Porto Alegre Ano 4 # 1433 |
Mais um lindo dia deste (in)esperado veranico julino. Céu azul que pode ser lido como prognóstico de uma desejada vitória da “celeste Olímpica’ hoje na Copa da África. Trago algo de uma vitoria que foi quase catastrófica de mesma seleção pela , há 60 anos, da mesmo seleção pela qual hoje torcemos.
Muito provavelmente meus leitores terão interrogações com o título que dou a blogada hoje. Vi a primeira vez, no dia 7 de março de 2002, em Madrid. As manchetes de capa de todos os jornais madrilenos, mesmo dos não esportivos, naquela quinta-feira, eram de tristeza. A alusão a uma maracananización era ao nosso lúgubre 18 de junho de 1950, quando no Maracanã lotado, o Brasil perdeu a Copa do Mundo de Futebol, na partida final para o Uruguai, quando a lógica (e, claro que existe mais lógica do que aquela determinada pelos deuses do futebol, que não devem se ocupar com sempre tão recordado retrospecto ou com a sempre muito considerada situação de mando do local do jogo!) era de uma avassaladora vitória dos donos da casa.
O ocorrido para os brasileiros era, e eu sequer imaginava, um substantivo internacional, ao menos na Espanha, para evocar um feito em que um time tem um resultado assegurado, quase como favas contadas e acontece o contrário. Acorre que o Real Madrid, no dia de seu centenário perdeu a última partida, diante do Rei e da Rainha e mais 75 mil pessoas, no seu estádio. Perdia, assim um dos títulos mais cobiçados de cada temporada: a Copa do Rei. Agora, como em 1950 no Brasil, antecipadamente estavam prontos toda a espécie de souvenires imagináveis – de flâmulas a medalhas de ouro – celebrando uma conquista que jamais ocorreria: campeão da Copa do Rei no ano de seu centenário.
A Copa do Rei, diferentemente do campeonato da liga da 1ª divisão, começa com a participação de um número muito grande de clubes, inclusive das divisões inferiores, em uma série de eliminatórias em uma partida, disputada no campo da equipe considerada mais fraca. Chegara a grande final e nela estava dado o aniversariante como favorito. A partida foi mostrada pela televisão, ao vivo, para mais 20 países e na Espanha registrou picos de audiência inéditos no final do segundo tempo, com mais de 13 milhões de expectadores (isso corresponde que houve momentos que de cada três espanhóis, um estava vendo o jogo).
O Deportivo da Coruña venceu por 2 a 1, quando chegou estar vencendo por 2 a 0. Eu torcia, pela equipe galega por duas razões: quando não sei por quem torcer, escolho sempre quem está em desvantagem ou o dito mais fraco, agora, os donos da casa não precisavam de minha ajuda, pois havia milhões a fazê-lo; a outra razão é que os galegos me são simpáticos por causa de nossa maior aproximação lingüística, com o nosso português.
Pois evoquei essas memórias de minha vivência em Madrid no pós doutoramente, quando li o excelente texto de Flávio Tavares, na Zero Hora deste domingo, que trago na integre para meus leitores.
Mais de 25 anos depois, em 1975, Obdulio Varela – o invicto capitão da seleção uruguaia – deu-me em Montevidéu um depoimento surpreendente sobre a vitória que ele comandara: “Após a partida, tomei um bonde para conhecer o Rio e já ali, antes de chegar a Copacabana, todos choravam, desconhecidos se abraçavam em pêsames e em silêncio, um confortando ao outro”, contou.
Negro e alto, sem a camiseta uruguaia, vestido como o povo, Obdulio confundia-se com os brasileiros: “No início, tive medo. Ao ver que não me reconheciam, senti pena. Tanta pena, que, se pudesse, entregava àquele pessoal a Copa recebida no Maracanã”.
Esse homem que passou à história da Copa como um gigante, em vez de vitorioso sentiu-se culpado: “Senti culpa pela vitória, culpa por ter roubado a alegria do povo que eu via na rua”. Ao contar o que me contava, os olhos daquele homenzarrão lacrimejavam e nos abraçamos como se estivéssemos em julho de 1950 no Maracanã, não em Montevidéu um quarto de século depois. E como se aquele 2 a 1 fosse um equívoco da História, não um resultado do futebol.
Em 1970, assisti no estádio Asteca, na Cidade do México, ao triunfo do Brasil no tricampeonato. Eu escrevia para a agência noticiosa italiana Ansa e um velho jornalista do Paese Sera, de Roma, (ao presenciar o eufórico abraço que trocamos João Saldanha e eu) nos advertiu: “Cuidem-se. Em 1938, Mussolini usou a conquista da Copa para fortalecer o fascismo que nos levou ao abismo”.
Nos dias e anos seguintes, no Brasil, em plena ditadura, a euforia criou os falsos tempos do “ninguém segura este país”. O lema surgiu da frase do general Emílio Medici no jogo final, quando o Brasil passou à frente da Itália, que fizera o primeiro gol: “Ninguém segura o Brasil”, exclamou o ditador, desde cadete exímio conhecedor de futebol.
Que essas duas situações sirvam de exemplo. Euforia e dor são sensações opostas, mas não podem dirigir nossas vidas quando surgem de um resultado de Copa do Mundo.
O futebol pode já não ser apenas uma disputa de entretenimento para transformar-se em crença universal, quase uma “Weltannschaug”, visão de mundo. Mas, se assim for, o que sobrará (como tristeza ou alegria) para as coisas inatas e perenes da vida – amor, solidariedade e trabalho?
Que a desolação de agora seja advertência à nossa fantasia de criar deuses.
Claro que a chamada ‘Pane na África’ não representou uma maracananização. Com votos de uma terça-feira. Para mim repito muito a agenda de ontem. Entrevistas com candidatos ao Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão.
Querido Chassot,
ResponderExcluirBom trabalho nas entrevistas.
Abraços,
Joélia querida,
ResponderExcluirobrigado elos teus votos. Nesta já noite de quarta-feira, estou voltando do Centro Universitário Metodista - IPA com missão cumprida nesses três dias.
Com estima
attico chassot