Edições de 30JUL2006 a 30NOV2009 em achassot.blog.uol.com.br/
Porto Alegre Ano 4 # 1231
Este blog, nos dias que fazemos de Copenhagen a ‘Capital da esperança’ quer trazer na edição de hoje e amanhã, em duas partes, um texto de Juan Torres López – catedrático de Economia Aplicada na Universidad de Sevilla. O tema do artigo está conectado com as discussões acerca do Planeta. O texto em espanhol foi publicado em Rebelión – www.rebelion.org – autorizando sua difusão em outros espaços. Rebelión é um jornal virtual que se preocupa com os direitos humanos, movimentos sociais, campesinato, genocídios, racismos, economia, ecologia, neo-capitalismo e globalização.Porto Alegre Ano 4 # 1231
Trago nesta quarta-feira a primeira parte e prometo na edição de amanhã oferecer aos meus leitores a segunda parte de versão que fiz para o português. Permito-me dedicar essa edição ao meu muito querido amigo Edni Oscar Schroeder, um paladino nacional da segurança alimentar.
“A causa da fome é uma distribuição muito assimétrica do poder e das capacidades de decisões e o caminho para acabar com essa praga não pode ser outro que inverter esse equilíbrio.”
“O necessário a nível global para combater a fome é inverter o equilíbrio de poder, reconhecer o direito à alimentação como plenamente exigível e antepô-lo a qualquer outro e evitar que seu equilíbrio se perca e esteja constantemente ameaçado por uma lógica comercial e financeira que, além de injusta, é completamente insustentável.”
É habitual que quando se fala da fome se tenda a ver como uma espécie de desgraça, como um desastre colossal, uma fatalidade ou terrível do destino. Parece que seja normal quando se está alcançando uma magnitude tão colossal em nossos dias: Quem pode atrever-se a pensar que por detrás da morte diária de 30.000 pessoas possa haver algo mais que isso? Como crer que alguém possa estar causando semelhante atrocidade?
Todavia, Jean Ziegler, o relator anterior das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, que sabia muito bem do que falava, expressou muito rotundamente o que é a fome: "um crime organizado contra a humanidade".
Parece que não é possível chegar a outra conclusão quando se conhece que há ao seu redor, como funcionam na verdade os mecanismos comerciais e as instituições políticas das quais dependem os seres humanos mais vulneráveis do Planeta que podem ou não ter acesso a recursos com os quais possam alimentar-se. E para conhecê-los basta que se leia ano a ano os informes que vão sendo apresentando os relatórios das Nações Unidos e os informes da FAO, por mais que estes caiam em um saco sem fundo, ano após ano.
Os fatores que estão fazendo que morram 30.000 pessoas de fome cada dia, e que só em 2009 o número de famintos tenha aumentado em 100 milhões de pessoas não são difíceis de descobrir e entender.
Em primeiro lugar, influi de modo muito determinante a dificuldade que têm milhões de pessoas para ter acesso a recursos que estão a seu lado, que deveriam ser seus, porém tal uso está vetado. De fato, não se pode pensar que a fome seja algo que se padece exclusivamente em países radicalmente pobres, mas deve se reconhecer que haja alimentos sem que se possa dispor em algum momento ou imediatamente colocá-los a serviço dos cidadãos. Umas vezes é a água, outras a terra e ultimamente as sementes. Isto é, os recursos mais básicos, pouco a pouco, vão se acumulando com os grandes proprietários ou empresas multinacionais.
Os informes das Nações Unidas vêm colocando claramente que o reforço dos direitos de propriedade que os grandes proprietários e empresas reclamam, com êxito, somente serve para que estes aumentem seu poder de mercado e para que aumentem os preços dos insumos, o que alija os pequenos campesinos da possibilidade de garantir a mínima segurança alimentar de suas populações. E que a extensão continua dos diretos de propriedade a novas variedades de sementes está verticalizando a cadeia alimentar, de modo que os pequenos produtores cada vez têm menos autonomia e possibilidades de orientar a produção na busca da satisfação das necessidades de seu entorno. Ainda mais, fomentar a monocultura que proporciona altos créditos comerciais, porém poucos recursos alimentares às populações.
Os informes internacionais também denunciam sem muito êxito como o acesso ao crédito, especialmente às mulheres (que produzem mais da metade da produção alimentar mundial, e entre 80 e 90% da dos países mais pobres, porém somente recebem 10% do financiamento destinado à agricultura) se restringe cada vez mais quando isso se poderia resolver com uma milésima parte do que se tem dedicado a salvar aos bancos que tem provocado a crise financeira.
Penso que nada mais reste a acrescentar hoje. Fica a promessa de amanhã trazer a parte final deste texto que dolorosamente sabe do nosso Planeta no Século 21. Desejo que esse dia que marca a chegada da metade da última semana plena de 2009 seja o melhor.
Em primeiro lugar, influi de modo muito determinante a dificuldade que têm milhões de pessoas para ter acesso a recursos que estão a seu lado, que deveriam ser seus, porém tal uso está vetado. De fato, não se pode pensar que a fome seja algo que se padece exclusivamente em países radicalmente pobres, mas deve se reconhecer que haja alimentos sem que se possa dispor em algum momento ou imediatamente colocá-los a serviço dos cidadãos. Umas vezes é a água, outras a terra e ultimamente as sementes. Isto é, os recursos mais básicos, pouco a pouco, vão se acumulando com os grandes proprietários ou empresas multinacionais.
Os informes das Nações Unidas vêm colocando claramente que o reforço dos direitos de propriedade que os grandes proprietários e empresas reclamam, com êxito, somente serve para que estes aumentem seu poder de mercado e para que aumentem os preços dos insumos, o que alija os pequenos campesinos da possibilidade de garantir a mínima segurança alimentar de suas populações. E que a extensão continua dos diretos de propriedade a novas variedades de sementes está verticalizando a cadeia alimentar, de modo que os pequenos produtores cada vez têm menos autonomia e possibilidades de orientar a produção na busca da satisfação das necessidades de seu entorno. Ainda mais, fomentar a monocultura que proporciona altos créditos comerciais, porém poucos recursos alimentares às populações.
Os informes internacionais também denunciam sem muito êxito como o acesso ao crédito, especialmente às mulheres (que produzem mais da metade da produção alimentar mundial, e entre 80 e 90% da dos países mais pobres, porém somente recebem 10% do financiamento destinado à agricultura) se restringe cada vez mais quando isso se poderia resolver com uma milésima parte do que se tem dedicado a salvar aos bancos que tem provocado a crise financeira.
Penso que nada mais reste a acrescentar hoje. Fica a promessa de amanhã trazer a parte final deste texto que dolorosamente sabe do nosso Planeta no Século 21. Desejo que esse dia que marca a chegada da metade da última semana plena de 2009 seja o melhor.
Mestre Chassot, muito importante a reportagem trazida na blogada de hoje. O problema famérico é cada vez maior mas, infelizmente, é algo que a maior parte da população - aqui entenda-se a população que não passa fome - ignora, mesmo encontrando moradores de rua e outras pessoas pelpérrimas, que passam constantemente por esse problema.
ResponderExcluirO dado final da reportagem, que fala sobre a participação majoritária da mulheres na produção alimentar, mas que tem menor participação na divisão dos lucros, pode ser resumido em uma frase de um sociólogo do IBGE: "As brasileiras são mais pobres que os brasileiros."
Ótimo dia.
Meu caro Marcos,
ResponderExcluira mim surpreenderam os dados de participação das mulheres (em meio mais pobre) na produção de alimentos. Isso aditado aos dados que trazes da maior pobreza das mulheres deixa marcado significativa discriminação de gênero. Se diz como das razões de Economia ir tão mal, deve-se a ainda não ter mulheres gerindo mais intensamente essa área.
Obrigado por tua sempre preciosa colaboração,
attico chassot
Meu caro mestre Chassot! Gostei muito da temática trazida por ti na blogada de hoje. Os crimes cometidos em nome de uma agricultura avançada, dilapidadora do planeta e com uma espantosa concentração de poder na monocultura, é uma realidade pouco conhecida de nossa sociedade. Outro dia comentava a grande diferença do desenvolvimento das regiões Sul e Norte do Estado. Se ao Norte temos uma região de propriedades pequenas, com uma distribuição equilibrada da riqueza, ao Sul temos uma concentração de terras, responsável pelo inchaço das cidades pólos regionais, pois não cria oportunidades e só faz evoluir o exodo rural. É essa monocultura gaúcha (que possui como representante a poderosa FARSUL, que expõe suas riquezas anualmente no Parque de Esteio) que vive a bater às portas do Congresso para buscar refinanciamentos e verbas para custear frustrações de plantio. Mas quando há colheitas excepcionais chora pelo baixo preço e pede intervenções governamentais para barrar as importações. Juro a você que fico indignado ao ouvir a porta-voz midiática dessa classe, Ana Amélia Lemos, desde Brasília, alardeando as questões agrárias. Estou tentado a nos proximos dias abordar o tema da "fome" articulado com a corrupção no DF (operação Caixa de Pandora"), pois estou assumindo uma campanha de meu amigo Prof. Paulo José Cunha da UNB: 'ARRUDA JÁ DAÍ". Saudações do JB.
ResponderExcluirMeu caro amigo Jairo,
ResponderExcluiracerca do assunto que trazes, nos jornais de ontem havia uma notícia e um anúncio que mereciam uma blogada. A notícia: uma exultação da ampliação zoneamento para plantar de açúcar para fazer biocombustível: UM CRIME PARA AUMENTAR A FOME. O anúncio: uma nova empresa (Celulose Riograndense) que anuncia que vem se instalar no Rio Grande do sul para honrar nossas tradições agrícolas. MAIS UM CRIME PARA AUMENTAR A FOME.
Logo não é demais blogar contra esses crimes.
Um agradecimento por tua presença muito especial nesse blogue.
attico chassot