Ano
6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2118
Luis Antônio — Gabriela uma peça
teatral de Nelson Baskerville, Verônica Gentilin e os atores da Cia. Mungunzá.
Com admirável coragem, o diretor Nelson Baskerville mexe em sua história no
documentário cênico. Seu irmão, Luis Antonio (o ator Marcos Felipe), era
homossexual e viveu em Santos até os 30 anos, quando se mudou para a Espanha.
Durante três décadas, quase nada se soube dele, que, em Bilbao, assumiu a
identidade de Gabriela, protagonizou shows e acabou vitimado pela aids
Esta é síntese da tragédia
familiar que o texto de Fábio Prikladnicki, publicado no Segundo Caderno de
Zero Hora deste sábado levou a Gelsa e a eu assistir dentro do 7º Festival Palco Giratório Sesc/Porto
Alegre — excelente programação cultural de maio — destaque deste fim de
semana na cidade. Este documentário teatral de impressionante crueza será
reprisado neste domingo em Porto Alegre neste domingo no teatro do SESC, na av.
Alberto Bins.
Após o pungente espetáculo houve
a oportunidade de um diálogo entre plateia e a grupo da Cia. Mungunzá. Tanto a original
dramaturgia como o estar com os atores nos tornou repletos de interrogações que
encheu o resto de nosso sábado, marcados pela emoção de ver o comovente pedido
de perdão do diretor a seu irmão.
Eis a proposta de Fábio Prikladnicki:
“o diretor Nelson Baskerville buscou o distanciamento defendido pelo dramaturgo
alemão Bertolt Brecht (1898 – 1956) em seu teatro épico para evitar que o
público se identifique com os personagens. Segundo Brecht, defensor de um
teatro político, a estratégia estimula que a plateia tenha a consciência
crítica despertada.
Mas Baskerville admite que,
nesse sentido, falhou na missão. É um
épico que deu um tiro no pé. O público se emociona do mesmo jeito – diz,
por telefone. Mesmo assim, é por meio do teatro épico que o diretor explica a
reação da plateia frente à história de seu próprio irmão, Luis Antonio,
homossexual que assumiu a identidade da travesti Gabriela, enfrentando a
rejeição da família e morrendo de forma solitária na Espanha:
Meu
teatro é brechtiano porque a plateia assiste a uma tragédia que poderia ter
sido evitada. Assim, ele também toca pessoas distantes do tema.
Levando ao extremo o teatro
confessional, os personagens interpretados pelos atores da Cia. Mungunzá (SP)
são os próprios integrantes da família do diretor e pessoas próximas – a
madrasta, os irmãos, um amigo de Luis Antonio. Entre os méritos da produção paulista,
que levou este ano o Prêmio Shell (o mais importante do teatro nacional) de
melhor direção, está a abordagem sensível de um tema que costuma ser tratado de
maneira estereotipada, folclórica. Luis Antonio – Gabriela mostra que a vida
real não é uma gaiola das loucas.
A
peça fala não apenas do meu irmão, mas de 98% dos travestis do mundo. O
travesti nasce, não é aceito pela família, é expulso da escola, sai de casa sem
estudo, sem trabalho e não tem outro meio para se sustentar que não seja a prostituição – observa
Baskerville.
Corajoso, o diretor revê no
espetáculo episódios da infância, na década de 1960, como a ocasião em que o
irmão o seduziu, e conta o triste destino de Luis Antonio, que morreu em
Bilbao, em 2006, praticamente abandonado por todos.
Baskerville não esconde que a
peça é um pedido de desculpas. Lamenta que tenha faltado “orientação” à família
para lidar com a situação. Mais de um ano depois da estreia, ele ainda tem
dificuldade para acompanhar o espetáculo. Alguns atores ficaram frustrados com
a distância, mas veio, enfim, a compreensão.
Toda
vez que assisto à peça, ela me machuca um pouco. Ao final, não tive uma
sensação de alívio. Continua sendo uma tragédia – diz o
diretor”.
Chassot,
ResponderExcluirque profundo drama existencial deste texto!
Esta peça deve retratar com muita força o abismo da alma humana. Daria uma ópera!
Do mesmo Brecht já li "A vida de Galileu". Adoraria ver esta encenada.
Recentemente assisti à Hécuba, de Eurípedes, épica mas muito atual.
Obrigado pela dica!
Abraços,
Guy.
Dificílimo lema.
ResponderExcluirFácil falarmos da monstruosidade do preconceito até que ele nos bate a porta e temos que deixá-lo entrar. Falta-nos sabedoria para lidar com o fato. Entender a opção do nosso semelhante quanto à sua preferência sexual e modo de se apresentar.A mesma sapiência escassa para com os que são massacrados de forma maciça, nos rende o arrependimento posterior, como no caso do diretor!
Sigamos objetivando o amor ao próximo e rumo a uma sociedade mais justa e igualitária!
Bela postagem, Attico amigo!
Muita paz!
Ola Mestre Chassot! Tal como o Cristiano relata acima, eu também me confesso com dificuldade para lidar com o fato. Não sei se pela criação tradicional, que nos imputou um olhar bastante restrito para trabalhar a diversidade. Um bom domingo.
ResponderExcluirAbraço - JB
Caro Attico,
ResponderExcluircom o passar dos tempos, o mundo deve ficar mais democrático,ha pouco tempo até mesmo um dos papas da psiquiatria o estadunidense Robert Spitzer que em 2003 publicou um estudo sobre um suposto tratamento para curar o homossexualismo, as vésperas de completar 80 anos reviu seus conceitos e declarou: "Eu devo um pedido de desculpas a comunidade gay."fonte ZH 20-05-2012. Sigamos seu exemplo,tornando nosso planeta livre do sexismo.
Hendney Cardoso Fernandes