viagem do Prof. Guy (um terceiro) extraordinária. Nunca havia pensado nisso dessa forma: é uma boa sugestão!

    Destaco, no relato dessa quinta-feira, a expressão, "o problema é remover o selo da mente das pessoas". Infelizmente, o que se faz por aí, para remover ideologias é um absurdo.

    Um abraço,

    Garin

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  11. Obrigado Garin,
    para participares dos relatos do Prof. Guy. É/será uma boa pedida aos leitores.
    Com agradecimentos pela continuada parceria aqui

    attico chassot

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