Ano
6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2126
Estudei Física durante três anos no curso científico
(denominação de uma das modalidades do ensino médio); sabia mecânica, estática,
dinâmica, cinemática e os problemas de ótica e eletricidade do Salmeron eram
parte de meus domínios na preparação do vestibular. Durante minha licenciatura
em Química tive dois anos desta ‘matéria’ e mesmo sendo um ensino totalmente
asséptico — era uma Física sem graxa —, tinha-me por competente no assunto; ainda
repousam na minha biblioteca dois volumes do Halliday & Resnick e dois do
Sienko. Tempos depois, estudei um semestre de especialização em Física Moderna no
livro do Beiser, que também jaz na minha estante intocável há muito.
Na docência, no mestrado e no doutorado Aristóteles,
Copérnico, Galileu, Newton, Einstein... são parceiros muito presentes que me
encantam nos meus divagares acerca de História e Filosofia da Ciência. Aliás,
eles, então, quase nada participaram de minha aprendizagem. Hoje quando leio
alguns textos de Física, me sinto incompetente. Muitos assuntos são muito
diferentes do que aprendi, há quase meio século.
Neste último domingo de maio, Hélio Schwartsman, em um artigo
publicado na p. A-2 da Folha de S. Paulo, confortou-me. Talvez meu desconforto
intelectual seja partilhado por algum outro leitor. Assim, para ele transcrevo o
texto referido, com votos de uma boa semana.
Quão real é a física? Não são poucos os que acusam a física contemporânea
de estar criando um universo de abstrações matemáticas intestáveis. Para esses
críticos, a disciplina estaria se aproximando perigosamente da metafísica e da
religião.
Acaba de ser lançado no Brasil o
excelente "A Realidade Oculta"#, em que Brian Greene, um
dos profetas dessa nova física, defende sua filosofia. Greene descreve de modo
quase compreensível nada menos que nove versões de multiverso, isto é, da ideia
de que existem realidades paralelas.
De acordo com alguns desses
modelos, há mundos em que diferentes versões de você leem agora esta mesma
coluna; em outros, seu eu alternativo está lendo a coluna, mas ela fala de
escultura. O número de realidades pode ser infinito, ou, ao menos, absurdamente
grande, abarcando todas as possibilidades concebíveis que não violem as leis da
física.
Em outros modelos, universos
paralelos brotariam como bolhas de sabão, resultado de flutuações quânticas
submetidas à inflação cósmica. Combinações desses nove tipos não estão
descartadas. Algumas propostas são tão complexas que até religiões parecem mais
lógicas.
Dá para acreditar nessas coisas?
Essa é a polêmica entre realistas e instrumentalistas. Para os primeiros, a
resposta é sim. Universos paralelos existem e devemos crer neles porque é aonde
as equações nos levam. Lembram que não havia ideia mais estranha que a de que a
Terra se move em altíssima velocidade pelo espaço. Afinal, o que vemos é o Sol
cruzando os céus e não sentimos movimento algum. Foi a matemática de Copérnico
que nos levou ao paradigma heliocêntrico, hoje inconteste.
Já para os instrumentalistas, a
realidade é, no fundo, incognoscível. Tudo o que a ciência pode oferecer são
previsões corretas e é a elas que devemos nos ater. Em termos rigorosos, não
sabemos ao certo nem se a matemática e a lógica são reais.
Façam suas apostas.
Caro Attico,
ResponderExcluircreio que em futuro bem próximo a ciência e a tecnologia podem trazer a luz essas respostas com mais clareza.
Caro Chassot,
ResponderExcluirMinha formação em mecânica me fez estudar física e trabalhar com física sempre. Não me considero, portanto, leigo no assunto, mas desde que formulou-se conceitos de mecânica quântica a partir de cálculos de cientistas como Werner Heisenberg, Max Planck, Niels Bohr, Erwin Schrödinger, a coisa ficou feia, como você disse, parece que eles estão falando de religião ou bruxaria. Um dia destes escutei um físico famoso dizer que existe apenas cinco ou seis pessoas no Planeta que entendem a física quântica, então não estamos sós (você e eu), fazemos parte da maioria que está longe de compreender esses conceitos prá lá de enigmáticos. Abraços físicos, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluirhá, cada vez mais, proximidade entre os físicos e os filósofos. É por isso que acho que a física está no caminho certo. Quando às dúvidas sobre a possibilidade do conhecimento, isso já é uma antiga questão posta pela Teoria do Conhecimento e que tenho andado bastante propenso a crer.
Um abraço,
Garin
Caro Mestre:
ResponderExcluirParece haver momentos em que as deduções do cálculo ficam difíceis de serem intrpretadas no contexto da física.
Esta questão de haver incontáveis universos, cobrindo todas as possibilidades não utilizadas na "nossa" versão é abordada pelo polêmico Fred Hoyle no seu livro TEN FACES OF THE UNIVERSE (meu preferido).
Mas, é claro que não existe uma conclusão definitiva, pela impossibilidade de uma comprovação experimental.
Será que tudo o que se deduz pelas equações pode ser realmente tomado ao pé da letra no universo físico?
Para que isto fosse verdade, seria preciso que todas as variáveis fossem conhecidas e consideradas no cálculo. E eu creio que a nossa ciência ainda está longe de conhecer todas as variáveis...
A imprevisibilidade que envolve os eventos quânticos é um exemplo.
Sabemos de percentuais e de possibilidades da ocorrência de eventos, mas não somos capazes de dizer qual vai ocorrer e quando!
Enquanto isto, algumas afirmações vindas do meio científico podem soar como dogmas religiosos...dependem de fé, pois não temos como comprova-las!
E, volta e meia, caem por terra teorias antes tidas como "definitivas"!
É fascinante o quanto ainda temos por descobrir!
Abraços!
Muito apreciado Mestre Chassot,
ResponderExcluirparabéns pela sua oportuna transcrição do texto do Hélio Schwartsman, que não conhecia.
Continue nos alertando destas preciosidades.
Sinto-me como o senhor: parece que meus conhecimentos de Física são de outra galáxia.
A admiração do
Leonardo Jungmeister
Puxa nove multiversos!
ResponderExcluirMultiverso teria base bíblica? Gênesis diz: "...criou Deus oS céuS.." plural, de vários universos? Não sei ...
É fácil ser físico teórico e filosofar como o Hawking, eu quero ver comprovar.
Nenhuma lei natural poderia explicar a violenta explosão/expansão (Big Bang) de uma suposta inatividade eterna. Um universo eternamente inativo é fisicamente impossível, pois teria que estar no zero absoluto. A matéria no começo poderia ser qualquer coisa; menos fria. Se estivesse; nenhum evento inicial teria ocorrido; ...e ainda formando vários universos?????
Não há provas empíricas heurísticas dos multiversos. Mas podem ser peças de uma mesma CASA (Universo). Digamos que estamos no quarto, mas não vemos a cozinha, a sala, a varanda ...mas é apenas uma Casa, um Universo.