ANO
8 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2543
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Já
circula a sexta edição de A Ciência é masculina? É, sim senhora!
Para comemorar brindo a meus leitores com o texto Por que as mulheres legitimam a dominação masculina?
que o filósofo Antonio Ozaí da Silva, professor da UEM, publicou neste 22 de
setembro no muito apreciado blogue: http://antoniozai.wordpress.com
“…é ainda mais surpreendente, que a ordem
estabelecida, com suas relações de dominação, seus direitos e suas imunidades,
seus privilégios e suas injustiças, salvo uns poucos acidentes históricos,
perpetue-se apesar de tudo tão facilmente, e que condições de existência das
mais intoleráveis possam permanentemente ser vistas como aceitáveis ou até
mesmo como naturais” (Pierre Bourdieu)[1]
Sou
do tempo em que era comum guardar páginas e recortes de jornais e revistas.
Hoje, organizamos arquivos em pastas no computador. Ainda assim, mantenho o
hábito de guardar textos das revistas que recebo para leitura posterior.
Termino por aumentar a pilha de papéis, pois o envolvimento com a rotina e a
urgência de outras prioridades fazem com que a tarefa fique relegada ao futuro
incerto. Não obstante, na minha desorganização organizada encontro tempo para
dar conta das pendências. Então, termino por me surpreender com as coisas que
guardo: umas nem fazem mais sentido, pois eram conjunturais e o tempo anulou a
motivação; outras, simplesmente deixam de despertar o interesse – o que me faz
pensar no tempo que consumimos com algo que nos parece muito interessante em
determinados contextos da vida, mas que, passado o momento, dilue-se e torna-se
descartáveis. Mas, há aqueles assuntos que, infelizmente, permanecem atuais.
Seria melhor que também eles tivessem perdido o sentido de ser. A realidade,
contudo, teima em persistir.
Manuseio
os papéis empilhados sobre a mesa e deparo-me com uma matéria da revista
Retrato do Brasil cujo tema é a situação das mulheres na Arábia Saudita. O
título chama a atenção: “Elas querem a direção”.[2] Inicio a leitura e fico
abismado! O texto informa que naquele país, em pleno século XXI, as mulheres
são proibidas de dirigir automóveis! A segregação sexual é a norma na
sociedade, as mulheres não podem comparecer aos tribunais e o direito ao divórcio
depende de uma declaração do marido. Além disso, toda mulher é tutelada por um
homem (pai, irmão ou marido). Tais “guardiões” influenciam suas escolhas em
todas as esferas da vida.
Fico
ainda mais perplexo ao ler o depoimento de mulheres que apoiam a tutela
masculina – o que ilustra bem a complexidade da questão de gênero, na medida em
que lá, como aqui, as mulheres introjetam os valores considerados machistas e
reproduzem-nos como esposas, mães, etc. Em reportagem no The New York Times,
publicada em maio de 2010, a jornalista Katherine Zoepe relata a história de
Rowdha Yousef: “Com 39 anos, divorciada, mãe de três filhos, ela atua como
conselheira voluntária em casos de abusos domésticos. Na conversa com a
jornalista, Rowdha se mostra ativista contra as ideias libertárias. Com 15
outras mulheres, ela iniciou na internet a campanha denominada “Meu guardião
sabe o que é melhor para mim”, que, em dois meses, conseguiu uma petição
solicitando ao rei “punição para aqueles que pedem por igualdade entre homens e
mulheres, mistura de homens e mulheres em ambientes mistos e outros
comportamentos inaceitáveis”. Rowdha diz que as mulheres que querem acabar com
a tutela têm problemas pessoais com os homens. “Se ela está sofrendo por causa
de seu guardião, pode recorrer à corte da Sharia [código de conduta religiosa]
e pedir a substituição por alguém mais digno de confiança”.[3] Noura Abdulrah,
a primeira mulher a ocupar um cargo ministerial na Arábia Saudita, também
defende a tutela masculina: “Como mulher saudita, quero ter meu guardião. Meu
trabalho requer de mim ir a diferentes regiões da Arábia Saudita e, durante
minhas viagens, sempre levo meu marido ou meu irmão. Eles não solicitam nada em
troca – eles somente querem estar comigo”.[4]
Estamos
no século XXI, mas as trevas de regimes políticos conservadores-teocráticos
persistem como se fossem naturais. A fusão do Estado com uma concepção estreita
e intolerante da religião são os pilares que sustentam a exclusão das mulheres
e perpetuam a dominação masculina. Mas também devemos considerar os valores e
costumes arraigados na sociedade, cuja influência é tão forte que conquista a
legitimação até mesmo das mulheres. Como explicar isto? O que diz o
multiculturalismo e o feminismo? A realidade social é bem mais complexa do que
os nossos ismos!
[1]
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. RJ: Bertrand Brasil, 2005, p. 7.
[2]
Ver SARTORI, Armando. “Elas querem a direção”. Retrato do Brasil, nº 49, agosto
de 2011.
[3]
Idem, p. 18.
[4]
Idem, p. 19-20.
Mestre Chassot
ResponderExcluirUma sociedade que em pleno século XXI se mantem ainda extremamente machista, mesmo naqueles paises que se consideram evoluidos como no caso ocidental. Imagine nestes lugares onde a religião dá o tom do poder...JB
Limerique
ResponderExcluirPois não importa o que você fizer
Para libertar do jugo a mulher
Você tira-lhe os grilhões
Ela: não vou, seus bobões!
Só saio em liberdade se eu quiser.
Limerique
ResponderExcluirMulher saudita infeliz, oprimida
Para nós, no seu íntimo ferida
Mas,vade retro infiel!
Este é o meu papel
Desinfeta! vá cuidar de sua vida!
Nosso Mestre Chassot: "Existem coisas que não podem ser escondidas" essa foi a primeira campanha de um país ultra conservador, onde me fêz lembrar o teu blog algum tempo atrás sobre as Mulheres Maldivas,onde Ilíria chama para uma responsabilidade a que não podemos eximir,Jairclopes diz que o mundo é medieval onde mulheres enfrentam brutalidade sexual, Laurus Loureiro repudia os xerifes do mundo e o Antonio pede para o papa "Francisco" manifestar seu repúdio com vemência a estes absurdos e nosso grande mestre pede para assinar o manifesto da Organização Avaaz onde já catalisou tantas petições vamos dar um fim a essa loucura. Parece que estamos na idade da pedra é inadmisível o que se passa na Arábia Saudita, as mulheres até prá estudar e abrir conta bancária e viajar precisem da aprovação do seu guardião.Nós mulheres vamos apoiar e contribuir para que nossas irmães do oriente conquistem seus direitos. 25 de novembro "Dia internacional de combate contra a violência da Mulher. Um forte abraço Ley.
ResponderExcluirO preconceito tem a idade da escrita, afinal já no livro dos livros, Deus é homem e fez o homem a sua imagem e semelhança, a mulher é simplesmente um pedaço do homem, para ser mais exato uma costela. Dogmas a parte, a igualdade de gênero está muito mais em nossas bocas do que no nosso proceder. Se vemos um rapaz namorador, todos exclamam; "Esse é garanhão!", se vemos uma moça namoradora vem logo o rótulo, "piranha", uma moça não pode andar com roupas mais curtas que já recebe a pecha de estar se oferecendo. Se uma mulher bonita alcança um cargo de destaque, a boca miúda lhe atribui o fato aos seus dotes e favores sexuais. E vai por ai a fora. E não sejamos hipócritas a proclamar que muita coisa mudou, pois muito mais ainda há de ser feito.
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