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quinta-feira, 1 de julho de 2010

01.- Acerca do “padrão do gosto”

Porto Alegre Ano 4 # 1428

Esta blogada inaugura julho e o semestre 2010/2. Mais de 7h, mas ainda é noite densamente escura, com neblina que faz a umidade do ar ser 100%. Julho é o mês de aniversário deste blogue. Há a expectativa que dia 30 estejamos celebrando aqui seu 4º aniversário.

Pautei para esta edição contar um pouco do encerramento das disciplinas Ética e

Estética e Prática Pedagógica de semestre ocorrido nesta terça-feira na Morada dos Afagos. A edição de hoje complementa as blogadas

do dia 29 e 30 de junho e traz três fotos. Na primeira foto, o José Luis e eu estamos brindando sob os olhares da Gabriela. Na segunda o Claiton e a Iona ouvem, compenetrados a exposição do Marco e a terceira esta atestada a presença do Sérgio na festividade.

Adito os pontos principais, de forma esquemática, da mini-conferência ‘A estética filosófica do vinho’ que o Prof. Dr. Marco Antonio Oliveira de Azevedo, pronunciou na noite de terça-feira, o texto foi fornecido pelo autor.

1. O interesse filosófico pelo vinho (o vinho nos simpósios, o vinho como estimulante da imaginação, etc. e o vinho como objeto de interesse intelectual).

2. O novo interesse dos filósofos pelo vinho como assunto intelectual. O vinho e sua degustação (ou a cultura da degustação do vinho) como objetos filosóficos.

3. Alguns livros interessantes – o vinho como objeto de estudo em metafísica e estética, como tema de ética (a ética da “intoxicação”), o vinho como tema de filosofia da ciência (o problema da prova de que vinho faz bem à saúde), etc.

Barry C. Smith. Question of taste: the philosophy of wine. Oxford University Press, 2009.

Fritz Allhoff. Wine and philosophy: a Symposium on drinking and thinking. Wiley-Blackwell, 2007.

Keith Lehrer, por exemplo, é um dos mais importantes filósofos atuais na área de epistemologia. No livro acima, ele escreve com sua esposa, Adrienne Lehrer (ambos são artistas). A. Lehrer é também pesquisadora. Uma de suas pesquisas é sobre a linguagem do vinho. Suas conclusões é que leigos têm apreciações e comparações diferentes e nem sempre dizem a mesma coisa por meio das mesmas comparações e palavras (veja-se o caso de “ácido”). Experts têm uma linguagem mais uniforme, mas ela só serve para aquilo em que eles têm experiência. Segundo Adrienne Lehrer, o discurso do vinho adquire seu significado, ao menos em parte, das experiências que resultam do modo como nossa atenção se dirige a certos objetos em comunicações ou informações dadas pelos críticos.

4. Acerca do “padrão do gosto” em Hume. Se faz sentido falar em um “padrão do gosto” ou se todo gosto é subjetivo. Céticos e objetivistas sobre o gosto moral e estético.

5. Temas de fundo em ética e estética (filosofia do belo ou do gosto).

6. A visão comum de que “gosto não se discute”.

7. A resposta de Hume e a ênfase na “delicacy of taste”; uma pessoa com certa aptidão (delicacy) pode desenvolver pelo hábito (experiência) um refinamento do gosto e ser tomada por nós como padrão do que é bom ou ruim.

8. A família de Sancho Pança (Don Quixote, Segunda Parte, Capítulo XIII, “Los dos escuderos”) que foi lido do livro de Cervantes.

9. Algumas objeções de Kevin Sweeney: a visão de Hume supõe certo “realismo analítico”. O homem refinado seria capaz de identificar certos aspectos objetivos que estariam na base de nossas experiências estéticas.

10. Neste ponto o destaque foi a excertos do artigo de 1757 de David Hume "The standard of taste". Este texto é facilmente localizável na internet.

11. Vieses e preconceitos. O juízo estético como um juízo aprimorado sob condições adequadas ou ideais de controle de vieses e preconceitos: a degustação às cegas.

12. Objeções radicais à possibilidade do vinho como objeto estético (Roger Scruton).

13. Respostas a Scruton

14. Conclusões: o vinho pode ser objeto de experiência estética. Talvez isso nos conduza a supor que o objeto último de apreciação estética seja um tipo ou exemplar metafísico, o vinho (e não certa garrafa). Isso abre espaço a uma série de temas em filosofia.

15. Um pouco de filosofia experimental. Podemos confiar nos experts. Degustação às cegas e comparações de nossos juízos com o de um expert.

Podem o vinho e a comida serem objeto de uma experiência estética? Argumentos contrários de Roger Scruton:

1.- O vinho e a comida são apreciados não pelo intelecto, mas por nossos sentidos “baixos”, voltados não à apreciação estética, e sim a nossos interesses individuais e à utilidade;

2.- Ao degustar vinhos e comidas, o objeto é consumido (o que torna impossível a “atenção estética”);

3.- A concentração requerida pelos objetos estéticos é cognitiva, o que não é o caso do vinho e da comida.

Frank Sibley refuta:

1.- A distinção entre faculdades estéticas “superiores” e “inferiores” (ou “sentidos superiores” e “sentidos inferiores”) simplesmente não existe;

2.- O “argumento do consumo” também não é bom, pois também consumimos arte e música (meu ponto aqui é que, em certo sentido, um vinho não é consumido “de fato” – ao apreciarmos uma garrafa de vinho estamos apreciando um exemplar de um tipo, que, como tal, não deixa de existir. Ao degustarmos um Cheval Blanc safra 1961, não estamos consumindo o Cheval Blanc 1961, e sim apenas uma garrafa desse vinho).

3.- Ambos os sentidos (“inferiores” e “superiores”) têm aspectos utilitários. E ambos podem envolver aspectos cognitivos.

Votos de uma curtida inauguração de julho e do semestre 2010/2. Que esta quinta feira, mais uma vez sem futebol da copa, seja a melhor para todos.

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