Ano
6*** Porto Alegre/Frederico Westphalen ***Edição 2109
Esta é mais uma edição postada a bordo. Faz um pouco mais de uma hora que
deixei Porto Alegre. Às 05h, vencidos 450 quilômetros, devo estar chegando a Frederico
Westphalen.
Hoje, no Programa
de Pós-Graduação em Educação da URI tenho duas atividades: a) participo de
Seminário aberto de divulgação do Mestrado em Educação a candidatos para
seleção da turma de 2012; b) ocorre a terceira sessão do seminário: ‘escrever é preciso e é precioso’. Em
momento haverá uma interface das duas atividades, quando os mestrandos do
seminário da escrita participarão da primeira atividade, para realizar, como
atividade de campo, registros etnográficos em diferentes recortes.
A promessa feita ao
final da edição de ontem — comentar acerca dos diversos óculos para a leitura
do mundo natural — mesmo com frutuosos comentários de leitores à edição, não terá
sequência hoje. Quero trazer uma ‘palhinha’ acerca da escrita.
Uma
das atividades do seminário é a busca de respostas a três interrogações: O que
escrevo? Como escrevo? Por que escrevo? A primeira é de fácil resposta. A
segunda, que quer ser central na edição de hoje, deseja trazer algo de como
iniciar um texto. A terceira, mais complexa, pois pode envolver incursões psicanalíticas
fica para outra edição.
Como
escrevo? Tenho
um recurso para vencer a assim chamada “síndrome da folha em branco” ou, para
usar uma metáfora mais adequada à pós-modernidade, “o pavor ante uma tela por
desvirginar”. Nessas situações, socorro-me de algo que tem a ver com minha
formação em Química. Quando se tem uma solução salina que contenha eletrólitos
que, por diferentes parâmetros físico-químicos, cristalizam com dificuldade,
usa-se um gérmen de cristalização. Coloca-se na solução, amarrado com um tênue
fio de linha, um pequeno cristal e desencadeia-se, então, a cristalização que
estava inibida e, em redor do cristal semente, as diferentes espécies iônicas
vão se arranjar produzindo, não raro, lindos cristais.
Quando tenho texto para
redigir, geralmente me dou conta de que já escrevi algo sobre o assunto.
Procuro em meus arquivos um pequeno excerto, então, que vai funcionar como
gérmen de cristalização. Nessa operação, o Google Desktop é um
excelente parceiro - sem me dar conta, chamo um buscador internético de parceiro, como se fosse um auxiliar de pesquisa -, pois me
localiza até mensagens eletrônicas pertinentes. São os robôs do Google fazendo
aquilo que em outros tempos faziam os bolsistas que auxiliavam os
pesquisadores. Sem falar nas pesquisas realizadas por esses maravilhosos robôs
no Google Acadêmico.
Não sei quantos dos leitores
conheceram uma prática de nossas avós, que a biopirataria das multinacionais
que dominam o mercado dos galináceos sequestrou de nossos cotidianos, de usar
um indez – este pode ser um caramujo ou uma pedra que se assemelhe a um ovo –
para atrair galinhas em postura para colocar ovos em determinado ninho. Meu
indez se constitui em uma alternativa para dar a partida.
É preciso que confesse que há
edições do blogue que têm inúmeras redações, em madrugadas insones, na hora
de exercícios físicos, especialmente durante a chatice do esteirar ou em
viagens, em meu lapkopf. Atenção! Não estou me referindo a laptop.
Criei, já há um tempo, a palavra lapkopf, aproveitando o substantivo
alemão kopf (cabeça), por semelhança eufônica com laptop, para
referir-me ao local de gestação de texto que faço em um disco não tão rígido e
também com poucos recursos de salvar. Este texto, especialmente nesta reescrita
outonal, foi também mexido e remexido no lapkopf, enquanto a versão
(quase) final foi sendo gestada.
Assim como uma mãe, durante a gravidez, curte
preparar o enxoval do nascituro, muitas vezes, especialmente quando não havia
tempo para uma imersão mais profunda em alguns de outros textos.
Para finalizar, duas outras informações
a este como escrevo: a primeira,
tenho usualmente em produção simultânea dois ou mais textos; a outra, sempre
escrevo envolvido em pelo menos e em bom dicionário. Um dicionário etimológico
é fulcral.
Agora resta embalar a tessitura
de textos na tentativa de responder o que
escrevo e por que escrevo. Por
ora, só adito votos de uma muito boa sexta-feira.
Mestre Attico,
ResponderExcluiratualmente escrevo de forma direta e um tanto vulgar,mas para mudar essa realidade estou lendo e escrevendo cada vez mais bons livros,acerca do inicio de um texto, tento lembrar se li algo ou ouvi falar sobre o tema da escrita e tem dado um resultado razoável.Nessa semana aprendi uma lição valiosíssima com a burilada que deste em meu texto.
Estou muito grato por tua atenção,boa viajem e sorte !
Hendney Fernandes
Caro Chassot,
ResponderExcluirExcelente, deslindar tua gestação de textos levou-me a pensar como eu escrevo, e, por acaso, também uso o indez que torna as coisas mais fluidas a partir daí. Parabéns pela blogada. Abraços beletristas, JAIR.
Foi uma delícia ler o seu blog hoje... Mas vc tem razão... escrever é treino... quanto mais se tenta, mesmo que seja fazendo pequenos germes de cristalização apenas em um momento, em outro estes pequenos trechos nos fazem, quando preciso, começar de algum ponto, o que já é melhor do que começar de uma página em branco... Vou passar sua analogia para meus alunos... boa dica!
ResponderExcluirOlá!!!! Querido mestre, ler a blogada de hoje desafiou meu "lapkopf" a refletir sobre a questão chave proposta... como escrevo? Quando a "disgestão" da reflexão acabar e acomodar a sistematização identificada... compartilho com o Sr.
ResponderExcluirMuito obrigada!!!! Um forte abraço!!!!
Sandra
Caro Chassot,
ResponderExcluirtemos algo em comum: o indez. Para mim o texto bíblico funciona, seguidamente como um indez. É possível partir de um texto mítico e fazer conexões com a realidade atual ou construir a partir do texto mexendo no seu contexto. Às vezes vale até um notebook, um bloco de anotações de papel mesmo.
Um abraço,
Garin