Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1977
Último
dia do ano: dia de balanços e de fazer planos. Inaugurar agenda. Não faço isto
aqui. Mas há um destaque que o 2011 merece. É o ano da Carolina, minha sétima
neta, nascida em 30 de novembro. Festejei seu nascimento aqui na edição do dia
1º deste mês. Hoje, quando este blogue encerra o mês e o ano, celebro-a como símbolo
da esperança. Das tuas fotos trazidas, uma do último sábado na festa de natal
na Morada dos Afagos; em outra, ela está curtindo um banho com a Maria Clara,
sua feliz irmã. À Clarissa e ao Carlos a gratidão pela generosa perpetuação da
vida.
Hoje
é dia de São Silvestre. Há que convier que a homenagem ao santo, colocando sua
celebração litúrgica no último dia do ano, paradoxalmente, apagou a memória do
homenageado. Este desapareceu à medida que seu nome cresceu.
Pelo
menos na cultura brasileira falar em São Silvestre é falar na corrida (ou nas
corridas, pois agora vi que há também: São Silvestrinho) que ocorre na tarde do
último dia de cada ano. Há também anúncios de ‘bailes de São Silvestre’ ou de ‘réveillon
de são Silvestre’. Lembro também de um hotel com este nome, que já me hospedei
em Passo Fundo. São Silvestre é topônimo de bairros e distritos no Brasil e freguesia
em Portugal.
Mas,
¿e o santo? Aposto um doce, como se dizia em priscas eras, que a maioria dos
meus leitores não conhece uma figura muito importante na história do mundo
cristão dos primeiros séculos. Confesso que, até desenhar esta edição, não
sabia muito mais que Silvestre fora um papa. Há outro (Silvestre II) que foi papa
de 999 a 1003, num dos ápices do milenarismo
no mundo ocidental. Mas como papas já são quase três centenas... qual o
destaque do ‘santo do dia’?
Defendo
a tese que não devemos apenas espiar o mundo, mas adentrar nele. Assim convido
meus leitores a fazer isso.
São
Silvestre I foi o 33º Papa, por 21 anos, entre 31 de janeiro de 314 até 31 de
dezembro de 335 [por isso sua celebração é hoje], durante o reinado do
imperador romano Constantino I, que determinou o fim da perseguição aos
cristãos, iniciando-se a Paz na Igreja. Constantino entra na História como
primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na sequência da sua
vitória sobre Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312,
perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão.
Silvestre
I foi um dos primeiros santos canonizados sem ter sofrido o martírio. Como papa
Silvestre I enviou emissários para presidirem ao sínodo de Arles (314) e ao
Primeiro Concílio de Niceia (325), convocados por Constantino, a sua ausência é
motivo de debate, provavelmente deve-se ao seu estado de saúde. Durante o seu
pontificado a autoridade da Igreja foi estabelecida e se construíram alguns dos
primeiros monumentos cristãos, como a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, e
as primitivas basílicas de Roma (São João de Latrão e São Pedro), bem como das
igrejas dos Santos Apóstolos e de Santa Sofia em Constantinopla.
Segundo
a tradição, acerca da conversão de Constantino, conta-se que na noite anterior
à batalha contra Magêncio, antes referida,
sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim: In hoc signo vinces["Sob este símbolo
vencerás"]
De
manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos
soldados e conseguiu uma vitória esmagadora sobre o inimigo. Esta narrativa
tradicional não é hoje considerada um fato histórico, tratando-se antes da
fusão de duas narrativas de fatos diversos encontrados na biografia de
Constantino pelo bispo Eusébio de Cesareia.
Só
após 317 é que ele passou a adotar clara e principalmente lemas e símbolos
cristãos, como o "chi-rô", emblema que combinava as duas primeiras
letras gregas do nome de Cristo ("X" e "P" superpostos). No
entanto, já quando da sua entrada solene em Roma em 312, Constantino recusou-se
a subir ao Capitólio para oferecer culto a Júpiter, atitude que repetiria nas
suas duas outras visitas solenes à antiga capital para a comemoração dos
jubileus do seu reinado, em 315 e 326.
A
sua adoção do cristianismo pode também ser resultado de influência de sua mãe
Helena. Esta, com grande probabilidade, havia nascido cristã e demonstrou
grande piedade no fim da sua vida, quando realizou uma peregrinação à Terra
Santa, localizou em Jerusalém uma cruz que foi tida como a Vera Cruz e ordenou
a construção da Igreja do Santo Sepulcro, substituindo o templo a Afrodite que
havia sido instalado no local — tido como o do sepultamento de Cristo — pelo
imperador Adriano.
Assim é no papado de Silvestre I que a o
cristianismo se torna hegemônico no Império Romano (leia-se mundo ocidental). É
também quando a igreja se transmuta de perseguida em perseguidora, assunto
usualmente apagado. Uma boa pedida para uma blogada.
E, agora, quando nos lermos de novo, já será 2012.
Assim, até o próximo ano.
Caro Chassot,
ResponderExcluire fato, são muitos aqueles que consideram que a Igreja Cristã teria sido autêntica enquanto permaneceu nas catacumbas e na clandestinidade. A partir de Constantino I passa a oficialidade e a gozar das benesses do poder.
É difícil dizer o quanto há de fato e o quanto ha de idealização nessa consideração. Por um lado, um movimento revolucionário faz sua trajetória em duas direções: tornar-se oficial ou desaparecer. Quando se torna oficial, institucionaliza-se, como foi o que aconteceu com a Igreja Cristã e aí cercou-se de garantias para estabelecer sua continuidade; quando não se institucionaliza, desvanece e morre por causa das gerações que se sucedem e não entendem plenamente o sentido da clandestinidade e até não estão dispostas a assumir sacrifícios. O grupo apostólico, quando retoma a caminhada após a morte de Jesus e inaugura o tempo da Ressurreição de Cristo é minúsculo, quem sabe umas cento e vinte pessoas. Há um incremento de crentes durante a assembleia de Jerusalém denominada de "Derramamento do Espírito", mas nem todas aquelas pessoas permaneceram fiéis. A Igreja alimentou-se sempre com os TESTEMUNHOS, martírios dos fiéis. Mas, com o passar do tempo, esses martírios tendiam à diminuição o que colocaria em perigo o movimento revolucionário dos cristãos. Não há como negar que ao se tornar oficial a Igreja transformou-se em perseguidora. Toda a instituição acaba realizando coisas para se proteger e com a Igreja não foi diferente. Há que se avaliar se dessa forma a Igreja é autêntica ou se a autenticidade dela estaria apenas enquanto movimento, ainda que desse forma, tendesse a desaparecer na história.
Acho que me estendi demais, coisas da madrugada!
Feliz fim de ano, no Calendário Gregoriano!
Garin
JOSÉ CARNEIRO de Belém escreveu
ResponderExcluirMeu caro amigo prof. Chassot:
Esperei, de propósito, o último dia do ano para lhe mandar esta mensagem. Como é uma data bem cabalistica, ela sempre enseja as mais variadas reflexões. Você ditou, no seu blog hoje, a mais referencial dessas reflexões: a presença da nova neta "neste mundo velho sem porteira", como diria o Érico Verissimo ou neste "vale de lágrimas", como diz a literatura cristã. Faço minha as suas palavras para que a neta seja bem vinda.
Revendo 2011, fico feliz de ter mantido uma profícua ligação com você e com o seu blogue, ao qual tive a honra de fazer parte a seu convite. Da mesma maneira, foi frutuoso tomar contato com três livros por idicação sua, o primeiro dos quais da nicaraguense Gioconda Belli, da brasileira Mary del Priore e do americano Irving Wallace, com seu livro "O Prêmio", sobre o Nobel. Encontrei num sebo de Belém, em ótimo estado. Os dois primeiros livros já lidos e o último começado. Renovo minha gratidão pela indicação.
No meu plano pessoal, inúmeros artigos, dois livros, missões sindicais e missões do avonado preencheram - e bem - o 2011.
No plano familiar, tudo correu às mil maravilhas.
No plano politico, o plebistico impediu, por hora, a divisão do estado. A lamentar a posse de um notório corrupto no senado. Mas, como diz o ditado latino, "dura lex, sed lex". Ou como diziam o Jararaca e o Ratinho, "a lei é dura mas o dinheiro amolece".
Espero que 2012 nos traga muita saúde para continuarmos interagindo, virtualmente ou pessoalmente.
Grande abraço,
José Carneiro
Meu querido José,
ResponderExcluirprimeiro obrigado por celebrares comigo a Carolina, que chega – usando a tua evocação litúrgica – ao vale de lágrimas (¿lembra como quando alunos maristas fazíamos elucubrações com esta metáfora na ‘Salve Rainha¿).
Por outro lado vibro com nossa relação neste blogue onde o Pará teve espaço pela tua pena sibilina (aqui na acepção de profética). Encantou-me saber da influência deste blogue nas tuas leituras.
Não aspiro esta posição de guru.
No mais que venha 2012, que como diz LF Veríssimo será muito bom como soem ser os anos pares.
Para mim não precisa ser melhor que o impar e primo 2011.
Um afago para ti e todos os teus em especial para as queridas Conceição e Nila.
attico chassot
Meu Caro Mestre Chassot. Muito bem trazida a narrativa histórica deste que é o simbolo do ultimo dia do ano: Sao Silvestre. Na expectativa de um 2012 que nos traga bons tempos na educaçao brasileira e naquela em que estamos envolvidos. Que as vitórias de Constantino possam também nos inspirar. Abraços do JB e Familia e um FELIZ ANO NOVO a você e à querida GELSA.
ResponderExcluirMeu caro Garin,
ResponderExcluira opção da igreja cristã entre manter-se nas catacumbas ou fazer-se hegemônica, não implicava em migrar de perseguida à perseguidora.
Votos de um bom 2012,
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirObrigado por essa magnífica explanação a cerca do desconhecido Silvestre e parabéns pelo excelente conteúdo de teu blogue durante todo o ano. Nós, seus leitores, tivemos a felicidade de acompanhá-lo tanto nos périplos viajores que te acometeram neste ano, como nas incursões eruditas e recheadas de informações interessantes que tu produziste nos textos. Abraços e bom ano, JAIR.
Meu caro Jairo,
ResponderExcluirobrigado pela parceria intelectual neste saboroso 2011.
Agradeço teus votos e os retribuo para ti e para os teus.
E que venha o 2012 que faremos dele um ano para ajudar a transformar o Planeta para melhor.
Escrevo sob uma gostosa chuva que irriga este ocaso de 2011.
Com renovada admiração,
attico chassot
Obrigado estimado Jair,
ResponderExcluirtu como bloguista sabes que um blogue se faz com nossos leitores, em especial com nossos comentaristas.
Ter te entre aqueles que a cada dia dão prestígio (mesmo com críticas oportunas) dá status ao blogue e catalisa este gostoso, mas árduo fazer.
Que em 2012 continuemos juntos,
attico chassot
Olá!!! Querido professor, hoje em família (estamos na casa de meus pais) conhecemos a história de São Silvestre; lhe garantindo o doce:)
ResponderExcluirÉ com muita alegria que lemos a "importância de adentrarmos no mundo" pois, eis que neste final de 2011 meus pais aderem ao movimento dos "com @"... iniciam um curso para suas futuras "navegações" e comunicações via net, na semana que vem - muito nos inspiramos no senhor. Logo serão leitores e comentadores de seu blog...
Iluminado e abençoado 2012 ao senhor, a Gelsa e a toda família!
Um forte abraço!!!!
Sandra
Muito querida Sandra,
ResponderExcluiremociona-me saber que teus pais deixam de pertencer ao MS@.
Isto é maravilhoso,
É para eles, em especial, meus votos de um 2012 com @
Com admiração e amizade
attico chassot
Querido Attico,
ResponderExcluirum brinde a mais um ciclo que encerra-se e outro ao novo ciclo que se inicia.
Muito esclarecedora tua blogada acerca do São Silvestre e oportuno o comentário do Garin, acerca de mudanças tão profundas no ser Igreja.
Que 2012 seja frutífero a todos e que jamais nos permitamos sequer pensar em não ter coragem de sonhar.
Grabde abraço. Feliz 2012!
Boa tarde, Mestre!
ResponderExcluirParabéns pela linda neta!
Obrigado pela aula sobre S. Silvestre.
Tenha uma feliz passagem de ano e um 2012 cheio de esperança e sucesso!
Muito estimado Paulo Marcelo,
ResponderExcluirresponder a interrogações quase prosaicas como ‘¿Quem foi são Silvestre?” aguçam curiosidade e nos faz ‘estar no mundo’.
Obrigado pela pareceria neste 2011, ínpar, primo e muito gostoso, onde quase a sua abertura estivemos juntos e tu estiveste na Turquia (o que para um polímata como tu é algo muito especial).
Uma boa abertura de um novo ciclo,
attico chassot
Meu caríssimo Leonel,
ResponderExcluirpelos comentários de meus leitores, agradou ter revelado um pouco do badalado/desconhecido São Silvestre.
Coloco nos ganhos deste muito bom 2011 ter termos estabelecido esta amizade catalisada pelo Jair.
Valeu muito.
Que o 2012 que já espia venha para vivermos plenamente nossos sonhos.
Com admiração
attico chassot
Querido amigo,
ResponderExcluirestou de saída para a ópera, portanto serei breve.
Muita saúde e alegria.
2012 promete.
Abraços,
Guy
A QUEM PUDER ME AJUDAR PRECISO DE UMA AJUDA COM UM SÍMBOLO "CHI-RÔ" QUEM SOUBER ME CHAMA NO WHATS 19988105603
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