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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

03- A era das mãos entrelaçadas

Porto Alegre Ano 5 # 1492

Uma vez mais essa blogada ocorre da Morada dos Afagos. As intensas chuvas da noite prosseguem neste início de manhã. Não se pela intensidade da programação (das seis viagens com as longas horas de aeroporto) de Pato Branco, parece que, há vários dias, não posto daqui. Mas estive ausente apenas algumas horas.

Nas três etapas do retorno tive a agradável e sábia companhia de meu colega Prof. Dr. Antonio Salvio Mangrich, da UFPR. A maratona foi amenizada com significativos aprendizados. Sobre o retorno um registro que pode soar a merchandising. No aeroporto municipal de Chapecó, há disponibilização de WiFi por cortesia do hotel Lang. Pareceu-me uma propaganda tão simpática e bem bolada que merece o registro aqui.

Antes da edição de hoje me permito reeditar um aviso, que já ensejou o retorno de comentarista.

Agora, há uma alternativa: Comentar como ANÔNIMO. Neste caso, se pede para assinar e colocar o endereço eletrônico.

Ontem, pela manhã, na abertura de minha fala para um grupo de cerca de meia centena de professoras e professores de Ciências da Escola Básica trouxe uma citação de Sir James Lovelock (*1919), um pesquisador e ambientalista britânico. Ele defende a hipótese de Gaia para explicar o comportamento sistêmico do planeta Terra. A Terra é vista, nesta teoria, como um super-organismo. Já apresentei aqui Lovelock em outras oportunidades:

"Temos que ter em mente o assustador ritmo da mudança e nos darmos conta de quão pouco tempo resta para agir, e então cada comunidade e nação deve achar o melhor uso dos recursos que possui para sustentar a civilização o máximo de tempo que puderem". http://www.ecolo.org/lovelock

Ao entardecer nas quase quatro horas no aeroporto de Florianópolis, li o texto que se faz manchete e tem conexão com posturas que venho, de maneira sistemática, priorizando em palestras. Assim nesta sexta-feira chuvosa, faço uma oferenda: um texto de um dos mais importantes eco-teólogos. A fonte é www.amaivos.com.br

A era das mãos entrelaçadas

Leonardo Boff

Meus artigos sobre a situação ecológica da Terra poderão ter suscitado nos leitores e nas leitoras não poucas angústias. E é bom que assim seja, pois são as angústias que nos tiram da inércia, nos fazem pensar, ler, conversar, discutir e buscar novos caminhos. A tranquilidade em tempos sombrios como os nossos se afigura como uma irresponsabilidade. Cada um e todos devemos agir rápido e juntos porque tudo é urgente. Temos que nos mobilizar para definir um novo rumo à nossa vida neste Planeta, caso quisermos continuar habitando nele.

Os tempos de abundância e comodidade pertencem ao passado. O que está ocorrendo não é uma simples crise, mas uma irreversibilidade. A Terra mudou de modo que não tem mais retorno e nós temos que mudar com ela. Começou o tempo da consciência da finitude de todas as coisas, também daquilo que nos parecia mais perene: a persistência da vitalidade da Terra, o equilíbrio da biosfera e a imortalidade da espécie humana. Todas estas realidades estão experimentando um processo de caos. No início ele se apresenta destrutivo, deixando cair tudo que é acidental e meramente agregado, mas em seguida, se revela criativo, dando forma nova ao que é perene e essencial para a vida.

Até agora vivíamos sob a era do punho cerrado para dominar, subjugar e destruir. Agora começa a era da mão estendida e aberta para se entrelaçar com outras mãos e, na colaboração e na solidariedade, construir "o bem viver comunitário" e o bem comum da Terra e da humanidade. Adeus ao inveterado individualismo e bem-vinda a cooperação de todos com todos.

Como os astrofísicos e os cosmólogos nos asseguram, o universo está ainda em gênese, em processo de expansão e de auto-criação. Há uma Energia de Fundo que subjaz a todos os eventos, sustenta cada ser e ordena todas as energias para frente e para cima rumo a formas cada vez mais complexas e conscientes. Nós somos uma emergência criativa dela.

Ela está sempre em ação mas se mostra especialmente ativa em momentos de crise sistêmica quando se acumulam as forças para provocar rupturas e possibilitar saltos de qualidade. É então que ocorrem as "emergências": algo novo, ainda não existente mas contido nas virtualidades do Universo.

Estimo que estamos às portas de uma destas "emergências": a noosfera (mentes e corações unidos), a fase planetária da consciência e a unificação da espécie humana, reunida na mesma Casa Comum, o planeta Terra.

Então, nos identificaremos como irmãos e irmãs que se sentam juntos à mesa, para conviver, comer, beber e desfrutar dos frutos da Mãe Terra, depois de haver trabalhado de forma cooperativa e respeitando a natureza. Confirmaremos assim o que disse o filósofo do Princípio Esperança, Ernst Bloch:"o gênesis não está no começo mas no fim".

Faço minhas as palavras do pai da ecologia norte-americana, o antropólogo das culturas e teólogo Thomas Berry: "Não nos faltarão nunca as energias necessárias para forjar o futuro. Vivemos, na verdade, imersos num oceano de Energia, maior do que podemos imaginar. Esta Energia nos pertence, não pela via da dominação mas pela via da invocação".

Temos que invocar esta Energia de Fundo. Ela sempre está ai, disponível. Basta abrir-se a ela com a disposição de acolhê-la e de fazer as transformações que ela inspira.

Pelo fato de ser uma Energia benfazeja e criadora, ela nos permite proclamar com o poeta Thiago de Mello, no meio dos impasses e das ameaças que pesam sobre nosso futuro: "Faz escuro, mas eu canto". Sim, cantaremos o advento desta "emergência"nova para a Terra e para a humanidade.

Porque amamos as estrelas, não temos medo da noite escura. Elas são inalcançáveis mas nos orientam. Lá nas estrelas se encontra nossa origem, pois somos feitos do pó delas. Elas nos guiarão e nos farão novamente brilhar. Porque é para isso que emergimos neste Planeta: para brilhar. Esse é o propósito do universo e o desígnio do Criador.

Depois desta fruição e quase impossível imaginar que tenhamos no Brasil, nos 30 dias que nos separam das eleições, o recrudescimento de ataques, marcados pela baixaria daqueles que já se sentem prováveis derrotados. Isto faz de alguns de nós literalmente enojados. Lamento que seja neste o clima que deseje: uma muito boa sexta-feira. Para aqueles e aquelas com quem estive na jornada de Pato Branco, desejo parte desta chuva que aqui se faz copiosa para amenizar a seca em os assola. Lemo-nos amanhã comentando uma leitura mais amena.

6 comentários:

  1. Boa noite Professor!
    =]
    Essa 'hipótese de Gaia' é algo que me fascina, apesar de não ser bióloga, rssss. Inclusive foi algo que me encantou quando assiti ao filme AVATAR, pois no fundo é o que tentam demonstrar, apesar de se tratar de um mundo fictício [Pandora], mas é encantador assim mesmo!
    =]
    Quanto às questões políticas, acredito que me encaixo entre os que se enojam de muitas dessas situações...infelizmente.
    =/
    Uma suave noite de sexta ao senhor e aos seus!
    Por aqui, ainda seco e muito quente...

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  2. Estimado Chassot, lamentavelmente temos que nos deparar com esse tipo de situação às vésperas das eleições; mediante a tal situação me vejo obrigada a questionar mais ainda sobre a importância do voto consciente, afinal é a arma que temos em mãos.
    Abraços,
    Elaine Sueli

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  3. Estimada Elaine Sueli,
    realmente o voto consciente – e talvez facultativo – é o que minimiza(ria) esse clima de baixaria nesse período pré-eleitoral.
    Tomara que esse clima não desbote mais as belezas de setembro,
    Um bom fim de semana,
    attico chassot

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  4. Muito querida colega Thaiza,
    sou adepto – mesmo com meus limitados conhecimentos na área – da hipótese Gaia. Avatar pode ter sido uma metáfora bem posta. E as tentativas (bem sucedidas) do Planeta se recuperar, outra.
    Talvez o voto facultativo minimizaria esse clima de baixaria nesse período pré-eleitoral.
    Tomara que esse clima não desbote mais as belezas de setembro,
    Um bom fim de semana na gostosa expectativa da gostosa promessa dezembrina,
    attico chassot

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  5. Mestre!
    Admiro muito o eco-teologo Leonardo B. Ontem encontrei o Prof. Antonio, nosso amigo em comum, e conversamos lembrando o Sr. Admiro muito a D. Liba! Que vida admiravel...como é maravilhoso o que a filha escreve sobre ela...são pessoas maravilhosos que vale conhecer, mesmo atravez da internete! É maravihosa a internet mesmo que muitas vezes temos que correr para não ser atrapalhado pelos artefatos tecnologicos......bom sabado...estou esperando a dica de leitura para hoje....
    Elzira.

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  6. Muito querida Elzira,
    quando postavas teu comentário eu sugeria ir à Bíblia ler os cantares salomônicos. Realmente o que a Gelsa escreve sobre sua mãe é emocionante e a Liba merece nossa admiração. Faço cópia para as duas de teu comentário.
    Que bom que temos alternativas para te reintegrares à comentarista.
    Que as chuvas daqui cheguem a Maravilha.
    Um afago do
    attico chassot

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