Ano
6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2114
Ontem vivemos mais um dia memorável. O socialista François
Hollande tomou posse nesta terça-feira (15) como novo presidente da França, em
uma cerimônia rápida e discreta no Palácio do Eliseu. Eleito em 6 de maio com
51,6% dos votos, François Hollande, 57 anos, é o sétimo presidente da Quinta
República Francesa, com um mandato de cinco anos. Ele comandará uma das
principais potências mundiais, membro permanente do Conselho de Segurança da
ONU. Também é o segundo socialista a ocupar a presidência durante a Quinta
República, depois de François Mitterrand.
Como gesto
simbólico de início de mandato, tradição na França, Hollande fez homenagens a
duas figuras da história francesa para ilustrar as prioridades de seu mandato, a
educação e o multiculturalismo populacional: Jules Ferry, pai da escola laica e
gratuita francesa, e a cientista Marie Curie, francesa de origem polonesa e
Prêmio Nobel de Física e de Química.
Há aqui uma bonita
coincidência com algo que refiro, quando evoco Marie Curie: Há 17 anos, em 1995,
um dos últimos atos ao encerrar seu segundo mandato como presidente, François
Miterrand levou as cinzas de Pierre e Marie Curie ao Pantheón [imagem], numa festa
que engalanava um dos mais imponentes monumentos de Paris, em cujo frontispício
consta “Aux grands hommes, la Patrie reconnaissante".
A propósito da
eleição de Hollande, recebi de José Carneiro cientista político e jornalista,
leitor deste blogue, As urnas e o relógio de
Sarkozy que mostra, entre outras análises,
como o senso comum pode tornar-se desatualizado. Com o artigo do também militante
no movimento docente da UFPA, em Belém, as homenagens à democracia francesa.
As urnas e o relógio de Sarkozy Há
um velho e quase superado adágio, contendo a seguinte afirmação: de barriga de
mulher grávida, de cabeça de juiz e de urna eleitoral, nunca se sabe o que pode
sair. Com relação à primeira afirmativa, a tecnologia da ultrasonografia já a desmontou
completamente, ao possibilitar revelar, com bastante antecedência, o sexo do
que vai nascer.
As sentenças judiciais, por sua vez, foram conspurcadas, em parte, pela
corrupção avassaladora que assolou o planeta e, sobretudo, os costumes
políticos brasileiros. Não há nenhuma novidade em se demonstrar os recentes
casos de juízes punidos por venderem sentenças, situações expostas publicamente
em Brasília e São Paulo, para ficar nestas duas cidades. Pena é que essa
punição acabe sendo uma confortável aposentadoria. Sobram, então, as urnas recolhedoras
de votos, que só não apresentam maiores surpresas em dois contextos bem
específicos: a famigerada herança dos antigos currais eleitorais e, de certa
forma, a pesquisa eleitoral.
Nos dois contextos, ressalte-se, é apenas presumível saber o que virá do
interior da urna. As pesquisas eleitorais, cada vez mais aperfeiçoadas, têm
ajudado a enterrar os vaticínios do velho adágio sem contudo sepultar, de vez,
a fórmula concebida. Pois sempre será possível uma surpresa vinda do interior
da urna, ainda que as pesquisas de opinião, ou as de boca de urna, venham a
afirmar o contrário. Os ares das diferentes tendências políticas têm varrido
boa parte do mundo, e o Brasil mesmo passou por tentativas dessas mudanças,
como, por exemplo, na eleição de Lula da Silva. A expectativa de novos rumos –
que, em geral, ficam só nas eufóricas esperanças – faz parte da dinâmica da
ciência política, e todos percebem como o efeito dominó vai se ampliando.
Barack Obama, nos Estados Unidos, para citar um dos mais conhecidos, fez parte
desse vendaval de aparentes mudanças, que pode prosseguir, ou não, pelos
próximos quatro anos. A França, de certa forma, seguiu a direção do vendaval
político, observado também nas cercanias do Oriente e da Ásia e acompanhado
pela Grécia.
O caso francês – cujo desfecho se deu na semana passada - nos leva para o
interior das urnas, cujos resultados, previsíveis ou não, embutem, sobretudo, preciosas
lições, quando não merecidos castigos. Sarkozy teve cinco anos para impor
estilo, demonstrar autoridade, consolidar alianças, rever posições e ouvir a
famosa voz das ruas, antes da voz das urnas. Ele teve até a chance de, no
poder, desfazer o casamento e reiniciar outra relação, numa demonstração de
como chegaram os novos tempos. Coisa rara em outras épocas. Mas, como se viu,
acabou derrotado, por uma lufada para a esquerda, afinal não muito forte, dada
a reduzida diferença que marcou o resultado do segundo turno francês. Ao final
de tudo, a culpa da mudança na França pode estar diretamente colada à figura de
Nicolau Sarkozy, que subestimou tanto as pesquisas quanto a aparente vontade
política da população. Pode-se entrever, ainda, um laivo de preconceito no
episódio flagrado pela televisão em que Sarkozy , ao se dirigir ao povo na rua, tratou
de resguardar seu patrimônio, guardando no bolso do paletó o seu caríssimo
relógio de pulso. Ninguém nunca saberá, mas Sarkozy pode ter, naquele gesto
insano, trocado sua reeleição por um valioso objeto de estimação. Registre-se,
por fim, a elegância com que ele recebeu e admitiu a derrota. Menos mal.
Caro Chassot,
ResponderExcluirTambém gostei da eleição de Hollande, uma virada para a esquerda é bom para a França e para o mundo. A sacada do articulista registrando que Sarkozy pode ter trocado a eleição por um relógio é uma das melhores que já li. Abraços, JAIR.
Mestre Chassot
ResponderExcluirSimplesmente magnífico o texto do José Carneiro. Certamente o resultado das eleições demonstrou que ainda predomina a democracia sendo uma das melhores formas de expressão da vontade popular. Chamou minha atenção nos noticiários de "adier" o dedo em riste da presidenta Dilma em cerimônia ontem no Encontro de Prefeitos em Brasilia, enfrentando a fúria dos poderosos. Que mulher de coragem!Creio que ainda vamos sentir saudades dela. JB
Professor Jairo,
Excluira nossa presidenta é uma mulher destemida e de admirável coragem falar para uma plateia inflada como fez, requer muita coragem.Ainda mais em se tratando de valores $$$$$.
Claro, meu caro Hendney
ExcluirSou um entusiasta desta mulher. Admiro demais sua postura e como afirmei acima, já estou sentindo saudades dela só em imaginar o dia que deixar o governo, pois já a considero muito superior àqueles que a precederam. JB
Caro Chassot,
ResponderExcluirem matéria de política já fui mais entusiasta. Acho que estou ficando velho e, quem sabe mais cauteloso. Começo a admitir que a alternância no poder pode ter consequências benéficas. Disse pode, porque nem sempre é isso que acontece. Em outros tempos, essa ou aquela ideologia me entusiasmava: hoje prefiro aguardar os fatos para celebrar depois. Espero que possa celebrar, com satisfação, o mandato de Hollande.
No mais, um forte abraço,
Garin
Ola Caro Garin
ExcluirNao seja temeroso em ser feliz, mesmo que isso mais tarde possa se tornar decepção. É isso que vale a pena nos dias de hoje. O futuro a Deus pertence....Grande abraço - JB