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sexta-feira, 16 de julho de 2010

16.-Sobre currículo

Porto Alegre Ano 4 # 1443

E já é a segunda quinzena deste julho que já teve veranico, mas que agora o inverno ao gear encanece o pampa. Trago a foto de capa da Zero Hora de hoje para ilustrar a geada de ontem numa cerca de arame farpado. Também peço aos meus leitores madrugadores que relevem essa postagem mais tardia hoje. Só não levantem a hipótese que o frio tenha me feito dorminhoco.

Hoje à noite tenho a fala no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão, que anunciei aqui no dia 2, mas que terminou postergada para hoje pelo luto

determinado com a perda do Prof. Atos. Iluminará a discussão a máxima de Pablo Neruda (1904 –1973) poeta chileno, Nobel em literatura em 1971, que está na ilustração.

Tenho contado aqui de vez em vez, que recebo pedidos de posicionamento de dentro de uma muito ampla gama de objetivos Destes exemplifico dois extremos. Um, o aluno malandro que deseja que lhe faça o dever de casa [O senhor poderia me resumir as principais ideias do capítulo dois do livro A Ciência através dos tempos]; outro, o pesquisador estudioso que deseja ouvir-me sobre determinado assunto.

A edição de hoje se faz com a apresentação de respostas a questionamentos desta última dimensão. Faço interlocução com o Luis Dhein de Presidente Lucena, RS; ele é Professor de Informática Educativa, graduando em Pedagogia. Editor do apreciado e pedagógico blogue Caminhante Aprendente caminhanteaprendente.wordpress.com Orgulho-me de tê-lo como leitor deste blogue, muitas vezes presente como comentador muito crítico.

Eis uma de suas mensagens: Olá amigo, blogueiro, professor Chassot. Gostaria de pedir um favor.
Estou elaborando um trabalho para a disciplina de currículo. Para aprofundar elaborei algumas questões relacionadas ao tema, buscando perceber os 'muitos' olhares sobre o currículo escolar. Professores de área, de séries iniciais, gestores, formadores, graduandos e alunos. Estou buscando esses olhar, para tentar investigar um pouco mais a fundo o 'currículo' imaginário, o currículo vivido, o currículo cotidiano.

Se você tiver disponibilidade de tempo para responder... Ficaria muito feliz em poder contar com o teu olhar sobre esta temática tão pertinente.

Considerada a pertinência das questões, elas não poderiam ficar sem a trazida de meu olhar, mesmo que as respostas tenham marcas da rapidação de apertada agenda julina.

Como você define currículo escolar? Currículo é todo o conjunto de conhecimentos produzidos e transmitidos na Escola (Sempre que grafar Escola com letra maiúscula, estou me referindo a qualquer estabelecimento que faz Educação formal desde a Educação Infantil até a pós-graduação na Universidade).

Como você analisa a relação currículo e sociedade? No meu livro Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação há um capitulo chamado ‘Currículos legais e ilegais’. Os primeiros são aqueles ‘impostos’ à Escola por determinações de órgãos fiscalizadores (leia-se, controladores). Outros são aqueles que sistemas estranhos (uma rede de comunicação ou uma igreja) à Escola determinam (por exemplo, falar da Copa do Mundo, celebrar os 500 anos do ‘descobrimento...). Ocorre que uns e outros são, usualmente, alienígenas à Escola e mais especialmente à comunidade onde esta está inserida. Tantos os legais e também, os não legais, são importantes existir. Depende como a Escola os ‘aceita’ criticamente.

O currículo condiciona o trabalho do professor no dia-a-dia da sala de aula? Sim, muito. Como? Depende do professor. Há aquele que faz do livro texto o seu currículo; teremos nesta situação um repetidor ou papagaiador de conhecimentos prontos e fossilizados. Outro usa com adequação os parâmetros curriculares nacionais e com ele constrói o seu fazer pedagógico; este mais do que um transmissor de conteúdos, é um educador.

Como você percebe o currículo no cotidiano da escola? O currículo é o cotidiano da Escola. Ele não está no cotidiano da Escola, o cotidiano da Escola se faz currículo. Todos os espaços (artefatos e mentefatos) da Escola, por exemplo, os recreios, os banheiros, a biblioteca as quadras esportivas e até a sela de aula, se fazem currículo. Lamentavelmente, os fumódromos e as drogas hoje também são currículo.

Como é considerado, no currículo, essa pluralidade, esse caráter multicultural de nossa sociedade? A pluralidade e o multiculturalismo produzem ações curriculares que podem ser muito ricas. Estes também podem ser mal usado tramando ações curriculares marcadas pela repressão e por discriminações.

Na sua opinião, quais são os principais pontos que precisamos repensar em termos de currículo escolar? Para ser radical resumo num ponto: deixarmos de entender currículo como uma listagem de conteúdo. Terminarmos com esta mistificação será um grande virada para repensarmos novas dimensões de currículo, entendendo-o como algo orgânico à Escola.

Assunto tão relevante mereceria ampliações. Por hoje ficamos por aqui. O Professor Luis já trouxe novas considerações que poderão se fazer blogadas futuras. Uma muita boa sexta-feira. Amanhã, aqui, uma dica de leitura muito especial.

4 comentários:

  1. Ola meu caro Chassot! Semana esta de muito frio, mesmo. Coincidencia ou nao, vejo agora pela janela uma cerca de arame similar a foto que publicas. Diria meu avo: "De renguear cusco esse frio". Estou nesse momento em que comento tua blogada de hoje, aqui em Cacequi, onde realizo uma viagem com meu pai e minha mae para visita de parentes. A temperatura é de 5 graus, mas a sensaçao termica reduz esse valor em pelo menos uns 7 graus. Um grande abraço daqui da Água do Cacique, ainda indignado com aqueles valores do estacionamento da PUC, recentemente comentado por ti. Qual será a linha que norteia uma escola dirigida por padres catolicos, quando se observa essa extorsao num serviço essencial para quem necessita acessar as dependencias da Escola?

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  2. Meu caro Jairo,
    pois cerca de arame farpado está muito no imaginário de minha infância. Faz tempo que não vejo uma. Fico honrado ter um comentário desde o Cacequi – que também povoou meu imaginário enquanto filho de ferroviário, pois para irmos a Uruguaiana de trem, Cacequi – que não sabia significar Água do Cacique – era uma estação referência da VFRGS.
    Pois ontem em resposta a uma blogada ao José Carneiro, um belenense que conheces neste blogue dizia, tal o teu avo: está mesmo um frio de renguear cusco, que isto quer dizer que o frio é tão intenso que pode deixar um cachorro manco.
    Quanto ao saque no estacionamento da PUC ele é uma das traduções pelas quais os irmãos maristas podem fazer aquelas construções faraônicas.
    Uma boa estada aí e curte tua parentela, com afago meu, muito especial ao teu pai e à tua mãe, que têm o privilégio de terem um filho extremoso que faz uma campereada pelos pagos com eles
    attico chassot

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  3. Estou passando por um momento onde quanto mais olho para escola, mais enxergo o currículo. Ele está por toda parte. Começando na gaveta dos professores, terminando não sei bem onde, talvez na organização do pátio, na maneira como se recebe os alunos, na maneira como nos despedimos deles, ou até no horário de abrir o portão. Parece-me que não temos como definir exatamente nem onde o currículo escolar começa e nem onde ele termina, pois ele está por toda a escola, arrisco-me a dizer que ele é a escola em movimento.

    Por isso, professor, encontro dificuldade para fazer um comentário mais sintetizado e lúcido sobre a temática. Muitas sãos as perguntas que me surgem. Parece-me que essa também é uma etapa importante.
    Pergunto...
    Quantas vezes durante nossa jornada, nossa prática, paramos para pensar no currículo escolar? Como o percebemos? Como o resignificamos?
    Seria o currículo construido cotidianamente na escola? Currículo cotidianos, vividos. Currículo é vida! Currículo é movimento!
    É o currículo um tema que cabe aos professores se envolver?
    Existe interesse efetivo em que o professor participe dessas discussões? Até que ponto?
    Como pensar currículo na pós-modernidade? A própria denominação currículo não deveria ser repensada?


    Forte abraço e desejos de um ótimo final de semana.

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  4. Meu caro Luís,
    não sei se conheces significados e etimologia de currículo.
    Se a resposta for Não, instintivamente respondeste. Dizes: “Parece-me que não temos como definir exatamente nem onde o currículo escolar começa e nem onde ele termina, pois ele está por toda a escola, arrisco-me a dizer que ele é a escola em movimento”. Olha a tua sacação: currículo é “ato de correr; corrida, curso, pequeno atalho, desvio em um caminho” Vê a etimologia
    lat. curricùlum,i 'corrida, carreira, lugar onde se corre, campo, liça, hipódromo, picadeiro', do v.lat. currère 'correr'; ver corr-
    Assim, tuas interrogações ganham sentido.
    Obrigado por co-editares essa blogada comigo.
    Um bom fim de semana
    attico chassot

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