17. Desagravando empregadas domésticas

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1748

Esta terça-feira, extensa da manhã até encerrar-se com aulas de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa, quase 23 h, terá das 14h às 15h30min mais uma edição dos “Diálogos de aprendentes”. Na edição de hoje alunos de três turmas de ‘Saberes Escolares’ [Químicos, Físicos e Matemáticos] dos cursos de licenciaturas da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais dialogarão comigo em Porto Alegre desde sua sala de aula. A atividade é iniciativa da Profa. Dra. Christiane Cunha Flôr, em cuja banca de doutorado estive presente em dezembro de 2009, ela defendeu a tese: “Leituras e formação de leitores em aulas de Química no ensino médio”. Tenho muitas expectativas para este começo de tarde de hoje.

Pensara silenciar o assunto. Mas as repercussões são tantas. Aventuro-me a outra leitura. Nesta segunda-feira tivemos um muito bom exemplo de globalização: Sábado, Dominique Strauss-Kahn – DSK, como também é chamado – foi detido no aeroporto John F. Kennedy, em Nova Iorque, pouco antes de embarcar para Paris, sob acusação de abuso sexual contra uma camareira que teria ocorrido horas antes. Ontem as bolsas do mundo inteiro repercutiram o fato. A Wikipédia em português atualizou o verbete, trazendo o fato. Algo fantástico: um affaire de alcova, portanto de ordem estritamente particular, se faz publico e ganha uma hiper exposição. A cena de DSK algemado com as mãos as costas. entre dois militares foi mostrada a rodo. E não poderia ter sido uma armação contra um candidato colocado privilegiadamente como favorito para derrotar Sarkozy nas eleições de 2012? Já me excedi em comentários e hipóteses. Fim do assunto.

A blogada de hoje se faz com uma notícia de semana do inicio do mês. Delfim Netto – um dos mais poderosos ministros do governo militar – pede desculpas às empregadas domésticas, depois de chamá-las de "animais". Ex-ministro considera o episódio uma "tempestade num copo d'água"

O Instituto Doméstica Legal – representante 7,2 milhões de trabalhadores da categoria e de onde extraí os dois logos–, obteve um pedido público de desculpas do ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto, registrado em cartório, pela declaração feita pelo economista na TV a respeito deste profissional.

No dia 4 do mês passado, Delfim disse no programa "Canal Livre", da Rede Bandeirantes (clique para ver o endereço para assistir ao vídeo no you tube), que "quem teve este animal, teve; quem não teve nunca mais vai ter", em referência à empregada doméstica.

Delfim afirmou que "em momento algum desejou referir-se à classe das

empregadas domésticas de maneira pejorativa". O economista argumentou, em seu pedido público de desculpas, registrado no 8.º Cartório Tabelião de Notas da capital paulista no início deste mês, que a frase pinçada do contexto distorce a ideia elaborada.

Segundo Delfim Netto, a intenção foi mostrar que no processo de ascensão social em curso na sociedade brasileira, a figura deste profissional tende a desaparecer.

— É preciso entender em que sentido foi feito o comentário — disse o ex-ministro.
Em seu pedido de desculpas, Delfim justifica o emprego do termo "animal", usado pelo economista britânico John Maynard Keynes, criado durante a Grande Depressão, para descrever as motivações psicológicas de empresários, consumidores e investidores.

— Os economistas (eu, inclusive) usam corriqueiramente a expressão 'fazer nascer o espírito animal dos empresários' como forma de despertá-los para oportunidades de investimento e não me lembro de nenhum empresário que tenha se declarado ofendido ou humilhado.

No fim do pedido oficial de desculpas à categoria, Delfim Netto considera o episódio uma "tempestade num copo d'água", que ocorreu em razão do uso de uma expressão infeliz, pelo qual ele se penitencia.

Penso que podemos considerar no mínimo hilariante a autodefesa do ex-déspota das finanças brasileiras, ao dizer que ele dispensava as empregadas domésticas o mesmo tratamento que dispensa aos empresários quando diz que nestes precisa 'fazer nascer o espírito animal.

Prepotente uma vez, mesmo longe do poder governamental continua um czar, querendo fazer valer seu discernimento. Esta postura parece ser muito presente nos (ex-)poderosos.

Este assunto, como o de DSK, já rendeu. Encerro. Com votos de uma terça-feira muito boa a cada uma e cada um a expectativa de nos lermos amanhã. Até lá.