Edições de 30JUL2006 a 30NOV2009 em achassot.blog.uol.com.br/ |
Santa Maria Ano 4 # 1225 |
Esta blogada, como anunciei ontem, ocorre desde Santa Maria. Cheguei ao Campus do Camobi da UFSM, quase 14h30min. Atendo, aqui, convite dos organizadores do 2º Simpósio de Biodiversidade que reúne mais de 300 participantes. O evento é promovido pelos programas de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal, Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde e o Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Maria.
Ao chegar, me foi solicitado ser estepe de um conferencista que faltara. Aqueles que me acompanham mais de perto talvez recordem que nesse ano isso é a terceira vez que me acontece. Tal ocorreu em junho, duas vezes na mesma semana: Uma, quando substituí o Prof. Jairton Dupont, na abertura da Semana de Química na URI de Erechim e a outra, no encerramento do Simpósio de Ensino de Ciências e Matemática no ano Brasil-França em Belém do Pará, quando ocupei o posto – nada mais nada menos – de Edgar Morin. Ontem, coube-me estar no lugar do meu colega e amigo Nélio Bizzo, da USP que, por razões de saúde de familiar, não pode se ausentar de São Paulo. O hilário é que na noite de terça-feira, quase 23h, fui a Rodoviária trocar minha passagem de 19h para 10h, para ter a oportunidade de assistir o Nélio. Uma hora depois de ter chegado ao evento, atendi pedido dos organizadores e dei – mais uma vez – a palestra ‘A Ciência é masculina?’ Fi-lo (para recordar um preciosismo de um dos maiores conhecedores da gramática da língua portuguesa, que foi por uns meses um falastrão Presidente da República) com muita gratificação e manifesto agrado de parte da assistência. À noite participei de uma janta com um grupo de colegas de diferentes universidades do Brasil e do Uruguai onde o único não biólogo era eu. Não deixa de ser uma experiência significativa.
Esta manhã, faço a fala “Das disciplinas à indisciplina: caminho ao avesso”. Ela se insere dentro do tema para dessa segunda edição do evento “Biodiversidade, Ensino e Evolução” que é uma comemoração aos 200 anos do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de sua principal obra: "A Origem das Espécies".
Em outubro quando estive aqui, minhas atividades foram na UNIFRA. Ontem e hoje estou naquela que foi a primeira universidade federal brasileira fora de uma capital. Mas estar no meio acadêmico não significa que as ideias de defesa do meio ambiente tenham trânsito tranquilo. Há um tempo sustentei debate na UFSM com quem defendia ‘cientificamente’ o assim chamado ‘reflorestamento’. Assim, também, questões envolvendo a COP-15 não são sempre tranquilas. A propósito destas divergências, trago matéria do caderno “Clima’ as Folha de S. Paulo do domingo que passou.
Apesar das evidências sobre a culpa humana do aquecimento global, alguns pesquisadores ainda criticam o grau de incerteza dos dados e dos modelos climatológicos. Segundo eles, o aquecimento global ou não existe ou não é um problema.
O perfil acadêmico deles é variado, indo desde climatólogos de respeito até cientistas pagos pela indústria do petróleo.
Um dos mais célebres do grupo é Richard Lindzen, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Deu testemunho ao Senado no governo de George W. Bush e inspirou o livro "Estado de Medo", de Michael Crichton, no qual "ecoterroristas" ameaçam o mundo.
Outra estrela do grupo é Pat Michaels, do Instituto Cato, que não nega o fato do aquecimento, mas sim os modelos que dizem que ele será maior que 2ºC até o fim deste século se emissões não forem cortadas. Argumenta que é desperdício de dinheiro cortar CO2.
No mês passado, negacionistas falaram à imprensa durante o episódio apelidado de "Climagate". Uma série de e-mails de climatólogos da Universidade de East Anglia, Reino Unido, foram roubados por hackers e publicados na internet. Céticos apontaram nas mensagens sinais de que cientistas estariam forjando dados, mas nenhuma prova de fraude foi achada.
Simultaneamente -embora não no mesmo time- à delegação do governo norte-americano que vai a Copenhague, um grupo de congressistas republicanos promete pelo menos fazer ouvir também sua versão no evento sobre o clima.
Os políticos da oposição levam consigo reclamações de grupos de empresários que criticam o plano secundário a que foi relegada a discussão sobre os custos que a implantação das chamadas medidas "verdes" pode vir a ter a economia local.
A grita é liderada principalmente pela Câmara de Comércio dos EUA, a maior entidade de empresários do país, o Escritório da Federação Agrícola Americana e a Associação Nacional de Manufaturados.
O trio acredita que as medidas que vêm sendo prometidas pelo governo obamista elevam os custos de produção em setores vitais da economia, como energia, e não oferecem benefícios suficientemente comprovados para o ambiente.
Chame-os de "céticos econômicos". Um deles é o presidente da Câmara do Comércio, Thomas J. Donohue, cuja posição antagônica à política verde da Casa Branca levou nomes como Apple e Nike a se afastarem ou mesmo se retirarem completamente da entidade.
"O presidente Obama e a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, têm problemas muito mais sérios com que se preocupar aqui em casa", disse Eric Cantor, o segundo deputado republicano mais graduado.
"Por exemplo, diminuir o gasto público, arrumar nossa situação fiscal e adotar soluções mais sensatas para voltar a dar empregos para os trabalhadores estadunidenses."
Linha semelhante segue Charles Drevna, presidente da Associação Nacional Petroquímica e de Refinarias. "No meio de uma recessão severa, com desemprego de 10,2%, nossa economia, a criação de empregos e o impacto sobre o consumo deveriam ser levados mais em conta do que tentativas de impressionar burocratas internacionais durante uma convenção", escreveu.
O grupo cita relatórios europeus recentes que apontam para o custo elevado da criação de empregos verdes ali e de como essas vagas, quando subsidiadas pesadamente pelo governo, podem distorcer setores tradicionais da economia.
Esses políticos e empresários têm plateia. Segundo levantamento recente feito pelo renomado Pew Research Center, a maior parte da população de 11 dos 25 países pesquisados discorda da noção de que as pessoas devem pagar mais pelo combustível ou pela energia.
Entre os países em que a recusa é maior estão os EUA.
Logo é fácil imaginar que a possibilidade de fracasso, ou melhor, pouco sucesso da COP-15 não é tão remota. Com votos de uma muito boa quinta-feira, um convite para nos lermos amanhã de Porto Alegre, para onde retorno às 12h, para mais de 4horas de ônibus. Tempo muito própria para vagabundear ideias.
Mestre Chassot, mesmo tendo sido "estepe", acredito que todos tenham ficado maravilhados ocm sua fala sobre a ciência e as relações de gênero, e que bom que tudo correu bem.
ResponderExcluirQuanto a COP-15, todos nós, até os mais utópicos, tem consciência de que o evento pode não ser muito exitoso, e é justamente por isso que nossas esperanças direcionam-se com maior intensidade, e, mais uma vez, Copenhague se faz Hopenhague.
Como o senhor me disse na segunda-feira, vamos torcer, pois esta é a forma agnóstica de rezar.
Ótimo dia.
Muito estimado Marcos Vinicius,
ResponderExcluiresse é comentário inédito a todos os comentários que postei neste blogue. Ele é realizado a bordo de um ônibus da Planalto, no trecho Santa Maria/Porto Alegre, a três horas de viagem, portanto a cerca de 80 minutos de chegada. Saudemos à maravilha das conexões, mesmo com desconforto do teclar a bordo.
Retorno feliz com minha fala de ontem e muito especialmente com a desta manhã.
Com redobrada esperança na melhoria da saúde do Planeta, até para fruirmos destes novos tempos, a admiração do
attico chassot