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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

UMA ESCOLHA PARA A HISTÓRIA

Edições de 30JUL2006 a 30NOV2009 em achassot.blog.uol.com.br/

Porto Alegre Ano 4 # 1223

Esta é uma data em que em alguns municípios do Rio Grande do Sul e de outros estados se faz feriado. É a celebração mariana da Imaculada Conceição; já foi dia santo na liturgia católica. Para mim a data evoca, há 52 anos, minha formatura no curso ginasial (hoje seria terminar os nove anos do ensino fundamental). O feito merecia até quadro de formatura, que antes de ir para o panteão da escola ficava exposto na vitrine a principal loja da cidade, bem em frente à praça. Não eram poucos os formandos que passavam a ostentar a partir de então anel de grau.

Nunca me esqueço, que uns anos antes de minha formatura, talvez ainda estivesse no primário, quando o meu pai chegou de uma formatura de um filho da D. Adolfina, viúva de um ferroviário colega dele, dizendo que gostaria que um dia um de seus filhos se formasse no ginásio. Todos os sete fizeram isso, quase todos se graduaram na universidade e um deles se fez doutor. Se vivo fosse talvez contasse com orgulho, em 2002, que tinha um filho fazendo pós-doutorado ‘no estrangeiro!’.

Queria convidar que conhecessem a proposta de desafio trazida aqui na edição dominical. Foram oferecidos 20 exemplares de “A Ciência é masculina?”autografados. Até o momento um leitor enviou texto fazendo jus ao prêmio. Restam 19.

O convite ao lado, para evento amanhã no Rio de Janeiro, enviado atentamente pelo meu aluno Claiton Prinzo, em defesa da reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais, é estampado aqui em solidariedade ao MST.

Ontem, 56 jornais de 44 países deram um passo inédito. Falaram, com uma só voz, por meio do mesmo editorial. Essa atitude foi porque a humanidade enfrenta uma séria emergência. Por essa razão, este blogue transcreve aqui esse editorial que ontem ressonou por todos o Planeta em dezena de idiomas. Nunca parece de mais relê-lo.
Se não nos unirmos para tomar uma ação decisiva, as mudanças climáticas devastarão nosso planeta, acabando também com nossa prosperidade e nossa segurança. Os perigos têm se tornado evidentes há uma geração. Agora, os fatos começaram a falar por si: 11 dos últimos 14 anos foram os mais quentes já registrados, o gelo do Ártico está derretendo e a alta nos preços do petróleo e dos alimentos no ano passado é um exemplo do caos que pode estar por vir. Nas publicações científicas, a questão não é mais se os seres humanos devem levar a culpa pelo que está acontecendo, mas quão curto é o tempo que temos para reduzir os danos. Até aqui, a resposta mundial tem sido fraca e sem entusiasmo.
As mudanças climáticas foram causadas ao longo de séculos e têm consequências que durarão para sempre. As nossas chances de frear o problema serão determinadas nos próximos 14 dias. Apelamos aos representantes dos 192 países reunidos em Copenhague a não hesitar, não entrar em disputas, não culpar uns aos outros, mas aproveitar a oportunidade advinda deste que é o maior fracasso político moderno. Esta não deve ser uma luta entre ricos e pobres ou entre Ocidente e Oriente. As mudanças climáticas afetam a todos e devem ser resolvidas por todos.
A ciência envolvida é complexa, mas os fatos são claros. O mundo precisa agir para limitar a 2ºC o aumento da temperatura global, um objetivo que exigirá que as emissões mundiais de gases-estufa alcancem um teto e comecem a cair nos próximos cinco a 10 anos. Um aquecimento maior, de 3ºC a 4ºC – o menor aumento que podemos esperar se continuarmos sem fazer nada –, poderá levar seca aos continentes, transformando áreas agrícolas em desertos. Metade das espécies poderá ser extinta, milhões de pessoas poderão ser desalojadas, nações inteiras inundadas pelo mar.
Poucos acreditam que Copenhague ainda possa produzir um tratado definitivo; progresso real nessa direção só pôde surgir com a chegada do presidente Barack Obama à Casa Branca e com a reversão de anos de obstrucionismo americano. Mesmo agora, o mundo se encontra dependente da política interna americana, pois o presidente não pode se comprometer completamente com as ações até que o Congresso americano o faça.
Mas os políticos em Copenhague podem e devem definir os pontos essenciais de um acordo justo e efetivo e, especialmente, estabelecer um cronograma para transformá-lo em um tratado. O encontro sobre o clima das Nações Unidas em junho próximo, em Bonn (Alemanha), deveria ser o prazo final. Como um negociador colocou: “Nós podemos ir para a prorrogação, mas não podemos bancar uma nova partida”.
No coração do acordo, deve estar um acerto entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, determinando como o fardo do combate às mudanças climáticas será dividido – e como partilharemos um novo e precioso recurso: os trilhões de toneladas de carbono que poderemos emitir antes que o mercúrio do termômetro atinja níveis perigosos.
As nações ricas gostam de citar a verdade matemática de que não pode haver solução até que gigantes em desenvolvimento como a China tomem atitudes mais radicais do que as adotadas até agora. Mas o mundo desenvolvido é responsável pela maior parte do carbono acumulado na atmosfera – três quartos de todo o dióxido de carbono (CO
2) emitido desde 1850. Por isso, precisa tomar a liderança: todos os países desenvolvidos devem se comprometer a fazer cortes profundos, reduzindo suas emissões dentro de uma década a níveis muito mais baixos do que os de 1990.
Os países em desenvolvimento podem argumentar que não causaram a maior parte do problema e também que as regiões mais pobres do mundo serão atingidas com mais força. Mas passarão a contribuir cada vez mais para o aquecimento global, e, deste modo, devem se comprometer a agir de forma significativa e quantificável por conta própria. Apesar de ficar aquém do que muitos esperavam, o recente comprometimento dos maiores poluidores do mundo, Estados Unidos e China, com metas para redução de emissões foi um importante passo na direção certa.
A justiça social exige que o mundo industrializado coloque a mão no fundo do bolso e reserve dinheiro para ajudar os países mais pobres a se adaptar às mudanças climáticas, assim como a investir em tecnologias limpas que permitam seu crescimento sem aumentar as emissões. Um futuro tratado também deve ser muito bem esboçado – com rigoroso monitoramento multilateral, compensações justas para a proteção de florestas e avaliações confiáveis de “emissões exportadas”;
para que o custo possa, com o tempo, ser dividido de forma mais equilibrada entre os que elaboram produtos poluentes e aqueles que os consomem. E a justiça requer que o peso com o qual cada país desenvolvido deve arcar individualmente leve em conta sua capacidade de suportá-lo; novos membros da União Europeia, por exemplo, normalmente muito mais pobres do que os antigos, não devem sofrer mais do que seus parceiros ricos.
A transformação custará caro, mas muito menos do que a conta paga para salvar o sistema financeiro mundial – e imensamente menos do que as consequências de não se fazer nada.
Muitos de nós, particularmente no mundo desenvolvido, terão de mudar seus estilos de vida. A era de voos que custam menos do que a corrida de táxi até o aeroporto está chegando ao fim. Teremos que comprar, comer e viajar de forma mais inteligente. Teremos de pagar mais pela nossa energia e usá-la menos.
Mas a mudança para uma sociedade de baixo carbono traz a perspectiva de mais oportunidades do que sacrifícios. Alguns países já descobriram que adotar a transformação pode trazer crescimento, empregos e uma melhor qualidade de vida. O fluxo de capital conta a sua própria história: no ano passado, pela primeira vez, o investimento em fontes renováveis de energia foi maior do que na produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis.
Abandonar nossa dependência do carbono dentro de poucas décadas requererá uma façanha de engenharia e inovação sem precedentes na história. Porém, enquanto a ida do homem à Lua e a fissão do átomo nasceram do conflito e da competição, a corrida do carbono que vem por aí deve ser liderada por um esforço conjunto para atingir a salvação coletiva.
A vitória sobre as mudanças climáticas exigirá o triunfo do otimismo sobre o pessimismo, da visão sobre a miopia, o êxito do que Abraham Lincoln chamou de “os melhores anjos da nossa natureza”.
É nesse espírito que 56 jornais de todo o mundo se uniram por meio deste editorial. Se nós, com tantas diferenças de perspectiva nacional e política, podemos concordar sobre o que deve ser feito, então certamente nossos líderes também poderão.
Os políticos em Copenhague têm o poder de moldar o julgamento da História sobre esta geração: uma geração que viu um desafio e o encarou, ou uma geração tão estúpida, que viu o desastre chegando, mas não fez nada para evitá-lo. Imploramos que façam a escolha certa.

Com votos que a terça-feira seja frutuosa adito um convite para nos lermos aqui amanhã. Até então!

6 comentários:

  1. Prezado Chassot,


    Que essa manifestação seja um exemplo a ser seguido por muitos e exista respeito ao nosso trabalhador rural.

    Com estima,

    Claiton Prinzo

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  2. Muito estimado Claiton,
    obrigado por teu comentário e também meu reconhecimento pelo envio do convite que publiquei numa solidariedade ao MST tantas vezes criminalizado em suas tentativas de fazer valer propostas de usar a terra para produzir alimentos.
    Com estima e admiração
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, mais do que nunca, Hopenhague é o trocadilho preferido para o nome da capital dinamarquesa. Tomara que o Nobel da Paz e os representantes chines e brasileiros, que estão a pleno desenvolvimento, consigam fazer algo por um planeta febril e cada vez mais revoltoso.
    Ótimo dia.

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  4. Muito caro Marcos Vinicius,
    quando se movimentam os primeiros lances no tabuleiros mundial de interesses, parece que possamos esperar que Copenhagen seja mesmo a Capital da esperança.
    Uma muito boa tarde e muito sucesso hoje à noite quando da apresentação de teu trabalho de conclusão de curso. Não estarei lá porque estou em Banca do Curso de Licenciatura em Música.
    Estou na torcida, como sabes uma forma agnóstica de rezar,
    attico chassot

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  5. Professor Attico em novo endereço, que beleza!
    Bem melhor que o antigo: prático de postar e visualizar.
    Mas estava eu organizando os livros da Biblioteca onde trabalho agora, quando me deparei com um, dois, três títulos de livros do mestre Chassot! : )

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  6. Querida Marília,
    obrigado pelos elogios ao novo blogue. Estou curtindo muito a cara nova do mesmo.
    Uma desvantagem é que não há um local para as pessoas deixarem seu endereço para eu poder agradecer. Estimo que acertei que fez o comentário: a sempre atenciosa Marília, que foi uma aluna muito querida na Filosofia do Centro Universitário Metodista - IPA.
    Com carinho
    attico chassot

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