Porto Alegre * Ano 5 # 1736 |
Três notas prévias à edição de hoje, que apresenta o mesmo mote da blogada anterior: leituras acerca do Brasil, com os resultados do Censo de 2010 recém divulgados.
a) errei: mais de uma vez já tenha referido, aqui, que uso ao escrever mais de um dicionário (Priberam, Houaiss, Aulete – nesta ordem), erros são inevitáveis. Na blogada do dia 3, terça-feira, ao referir-me ao carnaval de alguns estadunidenses ao anúncio da morte de Bin Laden escrevi: No mais, a festa não foi diferente daquela em que bandidos comemoram o botim. Na verdade laborei em um equívoco. Botim é um tipo de bota. Queria estar me referindo a butim: Conjunto de bens tomados ao inimigo. = despojo, espólio, presa. Produto de roubo = pilhagem.
b) Parece que título chama visita, não necessariamente leitores. Ter Bin Laden na manchete na edição desta terça-feira aumentou muito a visitação ao blogue e também os comentários. Houve, uma duplicação em relação a edição em homenagem a Ernesto Sabato, por exemplo. Este elevado pico, não significa necessariamente que todos que acessam a página a leem. Sabemos quando estamos tarrafeando na rede, que muitas vezes desprezamos peixe miúdo.
c) Podemos, às vezes, até observar que temos poucos leitores, mas há alguns que dão qualificação a um blogue. Recebi mensagem da Prof. Dra. Cristhiane Cunha Flõr, em cuja defesa de tese de doutorado estive na banca: Toda terça feira, em minha turma de Saberes Químicos Escolares [Licenciatura em Química da Universidade Federal de Juiz de Fora], a primeira atividade é abrir seu blog e comentar o post do dia. Hoje, fizemos uma articulação entre o post sobre a morte de Bin Laden e aquele sobre a tragédia do Realengo. Ambos nos mostram o sensacionalismo com que nossa imprensa trata os fatos. Inspirado na experiência de Osório com ‘Diálogo de Aprendentes’, narrada neste blogue e que teve segunda edição no último sábado, a Cristhiane programa uma sessão com seus alunos.
Como anunciei, continuo, como ontem a olhar os primeiros resultados do censo, recém-disponibilizados pelo IBGE. Permiti-me aditar duas charges.
Crescimento desacelera, e urbanização é recorde. Aumento do número de habitantes é o menor da história: 1,17% ao ano.
A proporção de pessoas vivendo em cidades no Brasil já supera a observada nos Estados Unidos, que é de 82%. As equipes do Censo 2010 visitaram 67,5 milhões de domicílios em 5.565 municípios, de 1º de agosto a 31 de outubro. Entidades de gays, negros, umbandistas e candomblecistas fizeram campanha para que mais pessoas se declarassem como sendo desses grupos.
Na última década, a população brasileira cresceu mais devagar, em direção às regiões Norte e Centro-Oeste e rumo às cidades médias. Dados do Censo 2010, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que o crescimento do número de habitantes é o mais baixo da história: 1,17% ao ano, em média, entre 2000 e 2010. O país tem hoje 190,8 milhões de habitantes.
Segundo Ana Amélia Camarano, demógrafa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Brasil segue uma tendência "já esperada" de desaceleração do crescimento populacional, observada nos países desenvolvidos, e terá, a partir de 2030, declínio do número de habitantes.
URBANIZAÇÃO RECORDE A urbanização do país atingiu taxa recorde em 2010, de 84,4%. Mas o ritmo de crescimento dessa taxa também começou a diminuir, uma vez que, como ressalta Camarano, a população rural já é pequena e não há mais grandes contingentes para migrar para as cidades.
A proporção de pessoas vivendo em cidades no Brasil supera a observada nos Estados Unidos (de 82%, de acordo com o Cia Factbook).Na China, que também acaba de divulgar um censo, a parcela está em 49,7%. Na Índia, essa fatia é ainda menor: 30%.
OPORTUNIDADES: O maior crescimento das regiões Norte (2,09%) e Centro-Oeste (1,91%) se explica, em grande parte, pelas novas oportunidades de emprego, especialmente no agronegócio, segundo avaliação de Eduardo Pereira Nunes, presidente do IBGE. "Dessa forma, observa-se crescimento urbano nessas regiões, e não na zona rural", completa Nunes.
O Censo 2010 também mostra que são as cidades médias -de 100 mil a 500 mil habitantes- que ganham mais participação na população do país. Já as pequenas (com até 10 mil habitantes) e as grandes (acima de 5 milhões) reduzem sua participação.
A região Sul, que desde 1970 apresentava expansão populacional de cerca de 1,4%, foi a que menos cresceu na última década (0,87% ao ano).
Como a divulgação dos resultados será ao logo de todo este ano e também no ano que vem, restam-nos muitas expectativas. Aguardemos encharcados com desejos de uma muito boa quinta-feira.
Attico,
ResponderExcluirindependente do Censo, é inegável que houve uma mudança de postura no país. Particularmente, uma das mudanças principais foi nossa situação perante o FMI e o Banco Mundial.
Lembro-me como era preocupante a dívida externa e as ameácas de seu não-pagamento. Há quanto tempo não ouvimos falar dessa dívida? é um começo, mas ainda se tem que caminhar muito para que seja suficiente.
Abraços,
Caro Chassot,
ResponderExcluirhoje comento a primeira charge: sempre tenho defendido a tese de que na multiplicidade de informações o risco maior é não informar nada. A comunicação, na sociedade contemporânea, tem se tornado um desafio cada vez mais complexo. Multiplicam-se os meios, crescem os conteúdos, mas a "interatividade comunicacional" com o "tu" é muito baixa. Em suma: informa-se muito, comunica-se pouco.
Como professores(as) sabemos quando uma turma está ou não "entendendo" a nossa aula. Assim é na sociedade como um todo. Estabelecer o "link" (que aquele deputado não me censure o estrangeirismo) com o público é o desafio mais complexo que existe.
Boa quinta-feira, caro colega!
Garin
http://norberto-garin.blogspot.com/
Caro Chassot,
ResponderExcluirO que esses números expressam de mais preocupante é, justamente, a densidade urbana. É impensável prever-se o que será daqui a 20 anos, por exemplo, a circulação de pessoas e veículos nas nossas grandes cidades. É fácil até para o observador leigo verificar que não há mais espaço nas cidades, aqui em Floripa, cidade de médio tamanho, já é possível ficar entalado no trânsito nas horas de maior movimento. Não há planejamento que dê conta de tanta gente tantos carros e as mesmas ruas e vias de sempre. Chegará o dia que numa cidade como São Paulo o trânsito estancará de tal forma que ninguém vai conseguir se mover, será o produto final desse crescimento urbano desordenado, quem viver verá. Abraços e parabéns por mais um post de alto nível.
Meu caro Paulo Marcelo,
ResponderExcluirrealmente: houve nos governos do presidente Lula, diminuição da pobreza. Agora, há um projeto maior e mais audacioso da Presidente Dilma: erradicar a miséria.
Oxalá tenhamos (aqui o plural não é majestático) sucesso.
Agradeço o privilégio de ter como dos primeiros leitores de cada dia.
Com admiração
attico chassot
Meu caro colega Garin,
ResponderExcluirsabemos em aulas, em palestras (e os pregadores em sermões, mesmo que lidem com auditórios heterogêneos) quem está ligado em nossa fala e quem não. Há alguns que de uma maneira menos ‘cristã’ conscientemente deixamos fora (talvez dizemos para nós mesmos que não vale dar milho para quem não tem dentes. Não é sem razão que em uma palestra elegemos dois ou três do auditório que são ‘concordinos’ (= burrinhos de presépio) e passamos a falar para eles. Se quiserem desarmar-me como palestrante é só menear a cabeça negativamente.
Obrigado por te fazeres comentarista aqui,
attico chassot
Muito estimado Jair,
ResponderExcluirtu lembras quando as cidade se orgulhava de seu crescimento? Viva, ultrapassamos Cacimbinhas! A meta agora é superar Curralinhos! Quanta estultícias!
Quiséramos que linda Floripa diminuísse e não aumentasse. Não quero ser profeta do apocalipse mas a imobilidade urbana é uma dura e muito próxima praga que paira sobre as urbes. Hoje há estudos acerca dos privilégios de não se precisar deslocar mais que 300 metros para as tarefas cotidianas.
Obrigado pelo privilégio que das a este blogue como tão objetivo e crítico comentarista.
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirnão fala que essas pessoas são "burrinhos de presépio": me deu pena delas. São tão importantes para nossa afirmação!
Certa vez, numa banca, um colega meu estava procurando fazer o melhor desempenho possível e uma pessoa da banca sacudia a cabeça negativamente (e de forma insistente). Quanto mais ela meneava a cabeça mais ele procurava argumentos para convencê-la. Não adiantou.
Quando ele saiu estava arrasado: acho que dessa vez eu fui...disse ele.
Quando foi publicado o resultado ele tirou a nota máxima. Mais tarde ele descobriu que a pessoa tinha uma doença que a fazia menear a cabeça constantemente.
Um abraço,
Garin
Meu caro mestre Garin,
ResponderExcluir¿pode ter algo mais mimoso que ser ‘burrinho do presépio’? Só ali fazendo bafo para o menino.
Tenho uma história parecida contigo em prova didática para concurso no Instituto de Química. O meu honorável membro da banca, um pouco surdo, fazia de vez um meneio que não estava entendendo. Imaginas o pobre candidato, que só depois veio a saber da deficiência auditiva.
Essas blogadas também tem servido para amealhar histórias.
Um bom saldo de quinta-feira
attico chassot