Porto Alegre Ano 5 # 1524 |
Na semana passada um dia, aqui, foi capitular esta interrogação A internet estaria nos tornando burros? [Edição de 28SET10]. Contei então que Nicholas Carr com o livro "The Shallows -What the Internet is Doing to Our Brains" (que poderia ser traduzido como "No Raso -O que a Internet Está Fazendo com os Nossos Cérebros" e
será lançado no Brasil pela Agir) tem trazido discussões significativas. Em poucas palavras, a facilidade para achar coisas novas na rede e se distrair com elas estaria nos tornando burros. O livro já vendeu mais de 40 mil cópias nos Estados Unidos. Está sendo traduzido em 15 línguas.
Quando relatei aqui, na última sexta-feira a presença de Bernard Charlot, em minha fala na UFS, em São Cristóvão, o assunto esteve em pauta. Podemos ver que aquele sonho de um ‘computador para cada aluno’ em sala de aula, hoje está na contramão. Dizia na fala que, assim como proibimos o cigarro na sala de aula, breve talvez proibamos o notebook. Ainda recentemente fiz uma palestra em um grande auditório, onde havia dezena de ouvinte com seus notebooks conectados a rede. Não é difícil inferir que muitos estivessem ligados ao Orkut ou assemelhados.
Hoje trago respostas algumas das perguntas que Carr respondeu a Marcelo Leite, Editor de Ciência da Folha de S. Paulo.
Folha - O livro deplora a internet como ameaça à mente formada pela invenção de Gutenberg, que nos deu o Renascimento e o Iluminismo. Mas Gutenberg também não destruiu a mente e a filosofia medievais? Ou seria mais preciso dizer que as invenções amplificam e continuam a cultura do passado?
Nicholas Carr - Toda tecnologia de comunicação e escrita traz mudanças. Isso é verdadeiro mesmo para o período anterior a Gutenberg, com a invenção do alfabeto, pela maneira como alterou a memória humana e nos deu maior capacidade de intercambiar informação. A internet, assim como tecnologias anteriores, amplifica certos modos de pensar e certos aspectos da mente intelectual, mas também, ao longo do caminho, sacrifica outras coisas importantes.
Se a leitura e a reflexão profundas estão em risco, como explicar o sucesso de coisas como o Kindle e seu livro?
As coisas não mudam de imediato. O número ao menos dos que leem livros sérios vem caindo há um bom tempo, mas haverá pessoas lendo livros por muito tempo no futuro. Meu argumento é que essa prática está se mudando do centro da cultura para a periferia, e as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, não a página impressa. Acho também que, à medida que mudamos para dispositivos como Kindle ou iPad para ler livros, mudamos nossa maneira de ler, perdemos algumas das qualidades de imersão da leitura.
O que pode ser feito em termos práticos e individuais para resistir a tal tendência?
Não escrevi o livro para ser do tipo de autoajuda. A mudança que estamos vendo faz parte de uma tendência de longo prazo, na qual a sociedade põe ênfase no pensamento para a solução rápida de problemas, tipos utilitários de pensamento que envolvem encontrar informação precisa rapidamente, distanciando-se de formas mais solitárias, contemplativas e concentradas.
Por outro lado, como indivíduos, nós temos escolha. Mesmo que a desconexão se torne mais e mais difícil, pois a expectativa de que permaneçamos conectados está embutida na nossa vida profissional e cada vez mais na visa social, a maneira de manter o modo mais contemplativo de pensamento é desconectar-se por um tempo substancial, reduzindo nossa dependência em relação às tecnologias de tela e exercendo nossa capacidade de prestar atenção profundamente em uma única coisa.
As escolas deveriam restringir o uso da internet pelos alunos, em lugar de se lançar de cabeça na tecnologia?
Sim. Nos EUA tem havido uma corrida para considerar que computadores na escola são sempre uma coisa boa, até mesmo uma confusão da qualidade do ensino com o tempo que os alunos passam conectados. É um erro.
Certamente os computadores e a internet têm um papel importante a desempenhar na educação, e as crianças precisam aprender competências computacionais, a usar a internet de maneira eficaz. Mas as escolas precisam perceber que essa é uma maneira de pensar diferente de ler um livro. É preciso dar tempo e ênfase, no ensino, para desenvolver a capacidade de prestar atenção em uma única coisa, em vez de mover sua atenção entre diversas coisas. Isso é essencial para certos tipos de pensamento crítico e conceitual.
Vale refletirmos sobre uma realidade que para nós ainda é mais remota, mas que, todavia parece que – pelo seu perturbar – já alerta a outros. Isso que não se comentou aqui, ainda a dependência da internet. Isso fica para outro dia. Agora uma muito boa terça-feira.
Boa tarde, Professor!
ResponderExcluir.
Haja dependência, viu!
E pensar que aqui em Goiânia uma das propostas dos candidatos a governo era justamente netbooks para cada aluno em sala...
Não sei até que ponto isso é mera utopia...posso estar sendo pessimista demais, mas os laboratórios de informática que temos são basicamente sucateados [tem-se 30 computadores, mas 8 a 10 funcionam...], internet tão lenta que se todos se conectarem ao mesmo tempo, ela cai...
Sem contar o despreparo de muitos profissionais, colegas nossos, que ainda preferem ser analfabetos digitais...ficam esperando cursos do governo ao invés de correr atrás de seu próprio aperfeiçoamento...
Para o senhor ter idéia, quando preciso usar meu próprio blog em aula, é preferível acoplar um computador ao projetor multimídia do que pedir para que cada um acesse de seu próprio computador, o que seria o correto na minha opinião, no entanto, nem todo computador abre [mesmo pq meu blog já está um bocado pesado tbm...]...
Então, como havia dito no início, não sei até que ponto é utopia...
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Um ótima terça!
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p.s.:qdo o senhor tiver um tempinho e puder dar uma olhadinha em minhas últimas postagens lá do QUIMILOKOS, andei colocando fotos da Tarde Cosplay Química que realizei com o pessoal do CPMG-PMVR, assim como tbm das HQ's produzidas pelos meus alunos sobre Radioatividade. Ficou até legal! ^^!
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Abraços, Mestre!
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Muito querida colega Thaiza,
ResponderExcluirprimeiro vibro com tua visita com comentário. Usualmente és uma visitante/ comentadora das manhãs de domingo.
Realmente, talvez esse passo de ‘um computador para cada aluno’ poderá ser um presente grego e precisaríamos – talvez – repensar.
Eu estou fazendo alguns ensaios. Escrever sem ter Skipe e correio eletrônico permanentemente ativos. E também fazer mais pausas para leituras em suporte papel e/ou lazer. Depois de postar este comentário vou colher amoras. Pena que não posso te enviar algumas.
Vou visitar o QUIMILOKOS para ver as últimas postagens.
Um afago do
attico chassot
Querido Chassot,
ResponderExcluirAcredito que o netbook é uma ótima ferramenta para se trabalhar em sala de aula.
Aqui no período de 18 a 21 de outubro estaremos realizando o Vila da ciência, onde meus alunos irão apresentar trabalhos de História e Filosofia da Química baseados em tuas escritas.
Abraços com saudades!
Muito querida colega Joelia,
ResponderExcluira discussão está no quanto a internet – talvez – nos esteja atrofiando outras habilidades.
Na torcida pelo Vila Ciências.
Um afago carinhoso do
attico chassot