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Porto Alegre Ano 4 # 1220 |
A escuridão cede ao sol que começa a aparecer entre nuvens de um dia que se anuncia ensolarado. Nosso inicio de shabath teve uma marca diferenciada. Antônio dormiu conosco. Ao entardecer foi ao supermercado conosco. Comportou-se como um anjo ofereceu doçuras no avonar. Soube ajudar sua avó na cozinha, vestindo inclusive luvas. Brincar com os balões trazidos pelo tio Bernardo. Mergulhar em um profundo sono quando o cansaço o vencia.
Este é um sábado que milhões de jovens fazem o ENEM, depois de uma conturbada postergação. A marca fundamentalista do evento é dada pelos religiosos. Quinze mil alunos, a maioria judeus e adventistas, declararam-se sabatistas. Eles devem chegar no horário normal (até as 12h55) e esperar até as 19h para começar a prova. Os adventistas, que reservam o sábado para rezar, estão satisfeitos com a alternativa. Entre os judeus, no entanto, a situação é mais delicada e devem desistir da prova, pois a religião judaica determina que no Shabath – do pôr do sol de sexta ao de sábado – não é permitido andar de carro, acender a luz, cozinhar ou carregar objetos.
Sábado é dia de dica de leitura. Livros dão o tom em numa pauta diferenciada na blogada de hoje. A azáfama deste mês não me permitiu fazer uma resenha. A sonoridade de azáfama me diz que essa palavra sabe ser linda, pois com sua herdade do árabe, onde significa tropel, parece que traduz o burburinho (linda, também, pois tem a sonoridade de um bulício ou de um murmulho) de grande afã; trabalho muito ativo; atrapalhação, agitação.
Assim valho de um cronista que muito aprecio e comparto com meus leitores a crônica que ele escreveu no Segundo Caderno de Zero Hora nesta terça-feira, 01 de dezembro. Abeberem-se de ‘Um semeador de livros’ de Liberato Vieira da Cunha e encantem-se com a nobreza de uma semeadura.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
A frase de Mario Quintana me veio à memória ao ler que o poeta Itálico Marcon está doando 180 mil volumes de sua biblioteca, considerada a segunda maior particular do país, para o projeto Banco de Livros. Trata-se de uma iniciativa da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul destinada a reunir 500 mil tomos para a montagem de acervos em comunidades carentes.
A história toda está contada em uma bela reportagem de Luiz Antônio Araújo, publicada no penúltimo número do caderno Cultura, de Zero Hora. Os livros de Itálico Marcon ocupavam três apartamentos de três quartos do prédio em que ele vive, na Independência. Entre eles havia raridades como uma edição de A Divina Comédia, de Dante Alighieri, publicada no século 18, na Itália. Essa e outras preciosidades provavelmente serão destinadas à Biblioteca Pública.
As demais obras, no entanto, têm endereço certo: centenas de centros de cultura espalhados por todo o Rio Grande. É esse o grande mérito da doação. Vilarejos, bairros, pequenas cidades passarão a contar com polos irradiadores do legado da civilização. Não me refiro a algo imaterial. Hemingway dizia que todos os bons livros se parecem por serem mais verdadeiros do que se tivessem acontecido realmente.
Imagino dezenas de milhares de crianças, legiões de adultos, em grandes centros ou mínimos povoados, dialogando com o universo atemporal da literatura. Imagino-os descobrindo novos mundos dentro de si próprios ao simples contato com páginas antes desconhecidas.
Somerset Maugham escreveu que “quando leio um livro, tenho a impressão de lê-lo somente com os olhos, mas de vez em quando topo com um trecho, talvez apenas uma frase, que tem uma significação para mim, e ele se torna parte de mim”.
Itálico Marcon, além de poeta e bibliófilo, é também um jurista, um crítico literário e um ensaísta.
Mas quero crer que, de toda a sua obra, que espelha o seu talento, poucos capítulos serão mais duradouros do que a doação que vem de fazer. Pois ele está repartindo algo que não tem preço: um pedaço dos sonhos e dos caminhos da aventura humana sobre a Terra.
Há poucas coisas às quais sou apegado. Meus livros são uma. Não teria a generosidade de Ítalo Marcon, mesmo que ao invés de 180 mil eu tenho 3 mil. Curto muito meus livros. Tenho livros em quase todas as peças. Há uma que chamo de biblioteca. Nela estão os livros de ficção. Os de não ficção estão junto ao meu gabinete de trabalho.
Queria convidar então convidar meus leitores por uma pequena circulada pela minha biblioteca.
Isso é catalisado pela trazida de ontem de recanto da mesma.
Este convite a visitação de um local onde há uma rede também para embalar sonhos é aditado com um convite de um encontro aqui amanhã.
Desejo que sábado seja curtido na expectativa do advento do domingo.
Às leitoras e aos leitores,
ResponderExcluiresta nova formatação do blogue tem, em relação às edições no Uol, uma maior dificuldade de postagem de comentários. Parece que a maior solução é ter uma conta no GMAIL, que é gratuita e pode ser feita em poucos minutos no Google. Feita uma vez, essa senha pode ser usada neste e nos demais BLOGSPOT e ainda em muitas páginas do Google que tem acesso restrito. Muito obrigado pela compreensão. Pediria que os comentários tivessem aditados de endereço ele trônico para uma possível resposta.
Mestre Chassot, de fato, a doação dessa grande quantidade de livros é um ato que eu, também, acredito que não teria capacidade de fazer. Mesmo já tendo lido os livros que tenho em casa, a maioria mais de uma vez, cria-se um vínculo muito forte entre as memórias da leitura e o seu registro material. Isso é tão comum que muitas pessoas recusam-se a sequer emprestar algum de seus livros, com meio do estravio.
ResponderExcluirSó resta-me aplaudir a iniciativa de Ítalo Marcon, e deixar a pergunta: se a coleção de livros dele é a segunda maior do país, de quem será a primeira, e de quantos exemplares dispõe?
Ótimo dia.
Meu caro Marcos Vinícius,
ResponderExcluircomo disse não tenho (ainda) a generosidade do Sr, Ítalo Marcon. Já pensei o destino de meus livros. Gostaria de ganhar na loto e comprar uma casa antiga e restaurá-la e colocar lá todos os meus livros para uso de uma comunidade carente.
Penso que os deixarei como legado, por exemplo ao Departamento de Educação do MST, pois não seria bom se soubesse que meus herdeiros vendessem meus livros ‘a metro’ a um livreiro ou ‘a quilo’ para um papeleiro.
Acredito que o maior bibliófilo do Brasil é o Sr. José Midlin – que tive presente em uma fala minha, tendo autografado meu diário, em evento sobre colecionismo cujo cartaz aparece a esquerda na primeira das fotos da biblioteca hoje. Midlin já dou a maior parte de sua biblioteca à USP.
Falar de livros e biblioteca pode ser alternativa nas blogadas sabatinas.
Um muito bom domingo,
attico chassot