Porto Alegre Ano 5 # 1500 |
Afeitos a celebrações de números ’redondos’ valeria um brinde a esta sesquimilenar postagem. Chegamos a esta data tão prenhe de marcas para o Planeta a 1,5 mil edições. Numa nota lateral vale acrescentar que o prefixo sesqui significa um + metade. Adito isto, pois há não muito falei a um grupo e referi o sesquicentenário da publicação de ‘Origem das espécies’ ocorrido no ano passado e não havia ninguém que soubesse que se tratava de 150 anos. Claro que também desconheciam, por exemplo, o sesquióxido de alumínio Al2O3.
Não vou comentar o nono aniversário do trágico e quase fantasmagórico 11 de setembro de 2001. Já disse aqui mais de uma vez que esta é uma das datas que todos sabemos o que fazíamos naquela manhã, aqui no sul já recendendo à primavera. Meus familiares, meus colegas e amigos e eu sepultávamos, no momento exato da tragédia, minha mãe no bucólico cemitério do Faxinal. Hoje respiramos mais aliviados porque aquele pastor estadunidense maluco suspendeu a queima de Corães.
Agora, depois da super sexta-feira de ontem onde fui desafiado a falar em um seminário que recebeu o quase hermético título: ‘Das análises (quase) finais’. Fui solicitado a falar acerca da escrita quando a pesquisa se encaminha para a elaboração final. Realmente ter me dedicado ontem a estudar um pouco de Michelangelo foi relevante. Os aplausos dos mestrandos e de minha colega Marlis ao final foi uma muito boa gratificação.
Mas sábado é dia de dica de leitura. Acerca de um mês (07AGO2010) houve numa blogada sabática a trazida de um livro 7.- A ESCRITA CIENTÍFICA NO DIVÃ que tem muito a ver com o seminário que dei ontem de noite.
Todavia, hoje vou virar a mesa. A dica de leitura é hoje antípoda de um escrito acadêmico. Sei que corro o risco de ser acusado de difundir leitura erótica. ¿ E por que não? Afinal os tempos do ‘Index liborum prohibitorum’ são passados. O Concílio Vaticano II (1962/65) que terminou com a inquisitorial prática já é distante. Se não tivesse nenhum argumento para justificar a escolha, voltaria a minha tese, ainda conectada com minha fala de ontem à noite: para bem escrever textos acadêmicos devemos ler ficção. Acrescento muito boa ficção. O livro que trago hoje é daqueles onde são tênues os limites entre a ficção e realidade. [Aqui , de vez em vez, se tem questionado a existência deste limite]. Mas a sugestão é plenamente justificada por tratar-se de um excelente texto. Daqueles que tem parágrafos sumarentos que se rele pensando: Quem me dera soubesse eu escrever algo assim!
Semana passada foi de viagens demoradas com muitas horas de aeroporto e para tal existe um excelente calmante: um livro da Coleção L&PM Pocket. E vejam que soube fazer uma excelente escolha.
Henry & June conta o início da relação de Henry Miller com Anaïs Nin. Henry se muda para França e é convidado, pelo marido dela, a visitá-los. Anaïs, à procura de algo novo, mais espontâneo, logo se apaixona pela vivacidade de Henry. Porém Henry é apaixonado por June.
Anaïs, nutrindo admiração por Henry, começa a observá-lo, e se apaixona pelo amor que ele tem por June. Essa paixão a faz apaixonar-se, também, por June. Em meio a esses sentimentos, inicia-se o caso de Henry com Anaïs, transformando suas vidas, tanto de escritores quanto de amantes.
NIM, Anaïs. Henry & June: Diários não expurgados de Anaïs Nin (1931-1932). Henry and June: From a Journal of Love. – The Unexpurgated of Anaïs Nin. Tradução de Rosane Pinho. Porto Alegre: L&PM, 2007, 256p.(L&PM Pocket, v. 613). ISBN: 978-85-254-1651-3
Extraído dos diários de Anaïs Nin (1903-1977), Henry & June é um relato íntimo do florescer sexual da autora. Os relatos são dos últimos meses de 1931 ao final de 1932 da vida de Anaïs Nin em Paris, período em que ela conheceu o escritor estadunidense Henry Miller (que escrevia então Trópico de Câncer) e sua bela mulher, June. Anaïs Nin apaixonou-se pela beleza de June e pela escrita de Miller; logo iniciou com ele um affair que a libertou sexual e moralmente, minou o seu casamento (com o banqueiro Hugh Guiler, que ela chama de Hugo) e a levou à psicanálise. Mas todo o novo mundo do sexo que lhe fora desvendado, seu relacionamento com Hugh e com o primo Eduardo não bastavam para tirar da sua cabeça a feminina June...
Considerado por muitos o melhor livro de Anaïs Nin, Henry & June foi publicado na década de 1980, após a morte da autora. Não constou dos diários publicados em sete volumes a partir de 1969. Discute-se o quanto de ficção e fantasia ele contém, o que torna ainda mais primoroso e saboroso o pícaro texto de Anaïs.
Há um filme estadunidense de 1990 -- Henry & June --, do gênero drama erótico e biográfico, dirigido por Philip Kaufman, com Maria de Medeiros e Uma Thurman nos papéis de Anaïs e June. Eu não assisti ao filme, mas me parece quase impossível imaginar que possa superar o livro.
Quem faz diários como eu, se encanta também com a qualidade da diarista Anaïs. Está aqui a dica de leitura do primeiro shabath do ano 5771. Um muito bom sábado a cada uma e cada um de meus amáveis leitores.
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