Porto Alegre Ano 4 # 1252 |
Lembro-me muito bem quando vi pela primeira vez a expressão que fiz título desta postagem. Faz quase meio século. Não vou trazer o contexto que me foi então referido o mote. Mas entendi bem o sentido. Penso que posteriormente envolvido em trabalhos de laboratório de Química e mesmo acompanhando o comércio de perfume vi a afirmação se fazendo verdadeira. Precisei, então, adequação da mesma.
Hoje, gostaria que ela fosse verdadeira no propósito desta blogada. Quisera abandonar minhas extensas escritas de cada dia e, na singeleza de algumas poucas linhas, dizer algo denso que desde a manhã de ontem aflora forte em mim.
Não vou evocar que hoje é dia de Reis. Recordo quando a data era dia de guarda; é dia em que em algumas culturas se davam (ou se dão) os presentes natalinos; ou, ainda que era o dia em desmanchávamos o presépio e árvore de natal.
Mas nessa evocação litúrgica até encontro justificativa para minhas reflexões. Hoje é a Epifania (do grego: Ἐπιφάνεια, : "a aparição; um fenômeno miraculoso"). Pois, no sentido literário, a "epifania" é um momento privilegiado de revelação, quando acontece um evento ou incidente que "ilumina" a vida da personagem. Acredito – e peço que não me considerem que esteja ‘viajando’ – vivo uma epifania.
Vivi – como contei na blogada de ontem – algo muito emocionante ao estar com a Joana com menos de 12 horas de vida. Vi já na vida várias outras situações similares. Lembro quando vi nascer cada um dos meus quatro filhos. Por cada deles estive enlevado no nascimento. Cada um deles parece ter sido o primeiro. Com os cinco netos não foi diferente. Aqui vale aquela citação atribuída a Nietzsche. É bom que esqueçamos, pois então sempre parece a primeira vez.
Pois ontem não foi diferente. Ver a fragilidade de um recém nascido nos remete a interrogações. Quase me quedei genuflexo ante a grandeza da vida. Realmente ver uma criaturinha frágil – mas receptáculo de esperanças –, nos remete a interrogações acerca da nossa vocação enquanto humanos. Há mistérios que são insondáveis. São na aceitação destes mistérios que nos reabastecemos. Por tal, vale que eles assim sejam: insondáveis.
Vivo um paradoxo. Estou tomado de emoções, mas me sinto estéril para teclá-las e fazê-las aflorar aqui. Assim, não tenho mais nada por escrever na edição desta quarta-feira. Espero que a chegada ao meio desta semana que abre esta nova década seja promissora para casa um. Amanhã nos lemos de novo aqui.
Mestre Chassot, já que citaste o pensamento nietzscheano que eu referi uma vez aqui no seu blog, permito-me trazer outro pensamento desse filósofo alemão, desta vez falando sobre a criança.
ResponderExcluirPara Nietzsche, em seu livro "Assim falou Zaratustra", a humanidade deivide-se em três estados de metamorfose do espírito: o camelo, o leão e a criança.
O espírito metamorfoseado em camelo é uma besta de carga, que quer testar sua força e carregar fardos pesados, sejam esses os fardos sociais ou pessoais, tais como moral, honra, amor, conhecimento, etc.
O espírito metamorfoseado em leão é aquele que busca libertar-se e tornar-se senhor de si mesmo. Essa é uma analogia para o espírito que tenta libertar-se dos valores que o prendem, mas mesmo o poderoso leão é capaz de , apenas, libertar-se dos valores, e não de criar novos valores.
É aí que entra a metamorfose final: o espírito criança. Mas, do que seria capaz a criança que o poderoso e altivo leão não seja capaz? Nietzsche responde essa questão com uma frase simples e profunda: "É que a criança é inocência e esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira por si própria, primeiro móbil, afirmação santa."
Enfim, talvez seja por isso que é tão encantador olhar um recém nascido: os espíritos da esperança da renovação habitam aquele corpo.
Ótimo dia.
Muito estimado Marcos,
ResponderExcluirteu retorno a Nietzsche tem a mesma oportunidade da citação anterior que fizeste. Hoje vais ao “Assim falou Zaratustra’ que se assemelha a um novo Evangelho e lá a criança tem lindas leituras; uma com as características que relembras.
Obrigado por tão densa contribuição.
Com continuada admiração,
attico chassot