Algo do diário
de um mestre-escola, na tríplice jornada desta sexta-feira no Programa de
Pós-Graduação em Educação da URI. As atividades da manhã começaram com a retomada
dos encontros de novembro, feitas – inicialmente – em três tempos: Cada um
dos participantes recebeu uma folha, com três campos, com ordens distintas: no primeiro Elabore uma
questão/problema acerca de assunto tratado em um dos dois primeiros encontros;
no segundo, (depois de uma troca
aleatória de folhas) a um respondente, se oferecia: Proponha uma resposta ao
apresentado acima; em um terceiro campo,
a outro aluno (o avaliador), se propunha: Considera a questão e a resposta e
fação uma avaliação descritiva e atribua notas 5+5 justificadas. Depois de a
mesma folha receber contribuições de três participantes, se organizou a
leitura de uma rodada do primeiro campo, para em outro momento se eleito um
conjunto de pergunta + resposta + avaliação para serem socializada por todos.
A
parte da tarde teve inicio com o texto centralizado aqui ontem, seguida de
estudos de revoluções científicas. À noite fizemos uma análise do livro A Ciência é masculina? É, sim senhora!
Estamos quase
no ocaso do 2011 – Ano Internacional da Química. Neste blogue a efeméride foi
muitas vezes celebrada. Muitas sociedades científicas fizeram o mesmo no
Planeta. Eu, pessoalmente, evoquei o tema em dezenas de palestras.
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Muito
provavelmente não existe no imaginário de alunas e alunos do ensino médio (e,
talvez mesmo entre os professores de Química) e até entre profissionais das
diferentes áreas nenhum nome que desperte tanta admiração e mesmo curiosidade
como o de Dimitri Ivanovitch Mendeleiev (1834-1907). À comunidade envolvida com
os feitos do genial russo foi oferecido, já em 2002, um livro muito especial
escrito pelo espanhol Pascoal Roman Polo, professor da Universidad del País
Vasco. Tive o privilégio de naquele ano ser recebido pelo professor Pascoal em
sua universidade, trocado experiências acadêmicas e conhecido, sob sua direção parte
da região. Agora, passados quase 10 anos ofereço aqui a sugestão.
& ROMÁN POLO,
Pascual. El profeta del orden químico:
Mendeléiev. Tres Cantos (Madrid): Nivola, 2002. 190 p. ilustr. ISBN 84-95599-29-6
Em El
profeta del orden químico: Mendeleiev, Román Polo – que já havia traduzido
para o eusquera [há duas notas ao final] a Tabela Periódica – apresenta o que
título anuncia. Obra, que é o volume 9 da coleção “cientistas para a história”
tem uma editoração primorosa e uma iconografia resultado de uma busca a fontes
raras, que nem sempre disponíveis de um número maior de leitores. O texto tem o
rigor do químico inorgânico da UPV, que se sentiu desafiado a produzir algo da
dimensão do biografado e o fez com sobejos méritos.
No cap. 1 – Amor de mãe – ao conhecermos a Rússia do
século 19, que ainda vivia sob o calendário Juliano, nos emocionamos com a
forte relação de Dimitri com sua mãe. Em Ciência,
docência ou indústria vemos as dificuldades de opção do jovem cientista e
as exigências de buscar fora da Rússia aperfeiçoamento e fazer tessituras com
outros ícones de então. No capítulo
2 conhecemos acerca das (des)venturas da vida amorosa do biografado. Mas é o
título do capítulo seguinte: Uma grande
paixão: a Ciência que conta desta que foi a sua relação mais intensa. Isso
é detalhado no capítulo 4: Sua obra mais
querida: “Princípios de Química” da qual ele mesmo disse: “Princípios de Química” é a mais querida de
minhas criaturas. Contêm todo o meu ser, minha experiência de pedagogo e minhas
idéias científicas mais íntimas
(p. 97). O cap. 5 – O gênio aparece: a lei periódica –
detalha aquela que é a contribuição pela qual mais conhecemos Mendeleiev: a
tabela periódica e no capítulo seguinte – O
poder de predição da Tabela periódica –, conhecemos o quanto a genialidade
extrapola a descoberta maior e o genial russo a usa para fazer predições e
correções em descobertas de elementos. O último capítulo – Mendeleiev,
Moseley e Seaborg – detalha a ratificação da lei periódica com o
estabelecimento do número atômico.
Além
de uma muito criteriosa biografia, contextualizada na Rússia da pré Revolução
de 1917, especialmente quanto ao panorama da Ciência e da indústria química, há
destaques a feitos da época com os quais Mendeleiev envolveu-se (movimentos
feministas – talvez a maioria dos químicos desconheçam o quanto esse ancestral
se envolveu com questões relacionadas com o feminismo –, ambientalistas,
astronômicos, aeronáuticos...).
Há,
ainda no correr de todo livro
mais de duas dezenas de boxes (talvez devesse chamá-los de hipertextos), a
maioria biografia de cientistas que aparecem na trama histórica ou ainda de
fenômenos químicos; há alguns desses, que por serem por muito extensos – Caos e
confusão da Química no século 19, tem 6
páginas – que chegam a dificultar uma leitura linear do livro. Há ainda uma
cuidadosa cronologia e bem elaborada bibliografia para futuros estudos.
Este livro, como vários outros que
trazem a biografia do genial russo reforçam a figura mítica de Mendeleiev:
olhar suave, mas interrogante, cabelo em desalinho, barba de profeta. Nenhum
leitor aceitaria esse ícone da Química moderna sem essas marcas, por exemplo,
com cabelo raso. Temos imaginários: construíram-nos a imagem de Einstein junto
a uma lousa com fórmulas matemáticas indecifráveis ou Marie Curie com Pierre no
laboratório procurando elementos radioativos a partir de toneladas de
pechblenda. Desejo uma boa leitura para adensar mais as imagens que temos de Mendeleiev.
[1] Eusquera ou vasco,
é a língua falada no País Vasco, uma das autonomias da Espanha. É uma chamada
língua isolada, ou seja, uma língua da qual não se conhece parentesco com
nenhuma outra língua moderna. É um idioma tão difícil que em português vasconço
é sinônimo de língua ininteligível.
[2] Para que o leitor verifique o
quanto o eusquera é uma língua, onde não se encontra semelhança com
outras línguas, leia um excerto de um folheto que descreve a arquitetura do
Museu Guggenheim de Bilbao, que visitei quando estive na UPV. “Eraikina
elkarri lotukako bolumen batzuek osatzen dute, batzuk ortogonalak eta kararriz,
titaniosko larru metaliko batez estaliak. Bolumen oriek beirazko
gortina-hoemekin kombinatuta daude, araikin osoari gardentasuna eskainiz. Konplexutasun
matimatikoaren eraginez, harri, kristal eta titanioko kurba bihurgunetsuak
ordenadore bidez diseinatu dire.” A tradução (que faço do espanhol, é
claro). “O edifício está composto de uma série de volumes interconectados,
uns de forma ortogonal recobertos de pedra caliça e outros curvados e
retorcidos, cobertos por uma película de titânio. Estes volumes se combinam com
muros, como cortinas de vidro que dotam de transparência todo edifício. Devido
a sua complexidade matemática, as sinuosas curvas de pedra, cristal e titânio
foram desenhadas por computador.” É preciso reconhecer que se trata de um
texto técnico com termo modernos. É fácil imaginar a complexidade de textos que
contenham, por exemplo, a história remota vasca, uma das mais antigas civilizações
do Planeta.
Caro Chassot,
ResponderExcluirComo meu conhecimento de química é primário, tabela periódica e química orgânica somente, ler sobre o grande Mendeléiev é estimulante. Obrigado por essa preciosa dica, JAIR.