Porto Alegre Ano 4 # 1265 |
Um dos orgulhos deste blogue é o universo por onde se espraiam seus leitores. Desde 01 de dezembro, com a nova formatação desenhada pelo Jairo, ganhou-se também um indicador de países. Nesses 50 dias em novo endereço houve acesso em 11 países além do Brasil. Também se pode saber em que cidades do Brasil há acesso no momento.
Uma cidade presente há muito é querida Belém do Pará. Mesmo a quase 4 mil quilômetros de Porto Alegre tenho tido o privilégio de nos últimos cinco anos ter estado na charmosa metrópole a cada ano. Entre outros belenitas, um comentarista muito atento é o Professor e Jornalista José Carneiro.
Quando com atraso sou cumprimentado / cumprimento alguém pelo aniversário absolvo(-me) dizendo que isso tem vantagens: estende as comemorações. Pois o José preparou texto para homenagear Belém do Pará pelo seu aniversário. Assim hoje a blogada é de todos nós com o querido leitor homenageando aqueles e aquelas que lêem este blogue, na maior cidade da linha do Equador. As fotos que aditei são pela ordem: o mercado de Ver-o-peso, a baia de Guajará, as mangueiras, e uma vista da capital do Pará.
Hoje minha atenção está voltada toda para Belém, que aniversaria neste dia 12 [de janeiro],
completando 394 anos de fundação. A importância de Belém pode ser medida e sentida de várias formas mas em Eidorfe Moreira ela está literalmente pressentida de forma magistral, senão vejamos: “Belém não é somente a capital de um estado brasileiro mas também a capital natural da maior região ou unidade fisiográfica do continente e como tal a “cidade-chave”, a “cidade-síntese” e a “cidade-símbolo” da Amazônia”.
Manuel Bandeira foi o autor do primeiro poema que conheci sobre Belém. Quem não se lembra? “Bembelelém, viva Belém! Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial/ beleza eterna da paisagem/ Cidade Pomar/ (Obrigou a policia a classificar um tipo novo de delinqüente: o apedrejador de mangueiras.)/ Nunca mais me esquecerei/ Das velas encarnadas/ Verdes/ Azuis/ Da doca do Ver-o-Peso/ Nunca mais/ E foi pra me consolar mais tarde/ que inventei esta cantiga: Bembelelém/ Viva Belém!/ Nortista gostosa/ Eu te quero bem”. Na adolescência, o baiano Dorival Caimi me encantou com o seu adeus musicado: “Peguei um Ita No Norte/ Pra vir pro Rio Morar/ Adeus meu pai minha mãe/ Adeus Belém do Pará/ Vendi meus troços que eu tinha/ o resto dei pra guardar/ Talvez eu volte pro ano/ talvez eu fique por lá!”
Mario de Andrade foi outro prosador que caiu de amores pela “Cidade das Mangueiras”: “meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrasse em frente das mangueiras tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí, você que conhece o mundo, conhece coisa melhor do que isso ?
O poeta e belenense da gema Cristovam Araújo fez história com o belíssimo “Olho de Boto”, musicado por Nilson Chaves e gravado por um mundo de gente, que virou a cara de Belém, relembrem e confiram: “Vês o peso da tua falta/ nas velas e barcos parados/ encalhados nas lembranças/ de Val-de-Cães ao Guamá/ Porto do Sal, das saudades/ das velhas palhas trançadas/ na rede de outras ruas,/ às margens de outra cidade/ Olho de boto/ no fundo dos olhos/ de toda paisagem”.
Paulo Nunes é outro cara que é a “cara” de Belém. Ele, ao lado da mulher e parceira literária Josse Fares, vive com o pensamento voltado para a defesa da cidade e imagino que, se
pudesse, construiria outro forte do Presépio só para protegê-la dos malvados inimigos de hoje. Não o podendo, cuida de manter vivíssima a memória da cidade, seja em monumentos, seja em poesia. Quer a prova? “Minha terra vê-o-peso/ da baia do guajará/ os periquitos daqui/ não cantam como os de lá/ Minha gente fez cabanagem/ mas baixou seu espinhel/ hoje só vive esperando/ o bacuri cair do céu/ Não permita mia Senhora/ santinha de amor e de fé/ que eu desmanche sem voltar/ ao Círio de Nazaré”.
Euclides da Cunha, o autor de “Os Sertões” esteve por aqui em 1904 e deixou estas simples palavras: “não se imagina no resto do Brasil o que é a cidade de Belém, com seus edifícios desmesurados, as suas praças incomparáveis e com sua gente de hábitos europeus, cavalheira e generosa. Foi a maior surpresa de toda a viagem”.
Dois músicos deram o tom do que se pode chamar de hino de amor por Belém. O primeiro deles é o Alcyr Guimarães, que não cansa (e nem a nós) de homenagear esta cidade quase
quatrocentona. Vejam uma de suas inesquecíveis obras-primas: Olé, Olá Belém/ velha namorada, que me trai também/ Nas noite em que me sinto nos teus braços/ na paz que um cigarro encontrou/ por cima de mangueiras e telhados/ tu me finges o cuidado de quem quase me amou/ eu digo que tu tens jeito de valsa/ que ainda não consigo terminar/ mais tarde como antigos namorados/ em qualquer dia de chuva/ te convido pra dança...”.
Por fim, e infelizmente postumamente, relembro a figura de Chico Sena, que se foi tão cedo para o plano infinito mas deixou o que se pode considerar, sem dúvida, a melhor declaração musical de amor que Belém já recebeu: Belém, Belém, acordou a feira/ que é bem na beira do Guajará/ Belém, Belém, menina morena/ vem ver o peso do meu cantar/ Belém, Belém, és minha bandeira/ és a flor que cheira do Grão Pará/ Belém, Belém, do Paranatinga/ do bar do Parque, do bafafá/ Bentevi, sabiá, palmeira/ não dá baladeira, deixa voar...”
Parabéns, Belém do Pará!
A estes parabéns juntam-se os votos de uma muito boa terça-feira, talvez até fruindo alguma manga gostosa para evocar saborosamente a cidade das mangueiras.
Professor Chassot
ResponderExcluirObrigada pelos parabéns!!!
Aqui, a cidade de SANTIAGO aniversariou 04/01, foi uma grande festa, 123 anos. Lembra de Sanbtiago, Terra dos poetas? Mas, referindo-me a belaBelém do Pará, merecidamente atinge a maturidade, com toda a sua história.
Quanto ao texto anterior, soube pelos meios de comunicação que uma menina também possui agulhas noa articulações dos pés... não sei o desfecho.Mas é necessário alertar que não se misturem as estações... quanto ao problema racial, religioso, preconceituoso, etc.
Um abraço e até...
Muito estimada Loí,
ResponderExcluirtenho bela lembrança de quando estive em Santiago em atividade da URI em um congresso de Educação. Esta manhã lembrei-me da Terra dos Poetas quando ouvi as notícias sobre o volume de água que caiu hoje em tua cidade.
Casos de crianças violentados com agulhas surgiram mais de um. Provavelmente não se vinculam a rituais religiosos. Dizes bem acerca dos nossos cuidados com preconceitos sejam eles raciais ou religiosos.
Com orgulho agradeço a presença de Santiago nesse blogue e sempre bem-vinda com teus comentários
attico chassot
Mestre Chassot, a chuva felizmente chegou sem causar estragos, pelo menos até agora.
ResponderExcluirParabéns à capital paraense pelo seu aniversário, e parabéns aos professor José Carneiro pelo belo texto.
Ótimo dia.
Marcos, meu estimado comentarista muito especial,
ResponderExcluirObrigado pelos cumprimentos ao José Carneiro.Seu texto e Belém são muito lindos.
(Por tal ele recebe cópia desta mensagem)
As chuvas em profusão, os raios, os relâmpagos vieram sobre a grande Porto Alegre como os meteorologistas previram. Afortunadamente como dizes sem grandes estragos.
Um bom saldo de terça-feira e até amanhã
attico chassot