Porto Alegre * Ano 5 # 1701
Porto Alegre * Ano 5 # 1701
Eis nos no ocaso do primeiro trimestre de 2011. Não termina um março qualquer. Termina o mês que fiz comemorativo de meu 50tenário de professor.
Antes de comentar esse março especial, algo irritante da noite de ontem. Tentávamos, Gelsa e eu, ver algo da despedida que o Brasil comovido prestava ao ex-Vice-presidente José Alencar em um canal de TV fechado. Era impossível. Um repórter, quase tão imbecil quanto o Bial, papagaiava sobre as cerimônias religiosas impedindo que se ouvisse as falas e os cantos dos atos de ‘encomendação do corpo’. Ele se achava mais importante que os bispos e repetia inúmeras vezes obviedades como a Presidenta Dilma e o ex-Presidente Lula já chegaram de Portugal (quando se via os mesmos na cerimônia). A cada minuto repetia que ‘amanhã o corpo será levado a Belo Horizonte’; ‘amanhã haverá velório no Palácio da Liberdade’; ‘às 14h o corpo será cremado em Contagem’. Enfim um desrespeito aos telespectadores que tiveram frustrada a tentativa de assistir às exéquias do pranteado morto.
Mas deixo de lado minha irritação. Foi muito bom compartir com meus queridos leitores os dulçores de finalizarmos juntos, no histórico 13 de março o Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto e ter submetido a publicação um volume de quase 380 páginas viajando por 51 capítulos, iniciados com os anos de 1961 a 2011. Isto foi para mim um feito memorável. Também evocamos a minha primeira aula em 13 de março de 1961 e depois, em tempo presente, vivemos as inaugurações das atividades letivas no Colégio Santa Emília em Olinda, na FURB de Blumenau em duas situações: à tarde no Mestrado e à noite nas Licenciaturas, na Universidade do Adulto Maior, na Unicamp, na licenciatura integrada de Física e Química, na UFMS no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e nesta segunda-feira para alunos de sete cursos no DC Shopping do IPA.
Também nesta abertura do 51º ano letivo trouxe repetidas vezes comentários de uma nova disciplina que ministro: Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa que ministro para alunas e alunos de licenciatura em Música, Educação Física e Filosofia. É acerca desta experiência que queria contar um pouco, quando este blogue, que ás vezes é diário de um viajor (como quando no mês passado narrou sete dias em Nova York ou no fim de semana em Bonito) em outros momentos é cátedra de História e Filosofia da Ciência como quando há poucos dias, durante uma semana celebramos o centenário da descoberta do núcleo atômico ou como ele é mais frequente, como hoje, diário de um mestre escola.
A disciplina tem como ementa: “aborda as diferentes escolas em teoria do conhecimento e filosofia da linguagem, discurso e comunicação. A teoria dos ‘atos de fala’ e os processos comunicativos orientados ao entendimento mútuo. A teoria da ação comunicativa e seus críticos. A linguagem como entendimento e condição de possibilidade da experiência educativa. Deliberação e processos democráticos de tomada de decisão. Comunicação, ética e práticas educacionais”.
Durante três encontros estamos trabalhando o texto, que está assim referenciado:
CHASSOT, Attico. Dialogo de aprendentes, in MALDANER, Otavio Aloisio (Organizador); SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos (Organizador). p. 23-50 Ijuí: Ensino de Química em Foco Editora Unijuí, 2010, 368 p. 15 X 21 cm. Preço: R$ 55,00 ISBN 978-85-7429-888-7
O capítulo do livro referido é apresentado sob forma de um diálogo internético entre uma jovem aluna, que cursa a segunda metade do curso de licenciatura em Química e um professor que há muito se envolve com a formação de docentes para a área das Ciências da Natureza. O ponto de partida são interrogações que Maria Clara, uma jovem estudante de uma instituição no interior da Amazônia, faz para Giordano, um professor já mais experiente. Aqui termina a ficção.
O capítulo se constrói com uma produção real formada por mensagens, consultas e comentários no blogue que o autor do capítulo recebe. Nas respostas este traz seu ponto de vista, analisa postura de outros teóricos, recomenda leituras de textos e apresenta sugestões de como abordar determinados assuntos que envolvem uma alfabetização científica em um espectro muito amplo. Tudo está centrado em termos daquilo que é central no capítulo: ‘Educação científica para cidadania’. Há uma continuada troca entre a aluna e o professor. Ambos fazem tessituras com as aprendizagens de uma e de outro. Nessa troca de experiência o autor faz uma arqueologia de seus textos e postula uma expansão de fronteiras para Educação Científica e Alfabetização científica.
Os estudantes receberam o texto com bastante antecipação, pois tem 26 páginas e tal extensão de leitura não muito trivial para a maioria dos alunos. Em uma das aulas passei a seguinte tarefa individual, para ser apresentada por escrito na semana seguinte: elaborar um texto de no mínimo 20 linhas e no máximo 50, podendo escolher qualquer gênero: resenha, relato científico, crônica, poesia (ou cordel), história em quadrinho, carta, mensagem eletrônica, dialogo telefônico.
Na semana seguinte, cada aluno recebeu um dos textos produzido por outro colega com tarefa de lê-lo criticamente, e elaborar acerca do mesmo um parecer por escrito [Numa próxima edição talvez pudesse ser realizada esse passo como tarefa extraclasse]. Aqui foi aberto um espaço acerca de elaboração de um parecer com exigências como estar na 3ª pessoa do singular, marcado por possibilidades (não certezas) e que fosse decisivo para outro leitor como sugestão (ou não) de leitura.
Quando todos terminaram esta tarefa, passou-se a leitura de pareceres. Ao final de cada leitura o grupo decide, baseado no parecer, se deseja ouvir o texto. Invariavelmente, qualquer que fosse o parecer, há a decisão de conhecer o texto. Então se estabelecem discussões acerca do texto analisado e sua confrontação com o parecer.
É fácil inferir a riqueza dos debates tanto acerca de parecer de 5 linhas como das produções individuais um pouco mais extensas e também as correlações com o texto seminal proposto para responder detalhes da ementa como “teoria dos ‘atos de fala’ e os processos comunicativos orientados ao entendimento mútuo. [...] Deliberação e processos democráticos de tomada de decisão.”
É muito significativo registrar o quanto os meus alunos que estão fazendo estágio se identificam com as angústias e com as ousadias de Maria Clara, como eles envolvida com sua prática pedagógica.
Na manhã do próximo sábado, por Skipe, vamos tentar algo semelhante com os alunos de Prática Pedagógica III: Física no Ensino Médio na FACOS de Osório, orientados pelo José Fernando Cánovas de Moura. Eles estão trabalhando o mesmo texto.
Neste ocaso de março, foi muito bom partilhar este relato aqui. Agora o convite para nos lermos, mais uma vez aqui, na inauguração de abril. Até lá, no desejo que para cada uma e cada um ocorra o melhor.
Quem neste Brasil pode comemorar 50 anos de cátedra ainda em plena forma como mestre Chassot? Acho que bem poucos. Parabéns pela marca conquistada e continue nos brindando com seus excelentes texto, os quais nos motivam e animam.
ResponderExcluirPreclaro Mestre Chassot,
ResponderExcluirprimeiro aderimos às merecidas referencias ao seu jubileu de ouro como professor feitas pelo Jair Lopes – cujo blog que pensa conhecemos ontem aqui –. Mas estamos escrevendo porque nós nos sentimos roubados com as transmissões do 40, que o senhor com propriedade denuncia. É incrível como mesmo com saque que a NET nos faz a cada mês, tenham profissionais tão despreparados como os biais que abundam em alguns canais pagos.
Obrigado por ter sido a nossa voz,
Noemia e Rafael de São Paulo
Muito estimado parceiro Jair Lopes,
ResponderExcluirobrigado por teus afetuosos cumprimentos.
50 anos é uma história, mas estou com muita gana de ir adiante,
Vibro por juntos, usando este artefato pós-modernos que são os blogues, façamos alfabetização científica.
Com admiração por tua sólida produção
attico chassot
Muito estimada Noemia e muito estimado Rafael,
ResponderExcluirprimeiro obrigado por aderirem à atenciosa manifestação do Jair Lopes, a propósito de meu 50tenário.
Fico feliz que meu blogue tenha servido de ponte para o muito excelente blogue que pensa do Jair Lopes.
Quanto a NET, o dia que fizerem uma pesquisa do tipo qual a empresa que mais lhe aborrece, meu voto vai para ela.
O que já me incomodei por cobranças indevida daria uma blogada.
Quanto alguns repórteres de alguns canais da Globo é quase caso de lesa-inteligência. Vocês criaram um bom substantivo para eles: os biais.
Obrigado por tê-los como leitores,
attico chassot