Porto Alegre Ano 5 # 1493 |
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Manhã chuvosa em Porto Alegre, com relâmpagos e trovões. A Gelsa está partindo para Campo Grande, para participar do XIV Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática (XIV EBRAPEM) na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
Um sábado para falar em livros e fazê-lo com dulçor. Brinco com as diferentes associações que tecem o texto de hoje. Talvez elas comecem no sábado passado quando referi lateralmente ao erótico ‘
O CÂNTICO DOS CÂNTICOS. Tradução do hebraico Frei Luis de León. Tradução do espanhol e introdução Pedro Port. Edição bilingue Português Espanhol. Florianópolis: Letras contemporâneas, 1997, 87p. ISBN 85-85775-26-2 R$ 17,90 (no sítio da editora).
Para se entender a histórica beleza da obra, trago palavras de Pedro Port na abertura da apresentação da edição acima referenciada: “Razão teve sobeja o Rabi Aqiba, quando disse que o mundo todo não vale o dia que o Shir Há Shirim [em hebreu ‘
Parece que não mais seria preciso acrescentar algo. Adito a essa abertura um pequeno excerto de tese de doutorado acerca da tradução que é trazida na blogada de hoje: “O Cântico dos Cânticos, um canto nupcial que consagra o amor humano e, por conseguinte redime a desconfiança original do relato da criação – se neste a mácula gera certa barreira (certa parreira) entre homem e mulher, no Cântico uma descrição detalhada das formas do corpo nu. No Cântico a referência a Deus ocorre somente uma vez para exprimir uma coisa no grau superlativo, assim não se trata de um agradecimento ou do reconhecimento da participação Dele naquele encontro amoroso. Deus é convenientemente deslocado e no momento que se relata a intensidade do amor que une os que amam, diz-se brasas de Deus. Um amor fumegante une os amantes”. [OLIVEIRA, Nilton José dos Anjos de. Frei Luis de León: do Cantar dos Cantares referido a Jó. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2007.Tese de Doutorado em Teoria Literária, 225 páginas].
A fruição destes dois excertos parece traduzir a excelência da obra. Parece que a maioria dos que tem a Bíblia em suas casas (como objeto de leitura ou de decoração) não se abebera da preciosidade que tem ao alcance de suas mãos, Talvez porque o menor dos livros da Bíblia esteja ‘sufocado’ por outros livros no menos lido antigo testamento. Ou porque as traduções correntes estão por demais mutiladas, como já comentei aqui.
Merece um comentário muito especial o tradutor do livro de hoje: Frei Luís de Leon ou Fray Luis de León (1527-1591), humanista, teólogo, poeta e tradutor espanhol, foi monge da ordem de Santo Agostinho (354-430) a mesma a que pertenceu seu contemporâneo Martinho Lutero (1483-1546). Era professor na Universidade de Salamanca. Durante quatro anos permaneceu preso nos calabouços do Santo Ofício em Valladolid acusado de preferir o texto hebraico da Bíblia ao latino da Vulgata e por ter traduzido, em 1561, o Cantar de los Cantares em língua vulgar, prática proibida então pelo Concílio de Trento. Ele traduziu também o livro de Jó.
Este sacerdote e insigne professor, quando foi libertado regressou à Universidade de Salamanca. O seu regresso causou grande surpresa e também muita curiosidade. Assim, quando ministrou a primeira aula depois de libertado, a sala encheu-se, pois toda a gente queria saber o que ia dizer sobre os cinco anos de cárcere. Quando os alunos fizeram silêncio, Frei Luís tomou a palavra e, para espanto de todos os assistentes, disse: “Vamos continuar a matéria no ponto em que a deixamos ontem”. Quis, com isto, colocar uma pedra sobre os anos de prisão, fazendo como se eles nunca tivessem existido.
A referência a Universidade de Salamanca, fundada em 1218, recorda-me quando em 2002 visitei a mesma. Tenho no acesso de minha biblioteca afixado um azulejo que adquiri então.
O texto em um espanhol arcaico, recebeu uma tradução ao português.
Hai excomunión reservada a su santidad contra qualesquiera personas que quitaren, distraxeren, o de otro qualquier modo, enagenaren algun libro, pergamino o papel de esta bibliotheca, sin que puedan ser absueltas, hasta que esta esté perfectamente reintegrada.
Tem excomunhão reservada a sua santidade contra qualquer pessoa que retirar, subtrair ou de qualquer modo, alienar algum livro, pergaminho o papel desta biblioteca, sem que possa ser absolvido, até que esta esteja perfeitamente reintegrada.
Com esta ameaça sinto meus livros protegidos. Com o convite que saboreie (de saber a sabor) o ‘Cantar dos cantares salomônicos’ num muito bom sábado. Amanhã lemo-nos na blogada dominical.
hehe, espero que nosso turma tenha lido esta "ameaça" há tempo de evitar futuras excomunhões (janta julina de 2009).
ResponderExcluirRecorri à Bíblia de minha mãe, estou a ler o Cântico. (Nas catequesese que fui obrigada a frequentar, jamais mencionaram a leitura dele.)
Mas vou lá, "antes que expire o dia e cresçam as sombras".
Vou testar postar como anônimo, curiosa que sou, hehe
Marília
Muito querida ‘anônima’ Marília,
ResponderExcluirespero que a leitura dos cânticos salomônicos tenha te edificado e também recuperado o que te foi sonegado na catequese.
Jamais imaginaria que esse blogue levasse as pessoas de volta Bíblia.
Já te anuncia a manchete da blogada de amanhã: 05- Uma blogada dominical para ouvir a voz do Pastor
Um afago no advento de domingo
attico chassot