Porto Alegre Ano 5 # 1542 |
Madrugada chuvosa em Porto Alegre em mais um fim de semana deste excecional outubro com seu penta tríduo Sex/Sab/Dom. Em homenagem aos meus novos leitores devo dizer que sábados, aqui, há mais de dois anos, é dia de dica de leitura, por sugestão de um querido leitor: Marcos Vinicius Pacheco Bastos – por ora silente em querência de sua Viamão.
Isto de falar de novos leitores é só para pretextar comentar, mais uma vez, a bombada que esse blogue teve esta semana. Quando a média de setembro foi 102, esta terça, quarta, quinta e sexta-feira registrou os recordes, 147, 136, 221, 166. Sei que o 221 é decorrência da manchete Vou votar no Serra, do PSDB, com saudades do FHC e um discutível marketing paralelo.
Mas antes de trazer a dica de leitura, que antecipo será de um genuíno romance do gênero Campus, onde somos envolvidos no cotidiano de professoras e professores que se vêm as voltas com disputas de vaidades e outras tramas na implantação de um Programa de Pós-Graduação em uma emergente instituição universitária na grande Porto Alegre, algo acerca da banca que foi tema central ontem aqui.
Depois de uma manhã plena de aulas e almoço das sextas com me trio ABC (André, Bernardo e Clarissa) chegou o momento da banca que tinha para mim sabores de novidade. A defesa da dissertação O profissional da saúde diante do nascimento de crianças com deficiência: o caso dos profissionais do CTI Neonatal do Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre pela enfermeira Ana Elizabeth Kautzmann, não só quebrava um jejum para mim, como expliquei ontem, mas era a minha primeira no Centro Universitário Metodista do IPA. Meus colegas Profa. Dra. Luciane Wagner (IPA) e Prof. Dr. Ygor Arzeno Ferrão da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) foram excepcionais, trazendo, também, leituras acuradas de dois psiquiatras competentes que são. A Ana foi muito competente na sua explanação e no diálogo coma banca.
O Ygor, entre outros detalhes pertinentes, assinalou como as seis profissionais (3 enfermeiras e 3 médicas) são exigentes com seus cursos de formação, querendo ensinamentos prontos da academia em algo que se batizou de ‘pedagogia da pré-mastigação’. A Luciane trouxe comentários muito significativos entre os quais a desconstrução dos feudos médico e enfermeiro para valorizar a equipe de saúde.
Foi uma produtiva tarde acadêmica onde, muito provavelmente todos aprendemos. Alunos dos dois mestrados que acorreram à sessão amealharam ensinamentos para seus trabalhos. Vale um registro muito especial às homenagens que a Ana, Luciane, o Ygor e eu, em diferentes momentos prestamos ao o Prof. Dr. Atos Falkenbach (1968-2010), onde todos lembramos a competência profissional do colega que perdemos tão prematuramente.
A dica de leitura sabática, for força de muitos fazeres dos últimos dias, precisou ser requentada das quase uma centena daquelas que fiz para o recordado portal ‘Leia Livros’ da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Ela foi escrita quando foi publicado o livros que selecionei para hoje, dentro das comemorações outubrinas do dia do professor.
GERBASE, Carlos.Professores. Rio de Janeiro: Record, 2006. 494 p. ISBN: 85-01-07414-4
Enquanto resenhista do Leia Livro classifiquei alguns romances, como Quem vai pagar a conta? de Alexandre Sadi no gênero Campus, agora, quando recomendo aos leitores e às leitoras Professores começo por afirmar que, já a partir do título, este merece genuinamente a classificação no mesmo gênero. Carlos Gerbase – professor universitário e doutor em Comunicação Social – conhece sua tribo. Soube com competência transmutar-se de premiado roteirista e diretor de cinema em escritor. Talvez não devesse dizer que houve transmutação, pois o romance é também um excelente roteiro com sete cenas acronológicas. Talvez devesse dizer que o roteirista e o professor sincreticamente se fizeram um competente romancista.
Cada lócus profissional tem suas idiossincrasias. A Escola – e refiro-me a qualquer instituição formal de ensino, da Educação infantil à Universidade – é exemplar nisso. Acredito que em poucos lugares as invejas, as vaidades têm trânsito tão acentuado como na Universidade; essas se refinam na Pós-Graduação. Em Professores tramas e discussões, usualmente presentes nas Universidades, compõem o enredo de um romance que tem a ambientação em campi acadêmicos, seja nas salas de aula, nas disputas em gabinetes de professores e nos barzinhos, estes muitas vezes produtivas extensões da academia.
Algo muito prazeroso em um romance é encontrar familiaridade nos cenários. Mesmo sendo uma cidade que tenhamos estado apenas uma vez, viajamos diferente na imaginação ao poder dizer aqui eu já estive. Professoras e professores encontram nesse livro os lugares de ofício e também muitos de seus fazeres, mesmo que alguns destes não adensem o Currículo Lattes. Aqueles conterrâneos de Gerbase vão transitar em universidades conhecidas. Eu até tomava o mesmo trem tantas vezes usado pelo Prof. Max para ir a minha Universidade de quando resenhei o livro; esta vez ou outra está presente no enredo envolvente.
Muitas vezes não podemos imaginar como com disputas na pós-graduação se pudesse construir um romance tão cheio de ironias, marcados por debates acerca da ética, mediados por Foucault ou Schopenhauer, que recebem os créditos de maneira palatável, longe de parecer um texto acadêmico. Aliás, as notas ao final do romance dão ao livro marcas de originalidade. Também filósofas nossas – Marilena Chauí e Maria Rita Kehl – têm voz no julgamento de um professor que ‘ganhara’ junto com a virgindade de uma aluna de 17 anos a exclusão da sala de aula. A supervalorização de doutorado no exterior, mesmo que o Prof. Eugênio tivesse conseguido o título graças a trocas feitas por sua mulher com o orientador de tese do marido, é outra dimensão que dá ao romance um sabor de realidade. Também, aquelas professoras, que em algumas instituições se fazem poderosas como madres superioras, estão bem retratadas na Profa. Joana.
Por esses flashes espero possa ter entusiasmado a cada uma e cada um assistir o filme, ou melhor, que isso ler Professores do diretor de cinema, e professor, é claro, Carlos Gerbase. Asseguro, vale a pena.
A esta sugestão adito votos de um muito bom sábado, vivido na expectativa do domingo. Este aqui na Morada dos Afagos terá um sabor muito especial: teremos mais uma edição da domingueira, quando a Gelsa e eu acolhemos filhos e filhas, noras, genros e nossos seis netos, com a estreia do Felipe neste clã. Amanhã, provavelmente nos poderemos nos ler aqui.
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