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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

VIVER COM AIDS É POSSÍVEL. COM PRECONCEITO NÃO.

No dia Mundial de luta contra Aids a ratificação aqui de

lema deste ano: VIVER COM AIDS É POSSÍVEL. COM PRECONCEITO NÃO.

E... já estamos no último mês do ano. Terminou novembro que em Porto Alegre teve recorde histórico( nos 100 anos em que há registros) 293 ml/m2. Em São Luiz Gonzaga foram 643 ml/m2 em dezembro.

Não vou ancorar-me no senso comum e dizer: “Como este ano está passando rápido!” ou, “Quando éramos pequenos, custava chegar o natal, agora parece que foi ontem, que dizíamos: ‘feliz ano novo!’” Mas há que reconhecermos que o tempo cuidado por Kairos tem outra dimensão daquela do controlador Cronos.

Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairos. Enquanto chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido, kairos refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece, em Teologia, é "o tempo de Deus"

Esta distinção usada também em teologia para descrever a forma qualitativa do tempo, kairos – o "tempo de Deus", enquanto chronos é de natureza quantitativa, o "tempo dos homens". Na teologia cristã, em síntese pode-se dizer que chronos, o tempo humano (medido), é descrito em anos, dias, horas e suas divisões. Enquanto o termo kairos, que descreve "o tempo de Deus", não pode ser medido, pois "para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia." (2 Pe 3:8).

Este intróito é uma provocação ao Marcos – o apreciado comentarista de cada dia – que tem expertise em mitologia para que traga um comentário pertinente aos deuses que gerem o tempo.

Esse preâmbulo também quer introduzir uma crônica. Vou-me apropriar de um dos maiores e mais lidos cronistas gaúchos da atualidade. Por primeiro devo dizer que o mesmo usualmente me desagrada, pois não conheço maior megalômano que Paulo Santana. Realmente esse se acha ‘a melhor bolachinha do pacote.’ Quando, na noite da última quinta-feira, no seminário de História e Filosofia da Ciência na UNISC disse que ‘valia a pena lerem a crônica do Santana daquele dia’ eu me estranhei. Era a primeira vez na vida que chamava esse autor para uma aula minha. Com presteza, quase que me retrato diante do grupo. Pois hoje, também pela primeira vez, esse mega-star é convidado para esse blogue.

Quase posso assegurar que dirão que eu não poderia ter feito melhor escolha para refletirmos sobre a passagem do tempo. E mais, esposo a tese do cronista que esta em ‘A morte Piedosa” publicada em Zero Hora no dia 26 de novembro. Antes meus votos de uma muito boa terça-feira que faz a inauguração dezembrina. Adito ainda o convite para nos lermos aqui, amanhã.

Agora, imaginem fogos de artifícios e salvas de canhões na Abertura Solene Para o Ano de 1812’ de Pyotr Ilyich Tchaikovsky e leiam Paulo Santana.

Chamou-me a máxima atenção o caso do belga Rom Houben, que todos acreditavam passar por estado vegetativo, em coma que durou 23 anos, mas agora se comunicou com os médicos e declarou que esteve consciente durante esse tempo todo, sem contato nenhum com o mundo externo que não fossem seus ouvidos.

O caso é realmente fantástico. O cérebro do jovem belga esteve raciocinando durante 23 anos, mas ele não podia cometer qualquer movimento que pudesse acusar seu estado consciente para suscitar providências médicas respectivas.
Acho até que não posso usar esta expressão, mas esse heroico cidadão belga esteve em coma consciente por 23 anos.

Como disse Zero Hora anteontem, Rom foi prisioneiro do próprio corpo por 23 longos anos. Não tinha como sair de si e ter contato com o mundo externo.
Imagine-se o sofrimento desse homem. Nem sei como não enlouqueceu. Ele ouvia tudo o que diziam em torno de si os médicos e seus familiares, devia munir-se de intensa e crucial agonia, querendo transmitir sua consciência mas não podendo mover nenhuma parte de seu corpo, nem as pálpebras, impotente, desanimado, exangue, inerte, um morto-vivo mergulhado nas trevas do coma.

Foram 23 anos de cativeiro. Sabe-se lá de que mecanismos mentais teve de se valer para manter intactas as faculdades mentais, ele raciocinava como qualquer pessoa.

É impressionante este caso. Esse homem tem de ser entrevistado para que se saiba por que não se lhe desfaleceram as forças e ele resistiu até não deixar de raciocinar nunca.

Se para um paciente recolhido por meses a um hospital, podendo mexer-se e comunicar-se com todos os que entram no quarto, já é um suplício este internamento, imaginem um corpo preso a si próprio durante 23 anos, com o cérebro funcionando, em plena consciência, como há de ter sobrevivido esse homem?

E como seu desespero não virou loucura?

Este caso, se por um lado revela ao mundo que há vidas estuantes atrás dos muros do estado comatoso, há de remeter mais ainda para o debate sobre a eutanásia.
Dirão os humanistas que, enquanto houver vida, ninguém pode extingui-la. Ninguém tem o direito, argumentarão, de interromper uma vida, por mais inútil e sofrida que seja.
E eu não me envergonho de declarar que mais ainda me torno adepto da eutanásia depois de conhecer o caso de Rom Houben, o belga que mergulhou nas trevas do estado comatoso, sem perder a consciência, isto é, em últimas palavras, entregue miseravelmente a um sofrimento atroz e permanente.

Neste caso e em tantos outros, creio firmemente que se aplica a morte piedosa.

A ciência não tem o direito, a meu ver, de prolongar indefinidamente esse gigantesco sofrimento. Quando a um homem que sofre assim tão eloquentemente é negado o direito de pôr fim à sua vida, o ambiente externo tem de assisti-lo e socorrê-lo no caminho da morte.

Por entre as reportagens em torno desse caso, está faltando um só dado: se em meio ao monumental tormento de que foi e é vítima, o belga infeliz pensava em sobreviver ou acalentava o sonho da morte, desejando-a para colocar um fim na sua cruz.

Tenho certeza de que ele sonhava que alguma mão compassiva e inteligente pusesse fim à sua vida.


4 comentários:

  1. Querido companheiro de vida
    Neste novo endereço o blog ganhou uma visibilidade ainda maior! A generosidade do Jairo em te auxiliar na mudança foi mesmo valiosa!
    Um beijo carinhoso de quem muito admira as coisas de teu pensamento e teu coração. Gelsa

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  2. Amada minha,
    tu sabes que foste a grande catalisadora para esta mudança. Obrigado pela torcida.
    Um beijo com continuada admiração,
    attico

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