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segunda-feira, 28 de março de 2011

28.- A Edmar Galiza, os louros!

Porto Alegre * Ano 5 # 1698

Cheguei à Morada dos Afagos quando já era segunda-feira. A viagem teve dois momentos: à tarde tivemos como na ida a fidalguia do casal Iraci – ela uma vez mais hábil motorista – e José Luiz no percurso dos 300 km de Bonito a Campo Grande. Tivemos ainda cortesia dos mesmos nos recebendo em sua casa e depois nos levando ao aeroporto. O segundo momento foi a vigem Campo Grande/ Curitiba/Porto Alegre.

Este dia depois do Bonito Mato Grosso do Sul tem três turnos no Centro Universitário Metodista do IPA. Pela manhã tenho aula de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa, para a turma de Música; à tarde, o meu encantamento da semana: aula na Universidade do Adulto Maior; à noite a minha sexta e última aula inaugural na abertura do ano letivo, que se faz festivo pelo 50tenário, para o Colegiado Ampliado das Engenharias, Tecnologia e Artes do Centro Universitário Metodista do IPA, no auditório do Campus do DC Shopping, onde tentarei responder: O que é Ciência afinal?

Teria muito a contar acerca de ontem, quando pela manhã, a Gelsa e eu, dentro da associação de nossas atividades na quinta e sexta-feira na UFMS estendemos um fim de semana turístico em Bonito. Fizemos um lindo passeio no Balneário Municipal. A ‘nossa praia’ como dizem os bonitenses, para quais o mar está a cerca de 1.000 km.

Foram novos momentos inenarráveis como flutuar em meio a cardumes de piraputangas, algumas com cerca de 40 cm. Este é um peixe que vive em cardumes e se alimenta principalmente de matéria vegetal (frutos, flores e sementes) e, mais raramente, de pequenos animais (crustáceos, peixes e insetos). A Piraputanga é muito apreciada na culinária, pois sua carne é saborosa e, quando cozida possui uma coloração avermelhada.

Na adição que realizei ao meu currículo de emoções significativas devo acrescentar outra: pela primeira fotografei e filmei com uma câmara subaquática, numa operação de mergulho. O Lissandro, um gaúcho de Vacaria, há muitos anos profissional da área do comércio e do turismo em Bonito, foi um excelente professor no ensino de técnicas de mergulho. Trago hoje apenas uma amostra de fotos da manhã de ontem. Em outro momento, provavelmente, editarei aqui a minha mais original produção: um vídeo subaquático que produzi.

Agora, evoco a seguir o poeta maior da língua portuguesa: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta // Que outro valor mais alto se alevanta?” A um assunto maior pautado para hoje, traduzido na manchete desta segunda-feira chuvosa.

Para mim é significativo um registro: hoje, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos o Edmar Galiza defende sua dissertação de mestrado: A ESCOLA EM CENA: JOGOS DRAMÁTICOS NAS AULAS DE TEATRO. Ele é orientando da Prof. Dra. Gelsa Knijnik e fazem parte da banca as Professoras Doutoras Maura C. Lopes (Unisinos) e Claudia G. Duarte (UFSC).

Mesmo tendo acompanhado à distancia do denso trabalho do Edmar, encantou-me o trabalho que envolveu esta produção, da qual trago o resumo:

A dissertação tem por objetivo analisar os jogos de linguagem praticados por alunos das séries finais do Ensino Fundamental, ao criarem jogos dramáticos nas aulas de teatro. A pesquisa serviu-se de ferramentas teóricas provenientes do pensamento de Ludwig Wittgenstein, mormente de sua obra Investigações Filosóficas, tais como jogos de linguagem, semelhanças de família e formas de vida; também das teorizações de Michel Foucault, como discurso e jogos de verdade; igualmente, serviu-se das formulações de Jean-Pierre Ryngaert sobre jogos dramáticos. Do ponto de vista teórico, a dissertação mostrou ser possível articular consistentemente as noções de jogos de linguagem, jogos de verdade e jogos dramáticos, vinculadas a esses três pensadores. O material de pesquisa analisado consiste em quatro jogos dramáticos que foram videografados e posteriormente editados assim como anotações a partir de observações feitas em diário de campo. O exercício analítico realizado mostrou que o teatro produzido na escola está submetido à racionalidade da maquinaria escolar, isto é, o teatro que é praticado na escola é, efetivamente, o teatro da escola. De modo específico, o estudo mostrou como, em um dos jogos dramáticos criados pelos alunos, os personagens gays foram submetidos a humilhações, o que deu visibilidade a suas atitudes homofóbicas.

A trazida de excertos dos agradecimentos que o mestrando faz na abertura de sua dissertação, se faz como homenagem de meu encantamento de um trabalho significativo.

Agradeço muito, a muitos!

A materialização desta dissertação só foi possível porque percorreu diversos caminhos, entrou em labirintos e se desviou por vários “becos”. A potência do caminhar estava no encontro com as pessoas, no contato com as pessoas. O encontro na academia se torna interessante a partir das alianças produtivas que fazemos na “companhia daqueles que seguem “o mesmo caminho”. Agradeço a todas aquelas pessoas que me ajudaram e ajudam a potencializar o pensamento e a própria vida. A estas, meu MUITO OBRIGADO!

Passo agora a nomear em especial aquelas e aqueles que no andar fizeram a “alma e a carne” vibrarem na “passagem”, no percurso.

À minha orientadora, professora Gelsa Knijnik, pela escuta, pelas preciosas sugestões, pela generosidade intelectual, pelo rigor da escrita e pelos “enquadramentos”. GK é como um “alquimista” porque ela pega uma “fumaça” de ideia e arranca dali uma potência de pensamento. Só que ela faz isto à força, inquietando o espírito e os próprios pensamentos, mas sem esquecer-se do conforto e da paz do silêncio. GK é vibrante, uma mulher cheia de vida que vem me presenteando com marcas que vão ecoar por muito, muito, muito tempo.

[...]

À minha mãe, Odete Galiza, mulher negra que, embora escreva mal e mal saiba ler, acreditou que a educação pudesse ser mais do que um ato de “ensino-aprendizagem”. Ela sempre acreditou que a educação pudesse ser um grito de liberdade.

Por isso dedico esta pesquisa a toda a minha família porque, mais do que uma conquista pessoal, esta dissertação é uma conquista coletiva, familiar. A minha passagem pelo mestrado foi um movimento para “denegrir”, para tornar um pouco mais negra a paisagem da pós-graduação deste país, um lugar em que, infelizmente, poucos negros e negras têm a possibilidade de estar, uma barreira difícil de ser passar. Porém, cá estamos.

Grato à vida!

Nesta menção, associo-me aos que desejam ao Edmar, os louros! Esta manhã, estarei muito na torcida.

Nesta vibração, meus votos de uma muito boa segunda-feira a cada uma e cada um. Um convite para nos lermos amanhã, aqui.

6 comentários:

  1. Bom dia Professor!
    Encantada com as imagens de Bonito, mas mais encantada ainda com as palavras do Edmar quando agradece sua mãe:"mulher negra que, embora escreva mal e mal saiba ler, acreditou que a educação pudesse ser mais do que um ato de “ensino-aprendizagem”. Ela sempre acreditou que a educação pudesse ser um grito de liberdade."
    Assim percebemos que não é necessário muito estudo para se ser sábio!
    Uma ótima segunda ao senhor também!

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  2. Não posso deixar de comentar suas viagens mestre!
    Esta de visitar lugares lindos como Bonito é bonito demais...o mergulho é algo maravilhoso...admiro muito teu trabalho como 50 anos de professor, mas admiro muito tambem que voces viajam a tantos lugares maravilhosos, continuada admiração pela Gelsa e voce....
    Elzira.

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  3. Muito querida Thaiza,
    tens razão: a sabedoria de dona Odete Galiza, mulher negra que, embora escreva mal e mal saiba ler, é mais linda que as bonitas imagens de Bonito.
    Com admiração
    attico chassot

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  4. Elzira querida,
    às vezes quando detalho minhas viagens me pergunto: não estarei me ‘exibindo’. Todavia penso em leitoras queridas como tu que viajam um pouco junto.
    Um afago com muita admiração,
    attico chassot

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  5. Professor Áttico, o dia de hoje se fez e se faz muito emocionante para mim. 1) A defesa da minha dissertação de mestrado... 2) Tão importante quanto a própria defesa, foi a presença de muitos amigos: ex-professores, alunos, colegas de segundo grau, amigos, colegas de trabalho e amigos, muitos amigos presentes. 3) Os amigos que não estavam presentes e que mandaram muitas mensagem calorosas e energias positivas.
    E sem contar com esta sua blogada especial.
    Muito grato pelo acompanhamento que o senhor teve comigo e com o trabalho.
    Ah, ontem fui buscar um "Presente" para o senhor: uma cuca de linguica. Espero que goste.
    Brigadão.
    Obs.: foi muito boa e tranquila a banca desta manhã chuvosa.

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  6. Muito querido Edmar,
    que bom que tudo correu bem. A Gelsa me narrou do público e de teu desempenho. Há dias vinha curtindo esta edição do blogue.
    Estou chegando de proferir uma aula inaugural no IPA do DC shopping. Ao retornar já prelibava a ‘tua cuca de linguiça’ que vou saborear agora com um copo de vinho em tua homenagem e ao importante título acadêmico que hoje te é outorgado.
    Com estima e admiração
    attico chassot

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